1. Divulgada a 19 do corrente, a edição mensal do Boletim Estatístico do BdeP (um excelente documento, este Boletim) mostra uma evolução bastante favorável das contas com o exterior para os primeiros 7 meses do ano, começando pelo saldo positivo da Balança Corrente, de € 561 milhões (até Junho registava-se um défice de € 142 milhões).
2. Quanto à Balança de Bens e Serviços, apura-se um saldo francamente positivo, de € 1.692 milhões (já supera 1% do famoso PIB), graças ao crescente saldo positivo nos Serviços, de € 5.186 milhões, que excede em 15% o registado em igual período de 2012 e que mais do que compensa o défice dos Bens (de € 3.494 milhões, menos 25,5% do que o défice do mesmo período de 2012).
3. Importante ainda é o comportamento do saldo conjunto das Balanças Corrente e de Capital, registando um superavit de € 2.402 milhões (€ 561 + € 1.841), ou seja 1,5% do PIB – é este saldo que nos indica se a economia se está endividando ou desendividando em relação ao exterior, sendo óbvio, em função do valor apontado, que o processo de desendividamento está mesmo em curso...
4. Como já aqui afirmei, por mais de uma vez, este é o aspecto mais importante do ajustamento da economia, aquele que serve melhor que qualquer outro para aferir da eficácia do PAEF: daí certamente o quase total silêncio a que estes dados foram votados pelos “media”...
5. Os números agora apontados traduzem-se numa autêntica revolução no desempenho da economia, bastando recordar que os défices da Balança Corrente nos 3 anos anteriores foram de € 18.269 milhões em 2010 (ano de ouro do período socrático), de € 11.983 milhões em 2011 e de € 2.557 milhões em 2012.
6. Esta mudança radical é devida, em primeiro lugar, a um extraordinário esforço das empresas privadas em geral – empresários e trabalhadores - que em condições excepcionalmente adversas e suportando imensos sacrifícios se mostraram capazes de fazer o necessário para corrigir os enormes desequilíbrios da economia, conquistando novos mercados e expandindo as suas vendas de bens e de serviços para o exterior...
7. ...Contrastando com um comportamento bastante pouco responsável de um sector publico administrativo e empresarial que, apesar de alguns progressos, mostra uma enorme resistência em compreender a necessidade do País travar o seu endividamento, aceitando reduzir a fatia dos recursos que absorve...
8. Espero bem que este extraordinário esforço do sector empresarial não venha a ser traído por um comportamento irresponsável de uma fatia considerável da classe política, com a inestimável ajuda de uma determinada jurisprudência obstinadamente agarrada à ideia do Escudo, lançando o País numa nova crise financeira...
9. Fiquei muito mal impressionado com o artigo de ontem no Wall Street Journal, pensei quanto seria imperdoável lançar o País numa nova crise depois deste extraordinário progresso conseguido...
6 comentários:
Gostava que falasse sobre o contributo que o sector do turismo deu para a obtenção destes resultados.
Onde esses números devem bater com força é na aristocracia do estado português. Afinal, vivemos todos tão bem e melhor sem eles...
Falem-me de saída do euro. De CGA. De princípios da confiança. De estratégias nacionais. De estudos de reformas do estado. De investimento na economia. Falem... durante quanto tempo, não sei, mas metam na cabeça que ninguém precisa disso e um dia cai ser tão evidente que vai estoirar.
Como é que isto não é obvio? Como é que a hierarquia do estado em vez de se mostrar útil, se mostra um lastro fascista do qual não nos livramos?
Também não percebo porque o governo não mostra isto ao país...
Dr. Tavares Moreira
Fiquei bastante preocupada com o artigo do Wall Street Journal. É assim que nos avaliam lá fora. Os últimos dias foram desastrosos em termos de intervenção política e partidária. Recados, chantagens, críticas, braços de ferro, palpites, nada faltou para gerar um ambiente que visto de fora, e de dentro também, só nos pode prejudicar.
E sem TSU, e sem desvalorização cambial, e sem treta americana http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/economistas/detalhe/2013_09_25_um_euro_mais_fraco_para_uma_europa_mais_fraca.html
Caro Tiro ao Alvo,
O sector Viagens e Turismo contribuiu com um saldo positivo de € 3.044 milhões para o superavit dos Serviços (€ 5.186 milhões) ou seja 58,7, um contributo fundamental, sem qq dúvida.
Caro Tonibler,
Que o dito Estado (Central, Regional, Autarquico e Empresarial) é cada vez mais aristrocático, disso não duvido: basta ver a arrogância com que os comensais do Orçamento (sindicatos, por exemplo) se permitem invadir os nossos bolsos, como se fossem titulares de um direito real de usufruto dos mesmos...
Caro Luís Moreira,
Essa dúvida deve ser endereçada aos titulares dos órgãos de soberania...
Cara Margarida,
Veja que a despesa pública continua a aumentar - graças à santa jurisprudência do Escudo - e o défice só se aguenta pela forte subida da receita fiscal...
Infelizmente, somos forçados a concluir que o WSJ até tem carradas de razão ao apontar como um dos pontos fracos deste sistema - a par do instável P.P. e da inenarrável demagogia PS - a famosa jurisprudência do Escudo...
Caro CCz,
Exactamente, o que torna este resultado ainda mais respeitável...
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