Deve ter sido este o pensamento de Artur Portela.
O ilustre membro dessa prestimosa instituição que se reconhece pela sigla AACS (Alta Autoridade para a Comunicação Social), sem a qual a democracia nacional viveria amputada, resolveu despedir-se antes da definitiva morte da dita.
A ocorrência não merecia sequer o desgaste no meu teclado de uma só linha escrita, não fora dar-se a circunstância de ter lido que a despedida se ficou a dever, nas palavras de Portela, a «uma pressão» do ministro dos Assuntos Parlamentares Augusto Santos Silva que terá dado «conselhos» directamente ao presidente da coisa, Juiz Conselheiro Armando Torres Paulo. Conselhos estes que recairam sobre a calendarização e a estratégia a seguir quanto à renovação das licenças da SIC e da TVI.
Assim mesmo. O ministro exerceu pressão sobre a AACS sob a forma de uns conselhozitos, decerto segredados ao disponível ouvido do conselheiro presidente mas captados pela extrordinária acuidade auditiva de Portela; ou então descuidadamente relatados pelo senhor conselheiro que, no entanto, e até agora, não patenteou idêntica indignação.
Artur Portela deve aos últimos ministros dos Assuntos Parlamentares, os seus recentes e fugazes momentos de glória, feitos daquela atitude garbosa de defesa da liberdade de imprensa, nesta particular situação repudiando a ameaça ministerial à independência de tão independente órgão.
Na verdade, ainda há pouco o vimos como inquiridor implacável, incansável pedagogo das liberdades no caso iniciado com Rui Gomes da Silva a propósito do espalhafatoso episódio do Professor Marcelo e da TVI. E agora é com Santos Silva.
Esta notícia suscita-me um comentário e coloca-me na expectativa.
O comentário é o seguinte. Segundo Portela «o contacto do ministro com o presidente da AACS, no sentido de dialogar, até pode ser legítimo [...]. Mas na minha opinião, configura uma pressão sobre um órgão independente».
Não deixa de ser extraordinário o entendimento de que a intromissão do ministro com propósitos de condicionar um órgão independente se possa condescendentemente considerar legítima, quando ao mesmo tempo não se tem rebuço em dizer que «nunca, nunca em nenhum governo, do dr. Cavaco, do eng. Guterres e dos que se seguiram me lembro de isto ter acontecido».
O que me leva à revelação da minha expectativa. Quero ver que comentários merece da elite bem pensante esta notícia.
Há não muito tempo gritava-se histericamente na televisão, na rádio e na imprensa escrita que era a liberdade de imprensa, o livre pensamento, a liberdade de expressão, a própria democracia que estava em perigo só porque um ministro com a cotação de Gomes da Silva reclamou pelo contraditório ao comentador da TVI que semanalmente malhava forte e feio no governo do ministro. Ia caindo o Carmo e a Trindade. Não faltou quem pedisse a cabeça do marcante governante e reclamasse pela demissão do chefe do governo, tal o perigo que a Nação enfrentava!
Agora, segundo um dos seus membros, a AACS - órgão independente - sofre pressões deste ministro dos Assuntos Parlamentares a propósito, não de uma qualquer rábula, mas nem mais nem menos do que a renovação das licenças de televisão, numa altura em que se sentem (ténues, embora) os ecos do mal explicada suspeita de que houve dedo do governo ou do partido do governo no caso da tentativa de entrada da PRISA no grupo a que pertence TVI, no intuito de promover o controlo ideológico desta estação.
Em especial estou com uma enorme curiosidade em ouvir o comentário semanal de um das confessadas vítimas da perfídia anti-democrática (mal sucedida, pelos vistos) do então ministro Gomes da Silva...
E assim, vem-me à memória uma quadra do grande filósofo Aleixo. Aqui vai:
O ilustre membro dessa prestimosa instituição que se reconhece pela sigla AACS (Alta Autoridade para a Comunicação Social), sem a qual a democracia nacional viveria amputada, resolveu despedir-se antes da definitiva morte da dita.
A ocorrência não merecia sequer o desgaste no meu teclado de uma só linha escrita, não fora dar-se a circunstância de ter lido que a despedida se ficou a dever, nas palavras de Portela, a «uma pressão» do ministro dos Assuntos Parlamentares Augusto Santos Silva que terá dado «conselhos» directamente ao presidente da coisa, Juiz Conselheiro Armando Torres Paulo. Conselhos estes que recairam sobre a calendarização e a estratégia a seguir quanto à renovação das licenças da SIC e da TVI.
Assim mesmo. O ministro exerceu pressão sobre a AACS sob a forma de uns conselhozitos, decerto segredados ao disponível ouvido do conselheiro presidente mas captados pela extrordinária acuidade auditiva de Portela; ou então descuidadamente relatados pelo senhor conselheiro que, no entanto, e até agora, não patenteou idêntica indignação.
Artur Portela deve aos últimos ministros dos Assuntos Parlamentares, os seus recentes e fugazes momentos de glória, feitos daquela atitude garbosa de defesa da liberdade de imprensa, nesta particular situação repudiando a ameaça ministerial à independência de tão independente órgão.
Na verdade, ainda há pouco o vimos como inquiridor implacável, incansável pedagogo das liberdades no caso iniciado com Rui Gomes da Silva a propósito do espalhafatoso episódio do Professor Marcelo e da TVI. E agora é com Santos Silva.
Esta notícia suscita-me um comentário e coloca-me na expectativa.
O comentário é o seguinte. Segundo Portela «o contacto do ministro com o presidente da AACS, no sentido de dialogar, até pode ser legítimo [...]. Mas na minha opinião, configura uma pressão sobre um órgão independente».
Não deixa de ser extraordinário o entendimento de que a intromissão do ministro com propósitos de condicionar um órgão independente se possa condescendentemente considerar legítima, quando ao mesmo tempo não se tem rebuço em dizer que «nunca, nunca em nenhum governo, do dr. Cavaco, do eng. Guterres e dos que se seguiram me lembro de isto ter acontecido».
O que me leva à revelação da minha expectativa. Quero ver que comentários merece da elite bem pensante esta notícia.
Há não muito tempo gritava-se histericamente na televisão, na rádio e na imprensa escrita que era a liberdade de imprensa, o livre pensamento, a liberdade de expressão, a própria democracia que estava em perigo só porque um ministro com a cotação de Gomes da Silva reclamou pelo contraditório ao comentador da TVI que semanalmente malhava forte e feio no governo do ministro. Ia caindo o Carmo e a Trindade. Não faltou quem pedisse a cabeça do marcante governante e reclamasse pela demissão do chefe do governo, tal o perigo que a Nação enfrentava!
Agora, segundo um dos seus membros, a AACS - órgão independente - sofre pressões deste ministro dos Assuntos Parlamentares a propósito, não de uma qualquer rábula, mas nem mais nem menos do que a renovação das licenças de televisão, numa altura em que se sentem (ténues, embora) os ecos do mal explicada suspeita de que houve dedo do governo ou do partido do governo no caso da tentativa de entrada da PRISA no grupo a que pertence TVI, no intuito de promover o controlo ideológico desta estação.
Em especial estou com uma enorme curiosidade em ouvir o comentário semanal de um das confessadas vítimas da perfídia anti-democrática (mal sucedida, pelos vistos) do então ministro Gomes da Silva...
E assim, vem-me à memória uma quadra do grande filósofo Aleixo. Aqui vai:
Queremos ver sempre à distância
o que não está descoberto,
Sem ligarmos importância
ao que está à vista e perto.
o que não está descoberto,
Sem ligarmos importância
ao que está à vista e perto.
4 comentários:
Isto saia mais barato ao contribuinte se o ministro dissesse de uma vez por todas que estava a pagar um 'favor'
Sobre este caso só umas perguntas: A AACS não foi criada para fazer face às pressões e aos vários poderes? Não é uma entidade independente do governo – pelo que não tem para com este qualquer dever de respeito hierárquico? Não tem um papel de árbitro? Já viram se os árbitros se comportassem, qual prima-dona, e abandonassem o campo sempre que um jogador, dirigente ou público discutissem o seu “trabalho”?
O governo faz/fez pressão, e daí? (convém que saibamos, claro - também para isso lá estaria a AACS).
Onde está a estaleca dos homens? Era neste momento que se queria um conselheiro valente. Mas afinal... Prima-donas!...E a fazer de nós parvos!
Caro Ferreira de Almeida,
Calculo que o seu primeiro parágrafo seja uma ironia.
É, não é?
Mas meu caro Pinho Cardão,
Nesse capítulo não se podem apontar dedos. De todo.
Apenas referir o mérito de um ministro e esquecer acusações.
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