Aproveitando o domingo, um grupo de sete comparsas resolveu passear junto ao mar. Juntando o útil ao agradável, muniu-se de dois ou três cartazes de protesto contra as portagens na Via do Infante, escolhendo para o passeio marítimo o local onde o 1º Ministro passa as férias(?).
Logo a RTP, serviço público, se apressou a chamar manifestação ao evento. O que teria dignidade duvidosa para ser mera notícia perdida no jornal da localidade, a RTP tornou acontecimento de relevância nacional, com largo tempo de reportagem e entrevistas a condizer.
No fim, arranjam-se sete amigos, promove-se um encontro e a RTP estará lá, a cobrir o acontecimento! Não vai? Mas então que é feito desse tão precioso critério informativo do passeio dos sete amigos do Algarve?
18 comentários:
Sabe, Pinho Cardão, os critérios jornalísticos tomam, também, em consideração "o cú a arder". Só pode!
Não li nem vi nada sobre este "evento", mas à primeira vista parece-me um ensaio de reprise do cartaz do Ministro Relvas, uma foleirice, não só porque demonstra a falta de imaginação dos promotores, mas também porque não pagar a via do infante é assunto encerrado, assim a importância dada ao assunto só pode ser mesmo pelos motivos que o caro Professor M. Cardoso aponta...
Caro Dr. Pinho Cardão,
Não vi a notícia, mas não me custa nada a acreditar que a sua descrição seja factual, fossem os manifestantes 7 ou 10; a irrelevância da notícia era evidente.
Mas já que gosta tanto de "malhar" na RTP, se se der ao trabalho de ir aos sites das outras TVs ou mesmo aos dos jornais mais ditos de referência (Expresso, Público) verá que todos eles dão relevo à "notícia".
Serão critérios jornalísticos muito discutíveis, será a fase da "silly season", mas a RTP "não "inventou a roda".
É claro que eu também tenho outro conceito sobre o que é Serviço Público, mas o que está mal é a qualidade jornalística geral, não a RTP.
Se esta não tivesse "lá ido filmar", outro blog estaria a clamar pela "escandalosa ocultação". Mas como pelos vistos as filmagens deram para contar os "numerosos manifestantes" apetece-me dizer que antes assim, quem quiser ver saberá tirar conclusões.
Caro Jorge Lúcio:
A questão é que a reportagem foi efectuada pela RTP, serviço público. Se a RTP segue os mesmos critérios de programação, ou de informação, das estações privadas, não se justifica enquanto serviço público.
Quanto ao número de "veraneantes", sete, foi a reportagem que o referiu. O que, só por si, atesta a qualidade do critério, ao chamar manifestação ao evento.
Caro Dr. Pinho Cardão,
Repito se necessário: concordo inteiramente consigo sobre a não-relevância da notícia.
Mas note que com a mesma reportagem, a RTP poderia ter feito Serviço Público; bastaria ter perguntado aos "protestantes" se o que defendiam era se os habitantes de Trás-os-Montes ou do Alentejo pagassem as portagens da Via do Infante.
Aliás, "mutatis mutandis" esta é a questão que me parece ficar sempre por fazer quando vemos as reportagens sobre o fecho das escolas com 2 alunos, ou das urgências com 1 atendimento por dia.
É uma crise, mais que económica é de valores. Com esta comunicação social que aproveita as latas do chão para fazer noticias, contribuindo apenas para o aumento de "lixo". Atos medíocres, que tomam conta dos desesperados.
Definitivamente, a qualidade das noticias deve ser melhor selecionada, senão, qualquer dia fazem disto uma palhaçada de mau gosto.
Quando escrevo "os habitantes de TM pagarem as portagens" naturalmente quero dizer "os contribuintes de TM pagarem-lhes a autoestrada"
Também assisti, Pinho Cardão. A bem da verdade todas as TV lá estavam a dar relevância a um absurdo a que chamavam manifestação. De qualquer modo revolta perceber que este serviço público paga-se com o nosso dinheiro. Dúvidas sobre o imperativo higiénico da privatização sem subterfúgios?
Privatizem a RTP!
Caro A. Pinho Cardão,
Eu tenho para mim que o um Serviço Público de Televisão é fundamental num sistema democrático ocidental no século XXI. Não tanto pelo carácter "de regime" que alguns sectores mais esquerdófilos lhe podem querer atribuir, mas mais por uma questão de estabelecimento de bitolas de qualidade, isenção e serviço pedagógico que não se subjuguem simplesmente ao critério do lucro publicitário fácil, estabelecidos os preços de blocos publicitários por sondagens de audiência cuja idoneidade fica também por apurar inteiramente.
Pensemos no Canal 2 da RTP, por exemplo. Que competitividade pode apresentar perante concorrência de baixa extracção intelectual? Teríamos tido o recém desaparecido Professor José Hermano Saraiva à cabeça dum programa daquela natureza? Teríamos acesso a artes de palco e a magazines culturais nos quais muitas vezes se discutem problemas de importância idêntica ou superior aos doutos painéis de comentadores dos canais noticiosos? Teríamos documentários como o que passou ontem à noite sobre o Tapete Persa, de João Mário Grilo, que inundou o lar de quem assistiu com um autêntico festim visual?
O Serviço Público de Televisão tem um lugar. Tem um posto. E os postos não se abandonam. Sobretudo quando há motim a bordo.
Abraço grande
João Monteiro Rodrigues
Caro Jorge Lúcio:
Acontece que não perguntou. Nem, em ocasião alguma, perguntou se os habitantes de alguns concelhos do interior têm que participar na subvenção dos transportes colectivos de Lisboa ou do Porto, quando por lá nem carreiras regulares têm.
Caro Ferreira de Almeida:
Dúvidas? Nenhumas.
Caro Der Wanderer:
Neste momento em que as tecnologias e o know-how televisivo se tornaram comuns, não há qualquer razão para manter uma empresa de serviço público de televisão. Mesmo que esse serviço público possa ser defendido pelo poder político, será de certeza muito melhor assegurado e muito mais económico através de uma concessão a empresas existentes. A concessão definiria o tipo de serviço, os objectivos, o orçamento, os meios à disposição, a natureza da programação.
Deu-me a inspiração para falar do asunto um dia destes.
Um lado importante da reflexão que deve ser feita, esta que traz João Monteiro Rodrigues.
Se bem a entendo, então a medida correta não seria a venda da licença do canal 2 como anunciado, mas a sua manutenção no domínio do Estado. A ser assim, nada impediria a alienação da licença do canal 1, salvo se se concluir que o padrão de qualidade para ser estabelecido, carece mais de um canal público.
Será isto assim, designadamente num contexto em que o "serviço público" medido pela qualidade dos conteúdos se nota mais nalguns canais (privados) do cabo (Discovery, Canal História, etc...) do que nos canais públicos?
Cruzou-se o meu despretencioso comentário com a resposta do Pinho Cardão. Aguarda-se pela testemunho de alguém que tem sobre muitos a vantagem da experiência. Um bom tema, este, sobre o qual tenho muitas, mas muitas dúvidas que todavia não afastam a ideia, essa segura, de que o Estado não precisa de 2 canais generalistas, e muito menos a falta de poder (e senso) editorial de que o post dá nota.
Concordo, não sou fundamentalista (em absoluto) dum modelo de propriedade pública e perdulária. Pelo contrário, parece-me bem contemporânea uma reflexão e estudo concreto, sobre a natureza substantiva do contratado, digamos assim, entre a RTP vendedora e a empresa ou consórcio que compre. Essa matéria contratual é fundamental para a valência ou não da venda dos canais públicos, sobretudo a RTP2, que cumpre um papel específico, perfeitamente balizado. São termos que, desconfio, farão correr ainda, e para bom resultado, muita tinta...
Curioso estou também para saber que sucederá à RDP, e aos seus Arquivos inigualáveis, como os da RTP, naturalmente.
Esperamos ansiosos, António P.C., esse texto que inspirei!
Abraço
Pois tam´bém ouvi dizer que a notícia era mesmo para mostrar que eram sete, o que levou o meu interlocutor a "suspeitar" de o canal público fazer o jeito ao Governo desvalorizando o descontentamento das populações! E que tal, há ou não há para todos os gostos?
Faz sentido, Suzana. Mesmo assim este sentido de serviço público, encostado ao velho conceito de "frete" em que se oleou a RTP é ainda menos agradável...
Sim, sim...basta ter ouvido a notícia, os comentários e todo o contexto da reportagem para negar esse frete. Que , a existir, seria lamentável também.
Todavia, o que irá acontecer é que essa manifestação dos sete, com muitas outras um pouco superiores, com as dos professores, etc, etc, irá ser aproveitada por comentadores e altos pensadores para "evidenciar" a contestação ao governo. Serem 7 ou 70.000 pouco interessa. Foi mais uma. Objectivo conseguido.
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