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sexta-feira, 30 de setembro de 2005

O adeus da Yahoo! ou a importância da competitividade fiscal

Esta semana, soube-se que a gigante norte-americana Yahoo! preferiu o Luxemburgo à "nossa" Madeira, para instalar a sua plataforma electrónica europeia.
Depois de ter negociado com a Sociedade de Desenvolvimento da Madeira a instalação desta plataforma em território português, na chamada "pérola do Atlântico", afinal, a Yahoo! optou por outras paragens.
E por que terá isto sucedido? Porque, com a subida da taxa normal de IVA decidida pelo Governo, para 21%, a taxa praticada na Madeira subiu dos anteriores 13% para 15%. E, assim, a Madeira deixou de ser a região da União Europeia com taxa de IVA mais baixa, tendo passado para uma situação de igualdade com outros Estados-membros, entre os quais saliento o Luxemburgo. Ora, a partir do momento em que a vantagem fiscal desapareceu, e dado que o Luxemburgo tem um melhor posicionamento geográfico (mais central na Europa), menores níveis de burocracia e melhor qualificação de recursos humanos, a Yahoo! optou, naturalmente (e infelizmente para nós...) por escolher aquele país para instalar a "tal" plataforma electrónica na Europa que, de acordo com as regras comunitárias, prestaria serviços que seriam tributados à taxa de IVA em vigor no país escolhido.
Este exemplo é bem elucidativo da importância que a competitividade fiscal tem hoje em dia na localização de empresas, sejam elas originárias de onde forem. No nosso caso, dado que temos desvantagens enormes face à realidade europeia - como as acima identificadas pior localização geográfica, maior burocracia e pior qualificação de recursos humanos, e ainda, acrescento eu, uma legislação laboral mais rígida e uma justiça "tão-lenta-que-às-vezes-até-parece-que-nem-funciona" - essa importância é ainda maior.
Neste caso, dado que a fiscalidade deixou de ser vantagem, pronto, a deslocalização aconteceu mesmo.
Mas, grave, grave mesmo é que tenhamos um Primeiro Ministro (PM) que já por uma vez, na Assembleia da República, me transmitiu, textualmente, que "(...) não acredito em nada do que você defende no domínio fiscal!".
Pois, Sr. PM, sem querer "puxar a brasa à minha sardinha", seria bom que passasse a acreditar. Porque esta é a realidade e nada há a fazer.
Já não foi positivo quando Durão Barroso foi eleito com base, entre outros factores, no "choque fiscal", e depois foi o que se viu... mas agora vem a prova provada: descer o IRC é muito importante em termos de competitividade fiscal, mas também o é no caso do IVA (como este caso prova) e... do IRS (sobretudo ao nível da atracção de quadros superiores, os que maior valor acrescentado podem trazer a um país). Ora, não só o Engº Sócrates aumentou o IVA, como ainda criou um novo escalão de IRS nos 42%, escudado na demagogia de "os ricos também têm que pagar a crise", afastando-nos também aí da realidade europeia (a taxa máxima de IRS nos países do Leste da Europa situa-se em cerca de 30%)! É caso para dizer, bravo, Engº Sócrates! Porque, assim, o que se está a fazer é a criar todas as condições para que tenhamos uma crise ainda maior do que aquela que já hoje vivemos, por afastamento de empresas do país - e, consequentemente, de empregos, criação de riqueza, etc.
E, portanto, o que vai acontecer é que vamos todos pagar - e de que maneira! - a crise.
Já quanto ao facto de se ter aumentado as taxas de imposto para termos mais receita, também aí estamos conversados: pelo facto de a Yahoo! ter escolhido o Luxemburgo, deixará de entrar, nos cofres do Estado português, um montante de receita fiscal de cerca de EUR 70 milhões, de acordo com as projecções da da Sociedade de Desenvolvimento da Madeira. Verba que representa cerca de 1/4 de toda a receita do IVA cobrada em 2004 na Região Autónoma da Madeira. Para quem queria aumentar a receita com o aumento de taxas, não está mal...
E quando no Continente temos uma taxa de 21%, que compara, por exemplo, com uma taxa de 16% na vizinha Espanha, ou que a nossa taxa de IRC é de 25% e que os novos países da União Europeia têm taxas médias inferiores a 20%, e dado que em todos os outros indicadores relevantes para a nossa competitividade, estamos muito atrás em termos europeus, é fácil de concluir para onde caminhamos...
O aumento dos impostos decidido pelo Governo levará, provavelmente, a menos receita fiscal ( não a mais...) e a tornar Portugal cada vez menos atractivo no panorama europeu.
Em lugar de reformar totalmente a nossa fiscalidade, eliminando deduções, excepções e isenções, para simplificar o sistema fiscal e combater a fraude e evasão fiscal, e baixando as taxas nominais de imposto (o que, em conjunto, facilitaria e muito o combate à fraude e evasão fiscal, desincentivaria mesmo essa fraude e... estou convencido de que, à semelhança da realidade da Europa de Leste, não nos faria perder receita), o Governo seguiu o caminho contrário.
Estarão os outros todos errados, e seremos nós os únicos a estar certos?
O exemplo da Yahoo! não precisa de mais palavras ou explicações...

3 comentários:

Virus disse...

Caro Miguel,

isso é tudo aquilo que eu defendo há n tempo (mas eu não tenho um lugarzito na AR para o apoiar...ainda...eh...eh...eh...)!

Isto é, estou 100% de acordo consigo. E qualquer economista/gestor que perceba minimamente de economia, e da sua elasticidade, sabe perfeitamente fazer estudos e apresentar modelos que confirmam esta tese.

O que esta "malta" ainda não percebeu é que 21% de 1000 é menos que 17% de 1500, com a agravante que depois de limpo de impostos a massa gerada que entra no circuito económico é ainda menor, o que por conseguinte gera menos riqueza, logo blá...blá...blá...até ao aumento do desemprego e todas as suas gravosas consequências (bom...há uma vantagem, em teoria a inflacção desce, mas se descer demasiado isso também não é bom, porque significa que a economia se começa a retraír).

Tonibler disse...

Mas isso era mais ou menos esperado. Nisto não há milagres.

Anthrax disse...

Pois é...

Apesar de concordar com o Dr. Miguel Frasquilho, tenho de concordar com a marga.

Antes do «tio» DB ter ido para Bruxelas, a taxa do IVA (que antes era a 17%), aumentou.

Por isso, é bem verdade. "Todos optam pelo caminho mais fácil".