A problemática de uma pandemia de gripe, excepcionalmente virulenta, está a preocupar as autoridades de saúde e os governos de vários países. A razão não é para menos.
Portugal adoptou um plano de contingência que será aplicado assim que o vírus da gripe H5N1 for detectado em aves ou em seres humanos. O senhor ministro da Saúde também encomendou dois milhões e meio de doses de um medicamento antiviral (tamiflu), no valor de 22 milhões de euros, a fim de assegurar protecção a 25% da população nacional. Foi afirmado que as doses seriam recebidas até final deste ano. Parece que, afinal, a empresa que produz o medicamento não sabe quando é que pode satisfazer o nosso pedido. E agora? Se ocorrer uma epidemia como é que vai ser? Porque razão é que não foi assegurada a compra em tempo oportuno? A sorte, sim, porque isto de epidemias e pandemias, também depende de muitos factores que não estão nas nossas mãos, pode bater-nos à porta e não ocorrer nenhuma calamidade. Deste modo não iremos sofrer as consequências da doença e, talvez, nem venha a ocorrer, nos tempos mais próximos, qualquer epidemia. Sendo assim, quem sabe se o senhor ministro não poderá, ainda, vir a cancelar a compra do antiviral e poupar 22 milhões de euros que tanta falta nos faz! Não esquecer que é um especialista de gabarito em termos de economia da saúde.
Já agora, gostava de saber a opinião relativamente à doação efectuada pelo laboratório Roche à OMS de 3 milhões de doses (tratamento de cinco dias). Será que o nosso ministro da Saúde considera que estamos perante interesses económicos da empresa suíça? Há alguns anos ocorreu uma séria polémica quando uma associação quis oferecer 200.000 doses de uma vacina contra a meningite. A Direcção-geral de Saúde recusou a oferta. A situação foi denunciada como uma forma pouco clara, que escondia interesses económicos, quer de alguns profissionais quer do próprio laboratório, além do apelo a um dramatismo mediático inusitado. A este propósito transcrevo parte de um editorial publicado na altura e que reflecte a opinião dos responsáveis: “Quando um traficante de droga quer introduzir no vício novos clientes, começa por lhes oferecer, de forma gratuita, o «produto». Ao recusar a «generosa» oferta, de um laboratório farmacêutico, de um lote de uns milhares de vacinas contra a meningite, o ministro da Saúde, Correia de Campos, deu um pequeno sinal de como se deve lutar contra a dependência. Contra a dependência do Estado relativamente a determinados lobbies. Contra a dependência dos cidadãos relativamente a determinados estilos de alinhar telejornais. Contra a dependência do boato, da desinformação e do alarmismo…”
Passados três anos, o senhor Professor Doutor Correia de Campos, investido novamente nas altas funções de ministro da Saúde, acaba de introduzir a vacina contra a meningite C no Plano Nacional de Vacinação, que entra em vigor em Janeiro de 2006, e que vai salvar muitas crianças e poupar muito dinheiro ao Estado.
Notável evolução é de felicitar. Agora já há evidências científicas, deverá ser a sua resposta.
4 comentários:
Caro Salvador Massano Cardoso,
Esse mesmo equipamento onde colocou este texto está repleto de produtos que um dia, e ainda hoje, eram acessíveis de forma gratuita a toda a gente. Grátis nunca foram, mas o acesso era gratuito. O erro dos concorrentes desses produtos que hoje usa foi dificultar o acesso à sua utilização.
Hoje ninguém questiona se esses produtos que acabou de usar são os melhores ou não. São os que há. E a empresa que os produz nunca prescindiu de os cobrar.
Toda a 'borla' tem um preço. Não estou a dizer que é o caso das doses oferecidas, mas compreendo que se recuse quando o preço futuro pareça substancialmente superior ao custo presente.
Porque daqui a uns tempos ninguém questiona se são os melhores, são os que há. E grátis não vão ser.
Compreendo e sei que não há nada de “borla”. O que eu quero dizer é apenas o seguinte: numa altura em que já existia um meio bastante eficaz de prevenção de uma doença muito grave, nem todos os pais disponham de meios para adquirir a vacina, correndo os seus filhos alguns riscos. Agora, felizmente, os nossos pequeninos concidadãos vão ficar em pé de igualdade. Na altura, levantaram-se dúvidas sobre os custos e benefícios da vacinação. Agora, parece que vale a pena. No entanto, face à eventualidade de surgir uma doença grave disponibilizou-se de imediato 22 milhões de euros para a aquisição de fármacos adequados. Medida correcta, sem dúvida. E, há 3 anos? Foi tomada a medida mais correcta? Tenho dúvidas.
Pois, isso também não sei. Também eu há 3 anos andava com aquele sentimento de 'estão à espera de quê?'. Recordo-me de ter sido bombardeado com virús C's e bactérias X, mutações e evoluções. Os médicos eram contra a vacinação. Será que são a favor hoje? Devíamos ter mandado os médicos portugueses às urtigas e ouvido os médicos espanhóis?
Parece-me daquelas coisas que qualquer decisão é boa e má.
Os médicos não eram contra a vacinação. Muitos prescreviam a vacina. As evidências científicas de protecção não se modificaram entretanto, como é óbvio. O problema era mais de cariz economicista. Quem é que devia pagar a vacina? Os interessados, o estado na sua totalidade ou comparticipando? Primeiro a pagar foram os interessados, depois passou-se pela comparticipação e, agora, culmina na distribuição gratuita. Fenómeno que já ocorreu com outras vacinas. O que choca são as razões invocadas para protelar aquilo que sabemos irá ocorrer mais tarde ou mais cedo. Entretanto muitos não conseguiram obter os seus benefícios.
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