Estas palavras, escritas por Pedro Santos Guerreiro na edição de 25 de abril do 'Expresso', merecem ser meditadas agora que vai ficando longínquo o som das proclamações:
"É constrangedor assistir a um sistema de poder que faliu mas em que a porta giratória recoloca as mesmas pessoas nos mesmos lugares que antes destruíram. A crise das elites. A crise das instituições. Bah!, o sistema rebola-se na sua própria sobrevivência. A banca rebentou por todos os lados, os governos levaram a dívida pública à insustentabilidade, há cortes permanentes de pensões, há impostos cavalares, mas o sistema permanece. "E o povo, pá?" é uma pergunta retórica. A economia é hoje quase tudo porque a política é quase nada. Um beco tem sempre saída andando para trás. Para a política, de novo. Mesmo nas crises económicas, financeiras, de dívidas soberanas.
A política portuguesa tornou-se a arte de preservação dos mais fortes, que habitam uma espécie de condomínio privado ladeado de arame farpado no meio de uma ilha num mar de minas submarinas. Não porque tenham medo dos pobres e dos excluídos, mas porque não os querem ver. O negacionismo é um soluto para a consciência. O resto do mundo passa a ser uma estatística. "O flagelo do desemprego", "O estigma da desigualdade". Essas frases, banalidades. E seria tão fácil sair da temperatura morna, mais do que ver, apalpar o real, senti-lo com as mãos. E depois mudar. Mudar devagar por dentro antes que tenha de mudar à bruta por fora. Afinal a liberdade não falhou. A liberdade de expressão. A liberdade de pensar, a liberdade de dizer. E de votar. E de fazer? E de fazer. O 25 de Abril é hoje. Sempre".
9 comentários:
Caro Ferreira de Almeida, não deixa de ser interessante constatar que nos tempos do 24 não havia realmente liberdade de expressão. Mas na governação ia havendo gente que sabia fazer. E, ao fim e ao cabo, o que enche a barriga é o produto do saber fazer. Não do poder falar.
direitos adquiridos dos contribuintes:
sustentar o MONSTRO através do aumento de impostos
novas bancarrotas quanto antes
Desagradável é a sensação dos jornalistas se porem sempre na posição de quem não tem nenhuma responsabilidade na forma como actuam os políticos, como se não fossem eles grandes responsáveis pela forma incipiente e sectária como é feito os escrutínio público em Portugal.
Isabel Jonet diz meia dúzia de banalidades sobre a pobreza, e cai o Carmo e Trindade por causa da sua falta de jeito para falar (na proporção inversa da sua competência para fazer).
Maria de Belém diz que as manifestações que a preocupam são das mães que matam os filhos e se matam a seguir, ou Isabel Moreira diz que os índices de pobreza são tão alarmantes que as pessoas nem têm força para se deslocar às manifestações e não se ouve um burburinho.
E no entanto...
henrique pereira dos santos
Subscrevo, HPS. Nada do que anota diminui, porém, o acerto da opinião do jornalista citado. A meu ver, claro está.
Não reconheço a necessidade de meditar naquilo que Pedro Santos Guerreiro escreveu no "Expresso". E digo que não reconheço essa necessidade, porque não deve haver nenhum português que não tenha já descoberto e pensado, tudo aquilo que escreve. Portugal está assim, o governo e a sociedade, estão assim. Podemos estar gratos aos capitães de Abril, porque correram um risco, por um ideal que deveria ter resultado numa sociedade livre, progressista, solidária, democrática, respeitadora e humanista. Hoje, passados 40 anos, tal como é dito no artigo; «... o sistema rebola-se na sua própria sobrevivência.»
Logo, a revolução não funcionou, a revolução não se deu no país e na sociedade que a merecesse, a revolução foi um fiasco. Por isso mesmo, assistimos hoje, aos discursos esfarrapados, famintos, desiludidos, dos capitães sobreviventes de Abril, que não compreendem porque um povo que ganhou a liberdade, a voltou a entregar e ainda paga para isso.
«A economia é hoje quase tudo porque a política é quase nada.» Destaco esta frase que traduz uma imagem muito real daquilo que é o real governo da atualidade, em Portugal.
Discordo, com a devido respeito, Bartolomeu. A revolução não foi um fracasso por razões, essas sim, consensuais e que Margarida Correa de Aguiar expôs num dos seus últimos posts e comentários. Não está em causa a revolução, os seus valores e o que permitiu conquistar, que foi muito. Trata-se, isso sim, de passar ao dia seguinte e de não ficar preso a sistemas que fizeram o seu tempo e que tardam a regenerar-se, capturados por quem vive deles e teme a sua alteração. PSG põe o dedo na ferida: o sistema político e os seus mentores, apesar de falido, rebola-se na sua insustentabilidade, acrescento eu, para garantia do sustento dos mesmos. E por isso permanece "convenientemente" intocado o sistema eleitoral e de partidos...
As razões que a nossa estimada Drª Margarida advoga, aquelas que PSG "escarrapacha" no "Expresso", aquelas que eu, o zé, o Manel e o Toino, a Maria e a Genoveva, lamentamos, são todas por igual, a meu ver, incontestáveis, caro Dr. José Mário. E são-no precisamente porque Portugal foi incapaz de "passar ao dia seguinte". E o país não passou e não passará ao dia seguinte à revolução de há 40 anos, porque os portugueses não sabem o que é democracia, e muito menos, para que serve. Mas também não sabem o que é liberdade, nem para que serve. E sabem ainda menos o que é cidadania e para que serve. Resumindo: antes da revolução, um grupo de visionários idealizou uma "coisa" que só aconteceu por mera casualidade, uma "coisa" cujo início foi projetado, mas cujo objetivo (se por acaso existia) foi imediatamente corrompido, adulterado e finalmente, alienado. Por isso mesmo, hoje e já sem hipótese de reconversão ou de esterilização «... o sistema rebola-se na sua própria sobrevivência.» E o "sistema" de que falo, não é somente o político, é também o social, o jurídico, o educacional.
Ou seja; regredimos à época do reinado de D. Carlos e do ministro João Franco e entristece-me imenso pensar, que a solução para Portugal esteja novamente dependente de outra revolução.
Sem contar com as mais "miúdas" já tivemos 3 importantes revoluções (1 de Dezembro de 1640, 5 de Outubro de 1910 e 25 de Abril de 1974) todas elas tiveram como primeiro objetivo, libertar Portugal e os Portugueses; todas elas falharam o objetivo. Continuamos prisioneiros da nossa própria pequenez, da nossa mesquinhez, da nossa inveja, da nossa incapacidade para reconhecer o mérito e as capacidades dos outros e de os acompanhar, de os apoiar e de crescermos juntos... continuamos sempre, dia após dia, ano após ano, revolução após revolução, a rebola-nos na nossa própria sobrevivência. Por isso mesmo, deixámos que fosse a economia a governar-nos, de acordo com os seus gulosos interesses, preferindo estender-lhe a mão e aguardar pela caridade que ela nunca nos prestará, em lugar de aprendermos a governar-nos, séria e conscienciosamente.
José Mário
No meu post, contei que à volta da mesa ao jantar todos concordámos numa coisa: na crise da classe política.
Diria que atingiu a decadência. Querer sobreviver neste estado só pode piorar a sua própria sobrevivência, mas entretanto comprometem o futuro do país. Como pode um país avançar num clima de falta de compromissos no que é essencial? Tenho a sensação que a crispação política já não tem apoio na sociedade. Este divórcio terá que ter, mais tarde ou mais cedo, consequências na classe política. Espero...
Podemos estar gratos aos capitães de Abril, porque correram um risco, por um ideal que deveria ter resultado numa sociedade livre, progressista, solidária, democrática, respeitadora e humanista, escreveu Bartolomeu...
Desenganem-se os que assim pensam.
Nada disto aconteceu no meu país depois do dia 25. Os poderosos sabiam com o que poderiam contar durante 30 anos mas tentaram enganar os portugueses. E a prova está aqui. Agora, as novas sociedades vão pagar com língua de palmo, aquilo que se gastou e sem coordenação. Gastou-se e permitiu-se a usurpação. Em que país do primeiro mundo se permite o que se permitiu durante estes 40 anos em Portugal? Em todas as obras executadas as derrapagens foram catastróficas. Agora, eu ainda e os meus netos se vierem, vão ter que pasmar-se da pobreza em que estamos hipotecados. Quanto á liberdade de expressão- outra aberração nesta sociedade. Mário Soares pode escrever para as suas memórias que este governo é constituído por corruptos. Escreva o Bartolomeu e não prove!...
Por bem menos e o Tribunal não me pediu provas, fui em 2006 condenado a 150 dias de multa a 10€/dia por ter escrito um mail no meu local de trabalho e o de o distribuir pelos colegas de trabalho invocando o que me ia na mente e em descoordenação com os superiores hierárquicos.
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