Já aqui confessei as minhas muitas (e graves) limitações para perceber análises e prognósticos sobre a economia e as finanças nacionais. Irrita-me esta falta de conhecimento que é responsável, por exemplo, por não entender a solução do PS para o problema da falta de crescimento e de emprego, para a consolidação das contas públicas ou para o endividamento crescente numa situação em que a riqueza nacional continua a ser insuficiente para alimentar o Estado que temos e ao mesmo tempo impulsionar a economia que não aproveita de recursos que, pela via fiscal, continuam a ir direitinhos para os cofres públicos.
Hoje, porém, o porta-voz do PS para estes assuntos, na sequência do encontro com os senhores da troica, abriu-me os olhos. Se bem percebo, o PS sendo contra a austeridade não é contra o ajustamento. E não sendo contra a necessidade do ajustamento, logo, pela austeridade, o que distancia afinal o PS das políticas impostas pelos credores? A velocidade. A velocidade do ajustamento, cujos limites, diz Brilhante, foram ultrapassados pelo governo.
E então, pergunto eu, ignorante, a Brilhante: se abrandarmos a velocidade do ajustamento que pelos vistos é necessário, designadamente se não diminuirmos a despesa pública enquanto ela for bem superior à receita (não sendo mais possível aumentar o volume desta), não teremos de nos continuar a endividar para financiar o deficite? E essa dívida é mais virtuosa do que aquela que nos obriga a todo esse esforço? Ou a preocupação do PS pelo endividamento e pelos ónus que impõe tem, afinal, dias?
14 comentários:
Não conheço o pensamento do Brilhante, nem mesmo dos opinadores do PS...mas deixo-lhe uma referencia que poderá ajudar a entender a parte da "velocidade excessiva":
http://pt.wikipedia.org/wiki/Curva_de_Laffer
ou seja: "(...) aumentando as alíquotas além de certo ponto torna-se improdutivo, à medida que a receita também passa a diminuir. "
No caso portugues, é possivel confirmar isto na realidade fiscal recente...onde o aumento de impostos não originou nenhum aumento de receitas. (são varios os indicadores e numeros já publicados que o comprovam).
Se ainda assim for dificil entender, podemos usar um exemplo no limite do absurdo, que ajuda a compreender a questão:
- Todos os tratamentos por quimioterapia/radioterapia são doseados e faseados...porque aumentando a dose de radiação do tratamento, não cura, antes pelo contrario irá matar o paciente.
Se as opções e politicas financeiras/economicas do PS são as correctas...não faço ideia, nem tenho conhecimentos ou formação para o dizer...
...mas ainda consigo ajuda-lo a perceber o detalhe das "velocidades"...e num instantinho!
espero ter ajudado.
falando sobre a "consolidação das contas públicas."
Em dois anos Passos Coelho endividou o país em 35% do PIB, mais do que em todo o período de 1981 a 2007. Em pouco mais de dois anos fez regredir o país em mais de 10.000 milhões de euros, cerca de 7% do PIB, situação nunca antes verificada em Portugal.
Se bem compreendo, insiste o governo e os seus apoiantes no caminho da austeridade para o país sair da crise, isto é, para o país sair da austeridade.
Trocando por miúdos, é preciso mais austeridade para, precisamente, o país sair da austeridade.
E Passos Coelho parece ser o homem mais convicto do mundo quando proclama um tal absurdo. Mas, como temos verificado nestes últimos tempos, nada será de estranhar uma vez que o absurdo, o inverosímil, não tem constituído qualquer obstáculo ao dogmatismo neoliberal.
Para quem acha o "bom senso" subjectivo...é natural que para "abrilhantar" o Brilhante venha com o dito e que F. de Almeida muito bem assinala.
O bom senso reina em todos, mas pode não ser exteriorizado por todos; e reina em todos porque o bom senso é compreendido por um largo número de interlocutores...coisa que o Brilhante não sabe, porque acha que é subjectivo (interno).
É bom senso saber que num Estado que deve...o devedor sujeita-se ao credor, mas...o Brilhante não sabe desta regra de bom senso que todos os devedores na vida real sabem. Não sabe porque é, para o Brilhante, uma regra íntima, interna, interior...;
O aumento da dívida no tempo de Passos serviu para pagar as contas do governo de Sócrates e, quanto so déficite, baixou cerca de 10 mil milhões.Sócrates entou com 62% de dívida e saiu com 90%. Se lhe juntar as dívidas que estavam fora do circulo da dívida, chegamos à conclusão que Sócrates fez mais dívida que todos os PM somados desde Cavaco
“as dívidas que estavam fora do circulo da dívida”
A Comissão (Eurostat) recebe das autoridades estatísticas portuguesas informações sobre a dívida global bruta do sector da administração pública, que inclui a dívida da administração central, regional e local e da segurança social. O Eurostat recebe também das autoridades estatísticas portuguesas informações anuais regulares sobre as parcerias público-privadas classificadas no sector da administração pública. No entanto, não estão disponíveis informações sobre as parcerias público-privadas classificadas como elementos extrapatrimoniais da administração pública. A Comissão (Eurostat) não dispõe de informações completas sobre a dívida das empresas públicas (detidas pela administração pública, central ou local).
A Comissão (Eurostat) entende a expressão «dívida pública indirecta» como a dívida das empresas públicas. Embora a Comissão tenha conhecimento da existência desses dados e acolha favoravelmente a sua publicação, tais dados não são, por agora, recolhidos nem validados pela Comissão. No futuro, e impreterivelmente a partir de Janeiro de 2015, a Comissão (Eurostat) estará em condições de publicar a dívida de empresas públicas (bem como as garantias governamentais e as parcerias público-privadas extrapatrimoniais) por força da Directiva 2011/85/UE sobre requisitos aplicáveis aos quadros orçamentais dos Estados-Membros.
A dívida pública subiu de 35% de 2010 a 2013, situando-se hoje nos 134% do PIB, sem nela estar considerada a dívida pública das empresas públicas e das parcerias público privadas (PPP), ao que se chama dívida pública indirecta e que em 2012 correspondia a cerca de 15% do PIB. Contudo, se contarmos com o endividamento garantido pelo Estado em nome dos bancos (passivos contingenciais) o endividamento indirecto ascende a 30% do PIB. Uma autêntica bomba-relógio no parecer da Standard & Poor's.
No princípio do ano, a "dívida escondida" de Portugal valia 15% (cerca de 25 mil milhões de euros) do produto interno bruto (PIB), disse na altura o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Curiosamente, também eu me queixo do mesmo, caro Ferreira de Almeida, pelo que o texto do meu amigo foi um lenitivo para a minha continuada tosca percepção dos raciocínios do Brilhante.
Aliás, o ar emproado do homem, a importância que dá a si mesmo, o modo como se toma a sério naquilo que diz desvaloriza por completo o conteúdo.
Enfim, miserável o conteúdo, paupérrima a imagem. Não vendia nem um olho a um cego com dinheiro.
Caro Carlos Sério:
Creio que o meu amigo, dentro do seu estilo e maneira de pensar, já tem expresso ideias bem mais fundamentadas e brilhantes. Para comício, a frase levava a assistência ao rubro.
E então? Dito de outro modo e por forma que incluindo o autor perceba. De quem é a responsabilidade dos 78 mil mlhões que a Troika emprestou a Portugal e sem os quais o país deixava de cumprir?
Meu caro Pedro. Obrigado pela explicação. Quanto à curva os meus parcos conhecimentos ainda me permitem interpretá-la. Julgo todavia que não estamos sintonizados eu, o meu Amigo e o Brilhante uma vez que eu pouco sei, o meu caro vê a coisa pelo lado da receita que não é elástica e o Brilhante que ao referir-se ao excesso de velocidade aponta para uma diminuição do ritmo de redução da despesas, isto é, aposta em maiores deficites. Como o meu Amigo bem refere como não vale a pena tentar cobrar mais receita fiscal porque os rendimentos não crescem, consolidar à custa de um menor ritmo significa continuar na senda do endividamento. Mas que sei eu?
As minhas desculpas pelo vergonhoso português do comentário anterior. Teclado de telemóvel não facilita o rigor e a correção.
Também tenho dificuldade em entender as propostas do PS e principalmente a de Seguro, já requentada, de conseguir o equilíbrio das contas públicas sem austeridade pela via do crescimento. A este respeito escrevi no meu blog:
«Ouvi hoje Seguro repetir o argumento de que está contra os cortes previstos para o orçamento de 2014 porque o que é preciso é "equilibrar as contas públicas, mas pela via do crescimento e do emprego", em vez de austeridade. Segundo o Sol disse textualmente "Há dois anos que dizemos que o país precisa de mais tempo para equilibrar as suas contas públicas e que o país tem de sair da crise pela via do crescimento da economia e do emprego. Hoje estivemos a dizer isso (à troika)". Ora basta fazer umas contas para constatar que, sem diminuir a despesa do Estado, seria necessário um crescimento estratosférico para, unicamente pela via do crescimento, conseguir reduzir o défice das contas públicas de modo a atingir o equilíbrio, entendendo por equilíbrio um défice nulo ou quase nulo. Em Novembro de 2012, perante um discurso semelhante do mesmo indivíduo, dei-me ao trabalho de fazer umas contas e concluí que, para satisfazer a meta de um défice de 4,5% em 2013, meta que entretanto foi revista, sem aumentar os impostos nem cortar a despesa seria necessário um crescimento de 54%!!! Entretanto a meta para 2013 foi ajustada a 5,5%, mas para atingir os 4% requeridos para 2014 (ou mesmo os 5% que Seguro pretende e que requereu hoje na reunião com os representantes da troika) sem cortes, o crescimento teria de ser da mesma ordem. Como pensará Seguro resolver a questão? Será que não tem um único economista que saiba fazer contas entre os seus conselheiros e lhe diga para não continuar a dizer asneiras?»
Tem dias, os dias antes de ser governo e os dias depois de ser governo
O interessante no meio dos comentários que por aqui aparecem,é sem dúvida o do sr."Sério"!Creio que este será mesmo o caso em que não basta ser sério mas parecê-lo!Realmente quando se atribui ao PCoelho o aumento da dívida é de bradar aos céus!Fiquemos pela narrativa!É que,pelos vistos sérios há muitos!Só que não se chamam carlos!
Diz Passos Coelho, que nenhum governante em seu juízo perfeito pretende o empobrecimento do país, voltando à estafada argumentação de que os portugueses “viveram acima das suas possibilidades”.
A argumentação de Passos Coelho é falsa e falaciosa.
Em primeiro lugar, é falso que o país se endividou ao longo dos anos. Ao contrário, a dívida pública portuguesa manteve-se mais ou menos estável ao longo dos anos, na ordem dos 60% do PIB, que é o valor exigidodo pela União Europeia, longe da abrupta aceleração que teve a partir de 2008. Assim, em 1990 a dívida pública era de 51,3% do PIB; em 2000 de 52,0%; em 2005 de 67,7%; em 2006 de 69,4%; em 2007 de 68,4%; em 2008 de 71,7%; em 2009 de 83,2%; em 2010 de 93,5%; em 2011 de 108,1%; em 2012 de 123,5%; e em 2013 já vai em 134,4%.
Verifica-se então que a dívida pública só começou a disparar a partir de 2007/2008. Precisamente com o início da crise financeira internacional, com a crise da banca internacional. Não parece que os portugueses sejam responsáveis pela crise financeira dos subprimes e pelos activos tóxicos com que a banca americana inundou o mundo financeiro provocando uma profunda crise de liquidez dos bancos.
Por outro lado é fácil verificar que foi nestes dois anos de governação Passos Coelho que o país se endividou mais, cerca de 35% em apenas dois anos (tomou posse em Junho de 2011). O país endividou-se mais nestes dois últimos anos de governação de Passos Coelho do que em todo o período de 1981 até 2007 (em 1981 era de 36,3%; em 2007 de 68,4%, pelo que a diferença é de 32,1%, inferior aos 35% conseguido pelo governo nestes dois últimos dois anos).
Em 26 anos o país endividou-se menos que nestes dois últimos anos de governação de Passos Coelho.
É preciso de facto “não estar em seu juízo perfeito” para este governante insistir nesta argumentação do “viver acima das suas possibilidades”.
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