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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sal...



Esta coisa da hipertensão arterial é uma chatice. Aliás, a velhice só traz aborrecimentos, bom, nem sempre, mas é muito mais atreita a tal, é dependente de coisas que souberam e continuam a saber bem, por vezes até bem de mais. 
Convencê-los de que devem tratar-se é complicado e se lhe reduzirmos o sal então é uma tragédia. Ai isso não, isso é mesmo que matar-me! Não consigo comer sem sal, o senhor doutor o que quer é matar-me. Não quero nada, quero apenas ajudá-lo. Mas como? Comer sem sal? Não consigo, é impossível. Convencê-las, sim, falo no feminino, porque "elas" são mais complicadas, é muito difícil, para não dizer que é quase impossível.
Sempre tive enorme apetência para o sal. Lembro-me de levar pequenas pedras de sal escondidas para as saborear no recreio da escola. Roubar pequenas lascas de bacalhau salgado, pendurado do teto na petroleira lá do sítio, era um desafio fascinante, claro que a dona devia fechar os olhos a este atrevimento, mas chupá-las e comê-las em seguida provocava-me um prazer estimulante que me ajudava a emborcar o almoço ou o jantar com mais vontade. Lembro-me de um tio que, num ritual muito próprio, exigia sal em frente dos pratos. Com a faca ia-o alinhando a partir do montinho. Em seguida, com uma pequenina colher de café, metia-o, a pequenos trechos, na boca entre as colheradas de sopa e as garfadas do segundo. Fazia-o com tanta distinção e categoria que ainda hoje me fascina este quadro. Claro que deveria saber-lhe bem, mas eu, mesmo assim, preferia as lascas de bacalhau salgado. Ele primava pela elegância e eu pela boçalidade.
O sal é indispensável à vida, mas comemos em demasia, quantidades que acabam por encurtar a nossa existência. O que o sal provoca é uma pura adição, tão forte que os bebés adoram mamar em tetas ricas em leite com sal. A loucura pelo sal ocorre em todas as idades. O conhecimento deste facto leva muitos industriais a enriquecer os seus produtos com sódio, não porque necessitem do mesmo para os conservar, mas apenas para atrair os dependentes levando-os a consumir mais os seus produtos. Tal como uma droga, quanto mais sal comermos mais sal queremos ingerir. 
Aqui está a razão de ser da ingestão excessiva do sal, quando se ultrapassa o limiar das nossas necessidades passamos para o campo da adição, a qual é muito bem aproveitada pelos industriais que vivem através da boca do próximo.
Pois não! Negócio garantido, mais sal nos alimentos, mais consumo e mais lucro. Quem não lucrava muito com isso era a petroleira lá do sítio, ficava com os bacalhaus um pouco ratados, mas nunca se importou com isso. Pelo menos nunca se queixou, até, porque, andava sempre com lascas de bacalhau salgado nos bolsos da velha e suja bata a cheirar a petróleo...

1 comentário:

Bartolomeu disse...

O fulano que descobrir a forma de retirar do sal o que provoca o endurecimento das artérias, mantendo o sabor, fica mais rico que Bill Gates.
No entanto, o sal já foi moeda de troca com um valor bastante alto.
Quem sabe, voltará a sê-lo.