Aquando da publicação do texto "Que tal umas lições de economia?..." fui - penso que injustamente - acusado de falta de rigor na (curta) análise e nas conclusões que extraí. Ora, quando escrevo textos ou efectuo análises procuro sempre quantificar e sustentar aquilo que afirmo. Aliás, quem tem a maçada de ler a minha habitual coluna quinzenal na imprensa escrita far-me-á a justiça de concordar com isto. E por isso, no fim de semana revi todos os dados disponibilizados pelo INE, tendo chegado à conclusão de que não retiro uma vírgula àquilo que escrevi no texto anterior. No entanto, só para que conste, e sem vos querer maçar muito com uma questão mais técnica, sempre posso completar a análise que então desenvolvi com a seguinte informação: quer façamos a análise a preços correntes, quer a preços constantes de 2000, em ambos os casos a taxa de cobertura das importações pelas exportações desce em termos homólogos - isto é, do segundo trimestre de 2004 para o segundo trimestre deste ano: de 80% para 77.6% a preços correntes; de 78% para 77.1% a preços constantes. E como toda a análise que então apresentei foi em termos homólogos...
É verdade: do primeiro para o segundo trimestre deste ano há uma melhoria (76.2% para 77.6% e de 75.5% para 77.1%). Só que isso é muito pouco para se poder dizer que a situação melhorou mesmo. Uma coisa é ver a variação de um ano para o outro; outra é no espaço de um trimestre...
Mas penso que esta não é a informação relevante que devemos retirar dos dados do INE sobre o PIB e as suas componentes, no que diz respeito à "parte externa" da nossa economia (exportações e importações). O que aqui deve ser realçado é que:
1. As exportações, reflectindo a continuada falta de competitividade do nosso tecido produtivo, continuaram a cair em termos homólogos (-0.1%). Certo, menos do que os -0.9% do trimestre anterior - mas não deixa de ser nefasto.
2. O abrandamento do crescimento das importações (de 3.5% para 1.2%) até podia ter sido positivo se se tivesse devido a um abrandamento do consumo privado. O problema é que não foi assim: na verdade, as importações só abrandaram porque o investimento caiu a pique (-4.5%), ao passo que o consumo privado, esse... até acelerou! Dito de outra forma: até teria sido preferível ter registado uma evolução mais dinâmica das importações se ela tivesse sido proporcionada por uma evolução bem mais positiva do investimento - e aí sim, teria havido confiança na nossa economia por parte dos empresários o que, manifestamente, na realidade, não aconteceu. É que, nessa situação hipotética, estar-se-ia a lançar raízes para que no futuro a criação de riqueza pudesse ser maior e mais sustentável. Mas assim... não, assim, definitivamente, e por mais que procure, não consigo ver mesmo como é que estes dados do INE foram positivos. E escusado será dizer que quanto mais penso no assunto, mais estupefacto fico com a reacção que o PM teve. Ele há ocasiões em que se fica mesmo mal na fotografia...
5 comentários:
Caro MF,
ele é Engenheiro...o que é que ele percebe de Economia?... Eu cá também não ando para aí a construir pontes...
Só por curiosidade alguém reparou que enquanto o PM andava a inchar como um balão com os 0,5%, o Ministro das Finanças (que acho que é quem percebe alguma coisa de Economia, apesar de pactuar com um programa completamente errado) nem abriu a boca sobre o assunto e até referiu que o Investimento estava a cair e que tal não era lá muito positivo?
Será que mais ninguém reparou nisso? POrque é que será que os media nem sequer confrontaram as duas situações e quase sempre falaram delas separadamente?
Nah...sou eu e o meu mau feitio...
Acho que 4,5% de quebra de investimento é um número tão absurdo como o 1% de crescimento homólogo. Nenhum destes números parece credível, desculpem lá.
Sim, eu sei, não se deve questionar o INE...
Miguel Frasquilho:
Este seu último comentário põe o acento certo na sílaba tónica: a verdade das coisas que se sabem, deve ser dita.E para mim, os políticos devem cada vez mais seguir por esse caminho.
Quando não se sabem, o melhor será não arriscar temeridades ou euforias, só para encenar amanhãs a cantar, passando subliminarmente a mensagem de que somos os cantadores melhores deste poleiro.
O nosso Premier é engenheiro, parece. E também parece que o curso foi tirado á noite, enquanto era governante, em 95-96. Foi na Universidade Independente.
Mais palavras para quê?!
Claro que ninguém pega neste tema tabu. Até quando?
Pois é!... É o PM e o DR.Avelino Ferreira Torres...a esse qualquer dia também exige que o tratem por Prof. Já faltou mais...É só mais uma ida ao Brasil e tá feito!
Caro josé,
Deixe-me que lhe diga que essas suas palavras a desqualificar as habilitações académicas do PM, desqualificam também todos aqueles que frequentam universidades em regime noturno. Universidades privadas claro, porque as públicas não servem para trabalhadores estudantes, só para quem tem um pai para pagar.
E no fim do dia, o homem é primeiro-ministro.
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