1. As indicações dos resultados da execução orçamental para os primeiros 4 meses do ano nos 3 países do Euro que se encontram sujeitos a programas de ajustamento mostram evoluções muito mais positivas na Grécia e na Irlanda do que em Portugal.
2. Começando pela Grécia, o défice da Administração Central foi de € 2,4 mil milhões, muito inferior ao do período homólogo de 2012 (€ 9,1 mil milhões) e bastante inferior ao esperado (€ 5,7 mil milhões).
Excluindo encargos com a dívida (défice primário) o défice cai para apenas € 300 milhões.
Este resultado fica a dever-se tanto a aumentos de receita como a reduções de despesa.
3. No caso da Irlanda, o défice global foi no mesmo período de € 6,1 milhões, inferior ao do período homólogo de 2012 (€ 7,1 mil milhões) e em linha com o projectado. Não tão positivo é o facto de as receitas fiscais terem cumprido o objectivo sobretudo à custa dos impostos pagos pelas empresas, uma vez que tanto o IVA como o IRS ficaram aquém do previsto.
4. A Irlanda prepara-se, de resto, para terminar o Programa de Ajustamento dentro de 6 meses (já cumpriu 10 avaliações, faltando duas) e prepara-se igualmente para o regresso ao mercado da dívida, apresentando nesta altura uma yield da dívida a 10 anos em trono de 3,7%.
5. E em Portugal? Aqui o cenário parece ser bem menos positivo, senão vejamos.
6. Em 1º lugar, e em grande medida graças à benemerente jurisprudência do TC, que continua fielmente ancorada á perspectiva, muito patriótica mas inteiramente fictícia, de que subsiste uma perfeita autonomia da política monetária nacional – não importa esta ter desaparecido há quase 15 anos – a despesa corrente da Administração Central voltou a subir significativamente em 2013, +5,1% nos 4 meses já corridos (+4,5% as despesas com pessoal).
7. Em 2º lugar, as receitas sobem, na sequência do forte e lamentável agravamento de impostos introduzido no OE de 2013, mas sobem apenas 2,5%, ou seja menos de metade do crescimento da despesa...
8. Em 3º lugar, a despesa primária (excluindo juros e outros encargos da dívida), em vez de crescer menos do que a despesa global como seria desejável, cresceu mais, concretamente 5,3%.
9. Em 4º lugar e como se sabe, a dívida pública ascendia no final de Abril a 127,3% do PIB, subindo fortemente em relação ao final de 2012 (123,5%); bem sei que há o equivalente a mais de 5pp do PIB em depósito no BdeP, mas no final do ano não haveria muito menos...
10. Apesar deste cenário que deveria preocupar-nos muito, o único discurso que se (já não) se consegue ouvir nos media, por parte de comentadores encartados, políticos profissionais, candidatos a autarcas, etc - com pouquíssimas excepções - subordina-se invariavelmente aos seguintes parâmetros: (i) precisamos de ais tempo para “cumprir” as metas do défice; (ii) há que ajustar para cima os objectivos do défice, quanto mais melhor; (iii) urge renegociar a dívida para pagar mais tarde e com juros mais baixos (se necessário “impondo” essas condições aos credores, é óbvio)...
11. ...e já nem falo nas propostas “meio-loucas”, como por exemplo a do muito afável Crescimentista-Mor, no sentido de reduzir o rácio de solvabilidade dos bancos nacionais (ia ser bonito, se o fizéssemos...) ou a dos Blocos variados, no sentido de abandonar o Euro, como se esta decisão tivesse um grau de dificuldade equivalente ao de tomar uma bica...parece que estamos, claramente, apostados em ficar para trás da Grécia!
22 comentários:
acabei de ler no prefácio de 1934 do livro
Luís Vieira de Castro; D. Carlos I
a incapacidade dos políticos portugueses, mesmo com muito esforço, verem mais que o outro lado da rua
Afinal em que ficamos. Afinal qual a orientação económica que o TM advoga? Da sua anterior postura de acérrimo defensor da austeridade e crítico contundente dos “crescimentistas” chegámos a um momento em que nem é “carne nem peixe, nem é coisa nenhuma”. Parece estar a refugiar-se “prudentemente” num certo distanciamento a tudo e a todos, se bem interpreto as suas mensagens actuais.
Seria útil para o país, para o governo, para os partidos, para o presidente da república, que este ilustre e sábio economista nos indicasse alguma estratégia económica para o futuro e não se limitasse apenas a constatar as evidências dos relatórios que vão saindo e a vociferar contra o “crescimentista-mor”, os comentadores encartados, políticos profissionais, candidatos a autarcas, etc”.
Caro Drº Tavares Moreira,
Se acontecer ficarmos atrás da Grécia só há uma explicação: é política. Por lá não faz política à caceteiro, ao bate e foge tão querida do nosso governo!... Estes batem em tudo e em todos: nos empresários, nas instituições, nos reformados, nos empregados, nos desempregados, no pai, na mãe...Chiça !, tarda a hora de os ver porta fora antes que dê sangue!...
Caro Dr. Tavares Moreira...
...pelos seus posts que continuamente defendem as politicas em curso e que criticam e zurzem os "crescimentistas insanos" devo deduzir que sim, que estamos a ir muito bem!
No entanto, olhando para isto:
"Dívida pública portuguesa atinge 132% do PIB em 2014, prevê OCDE"
(in:
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=636245 )
...é me muito dificil perceber onde está o "caminho de sucesso"! Confesso que tlvz eu seja demasiado leigo nestas matérias...mas á medida que os seus posts a louvar a politica em curso vão surgindo, facto é que a Divida é cada vez mais monstruosa!
Será a minha falta de conhecimento tecnico a falar, ou estamos mesmo perante uma incontonrnavel contradição ?
A diferença está que enquanto os gregos têm a pitonisa que lhes diz o que fazer, os portugueses têm...o Dr. Cavaco !
Não, o problema é que em Portugal apesar de todos os berros que estão a atacar a administração pública ela continua a crescer..
Em relação ao ponto 6 não percebo qual é a parte que o meu caro não entende que o TC não faz essa análise tão poética de esquerda! Interpreta apenas as leis `à luz da Constituição! Até o seu Passos Coelho já levou um puxão de orelhas em plena reunião daqquele coiso de Estado, convocado pelo outro coiso...
Caro Floribundus,
E admitir que conseguem enxergar o outra lado da rua, sobretudo em avenidas um pouco mais largas,já revela alguma boa disposição!
Caro Luís Moreira,
Faz mesmo lembrar a hidra das 7 ou 9 cabeças, da mitologia grega!
Quando lhe cortavam uma das cabeças, imediatamente nascia outra, exactamente sobre a ferida deixada pelo golpe!
caro Carlos Monteiro,
Lá vem o amigo com o velho e sebento catálogo da esquerda e da direita, só nos faltava mais essa!
Desculpe a franqueza, mas pouco me interessa se a jurisprudência é de esquerda ou de direita, desde que, como no subjacente, faça apelo fulcral a realidades extintas há muito!
Veja lá se consegue livrar-se dessas etiquetas, cujo odor já tresanda deveras!
ah agora é "crescimentistas" e "outros" não é?
Meu caro, nem a Constituição nem a Democracia estão suspensas, nem agora, nem em tempo de guerra e enquanto o meu caro não conseguir perceber isso, o meu caro e o Gaspar, não vai entender nada do que se passa na rua.
Caro jotaC,
Duvido que os gregos subscrevam sua benevolente tese...
Caro Tavares Moreira, o aumento da despesa com salários compara com 2012, em que os funcionários perderam 2/14 dos salários que foram repostos formalmente em 2013. A receita sobe porque esses mesmos salários repostos pagam impostos e a contribuição extraordinária que, na prática os anula e, nalguns casos, por excesso. Se a economia reage ou não de forma relevante a esta troca de colunas não sei mas para quem recebe os valores líquidos o resultado final não trouxe benefício nenhum. Ou seja, não percebo em que é que isso seja fundamento para estarmos a perder terreno, como parece. Mas realmente já é difícil perceber tantas decisões, contra decisões, contra contra decisões tudo misturado com comparações...
Fala-se em desperdício e racionalização de meios.
Mas haverá mais desperdício do que deixar 18% da população activa no desemprego e a apodrecer e enferrujar as maquinarias das empresas forçadas a encerrar?
Estes loucos economistas neoliberais estão a levar os países ao caos.
Cara Suzana,
Percebo bem a sua explicação e a sua dúvida, mas números são números e os que apresentei neste Post, em relação a Portugal, Grécia e Irlanda são indesmentíveis, consttam de relatórios orçamentais divulgados na pretérita semana...
Admito, todavia, que, como é hábito, só vamos dar conta da ultrapassagem pela Grécia, em matéria de cumprimento do programa de ajustamento e de transição para uma fase de recuperação económica, quando isso acontecer...
Até lá continuaremos (salvo seja, refiro-me à generalidade da classe política, aos inefáveis comentadores, aos grevistas profissionais, etc) cegos e surdos...mas não mudos, pois entregues aos mais incipientes exercícios verbais...
Cegos e surdos,estes loucos economistas neoliberais.
Conhecido é o erro de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff. Sem dúvida, uma vez descoberto este erro, em vez de pedir desculpas, Reinhart e Rogoff sustêm que o seu trabalho foi honesto e verosímil.
Mas como pode defender-se a honestidade de um trabalho cheio de falácias e de erros intencionais? Uma vez detectado o erro demonstra-se que não há nada de semelhante a um descalabro quando a dívida pública supera 90% do PIB, como concluiam Reinhart e Rogoff no seu falacioso relatório publicado em 2010.
O certo é que o relatório de Reinhart e Rogoff foi o principal instrumento para elaborar os planos de austeridade que hoje afundam a Europa. O pretexto era a dívida pública. Mas, pode ter importância a dívida pública num momento de um colapso como aquele em que vivem hoje as economias europeias? É mais importante ocupar-se, nestes momentos, de pagar a dívida ou de reactivar a economia?
O crescimento perdido...
http://notaslivres.blogspot.pt/2013/05/o-crescimento-perdido.html
Se até o Vitor Gaspar já se converteu ao "crescimentismo"... Isto está tudo perdido!
Caro Gonçalo,
É capaz de ser mais romântico e "fino" dizer " À la rechcer de la croissance predue"...é muito poético, soa a Honoré de Balzac e ainda tem um certo sabor, muito gavroche, a Crescimentismo à Hollandaise...
Caro Nuno,
O Crescimentismo, apenas enquanto estado de alma, não faz mal a ninguém, até assume contornos poéticos de grande beleza...
O problema muda de figura quando se transforma em modelo de actuação política...aí é capax de tudo, até foi capaz de nos arrastar para o mais tenebroso abismo financeiro, do qual nos abeiramos esplendorosamente na Priomavera de 2011, sob o comando fatídico do mais bravo e inconsciente dos Crescimentistas...
Caro Tavares Moreira,
A Grécia beneficiou de um perdão de divida de 50% e de redução de juros para 1%.
A Irlanda não optou por uma austeridade tão excessiva em 2011 e 2012 e 2013 o que permitiu manter a economia sem grande recessão e sem um desemprego tão elevado.
Caro Paulo Pereira,
O perdão de dívida concedido à República Helénica tem pouquíssimo a ver com este assunto, se me permite o ilustre Comentador...
Repare que eu refiro expressamente o saldo primário do orçamento helénico, praticamente equilibrado ao cabo dos 4 primeiros meses deste ano...e, no saldo primário, não existe qq reflexo do perdão da dívida, não é verdade?
Por outro lado, será que nos quereremos candidatar a um perdão de dívida como o da Grécia nesta altura dos acontecimentos?
Os cânticos de protesto de algumas centenas de indignados, que encheram as ruas das principais cidades do País neste week-end, incentivados por El Comandante M.S., sugerem fortemente essa promissora via...
...Meanwhile...
a realidade :
http://www.jornaldenegocios.pt/mercados/detalhe/juros_da_divida_portuguesa_sobem_em_todos_os_prazos.html
Caro Tavares Moreira,
Admiro a sua confiança nas estatisticas da Grécia.
Normalmente no final do ano o deficit acaba por ser uns 2% acima dos numeros postos a circular 6 meses antes.
Mais ou menos como a Espanha.
No caso Português o erro era quase sempre de 1% apenas.
Mas o erro crasso do governo de em 2012 aplicar uma austeridade excessiva, refletiu-se em perda receita em 2012 e 2013 e aumento da despesa com desemprego.
Acho que os ministros das finanças deviam fazer uns testes escritos de macroeconomia antes de serem nomeados.
Caro Paulo Pereira,
Bem sei que o Senhor, tal c omo eu, exclui a possibilidade de vir a ser Ministro das Finanças (infelizmente para Portugal)...
Mas recomendo-lhe cuidado com essa sugestão do teste de (macro)economia, como condição de nomeação para tão altas funções - não vá "o diabo tece-las", como se usa dizer...
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