As projecções de Outono do FMI, conhecidas na passada quarta-feira, são a confirmação do estado anémico em que se encontra a nossa economia. Crescer 0.5% em 2005 e 1.2% em 2006 representa continuar a divergir face aos outros países europeus. O que, aliás, sem surpresa, e inevitável e tristemente, irá ainda continuar depois deste horizonte.
Na verdade, continuaremos a pagar a factura da (des)governação socialista anterior, sobretudo no período entre 1996 e 2000. Sei que afirmar isto não é politicamente correcto (já passou tanto tempo, dirão alguns...), mas a verdade é que o "politicamente correcto" deita, muitas vezes tudo a perder, porque não são ditas as verdades.
E a verdade é que Portugal aderiu à Zona Euro sem que para tal estivesse preparado – e, compo tal, sem poder recorrer às políticas monetária (taxas de juro) e cambial (moeda autónoma) como sucedia anteriormente para poder camuflar (ainda que artificialmente) a nossa tradicional falta de competitividade, todos os problemas vieram ao de cima e se avolumaram.
Já em 2000 era possível adivinhar esta situação – e alguns de nós, incluindo, modestamente, o autor destas linhas, fizeram-no – só que não é algo a que se consiga dar a volta em 2 ou 3 anos, por mais medidas acertadas que sejam tomadas.
Por isso, as promessas eleitorais do Primeiro Ministro não serão, natural e infelizmente, cumpridas. Não será possível criar 150 mil empregos (em termos líquidos) até 2009, nem colocar a economia a crescer 3% ao ano (o crescimento económico não se decreta!...).
Basta, aliás, atentarmos no facto, amplamente conhecido de que, para criar emprego, a economia ter que crescer mais de 2% ao ano.
O que significa que, em 2006, como prognostica o FMI, mas também para além desse horizonte, infelizmente, o desemprego irá aumentar.
E não é a alta do preço do petróleo ou a sempre adiada recuperação da economia europeia que constituem os nossos maiores problemas: estes factores, externos, afectam também os outros países, e nós continuamos a crescer abaixo de todos eles (registaremos o mais baixo crescimento dos 12 da Zona Euro e também o mais baixo da UE-25)!
Logo, os nossos problemas são estruturais (atraso na qualificação dos recursos humanos; rigidez da lei laboral; burocracia em excesso; justiça muito, muito lenta; Estado demasiado “gordo”, e, last but not definitely least, uma fiscalidade pouco competitiva e pouco “amiga” do investimento, entre outros factores) e são a causa maior da nossa sucessiva perda de competitividade.
Só atacando estas “raizes do mal” será possível ultrapassar a actual situação (o que, mesmo começando já, só será sentido daqui a alguns anos) – e, face ao que se tem visto até agora, não parece que este Governo esteja preparado para o fazer...
Até se pode dizer que o actual governo PS está a “provar do próprio remédio”, pois está a lidar com a situação que o anterior governo PS criou ao próprio país, e que os três anos de governação PSD/CDS, com muita coisa positiva feita (ainda que muito mais deveria ter sido feito, há que reconhecer...), mesmo assim, não foram suficientes para inverter.
Infelizmente, caros amigos, tal como em 2000, julgo que, para mal de todos nós, não andarei longe da verdade... iremos ainda a tempo de não nos transformarmos no Alentejo da Europa?!...
3 comentários:
Bem, uma coisa são os factos amplamente conhecidos outra é Portugal. Na realidade, se isto fosse um país normal devíamos andar pelos 15% de desempregados, andamos pela metade. Em Portugal, curiosamente ou não, o desemprego corrige-se muito rapidamente. 'A coisa resolve-se'...
E, Miguel Frasquilho, se concordo que o Guterres foi um festival de dinheiro ao disparate, não se esqueça do último governo de Cavaco Silva.
Quanto à 'million dollar question', a lógica responde. Não, já não vamos a tempo. Mas habitualmente a lógica fica pelos caramelos em Badajoz e depois volta para trás. Mas, pela lógica, não, já não vamos a tempo, a não ser que o granel da constituição europeia deite abaixo o euro.
o problema é que as "raízes do mal" são os políticos e o sistema político que temos... uma vez que preferem manter o "status quo" que avançar para uma verdadeira reforma democrática e política que o país precisa! Até lá (que pode ser daqui a muitos e muitos anos) vamos ver a expansão do Alentejo a uma rapidez alucinante...
Caro Miguel,
Julgo que não podemos deixar de acreditar que mudar este país ainda é possível. O sindroma “Alentejo” não é novo. O êxodo demográfico, vale a pena recordar, por via do empobrecimento do país, é um fenómeno recorrente ao longo da nossa história. Mas havia o Império. Hoje estamos só nós e os nossos problemas estruturais. Já não temos fuga.
A continuação da abertura ao exterior é a nossa única salvação. O proteccionismo tem sido sempre o nosso pior remédio. Não podemos voltar a repeti-lo. Mesmo passando um mau bocado a abertura é o caminho. Se formos obrigados a fazer como os melhores, poderemos conseguir aqui, o que muitos de nós, já conseguiram lá fora. Estar entre os melhores e com os melhores.
Mas todos teremos que mudar e mudar custa muito. Mudar de governo não chega temos de mudar de vida.
Bem-haja a todos os que apesar de tudo ainda trabalham a favor de uma ideia de um Portugal melhor. Um abraço.
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