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sexta-feira, 9 de junho de 2006

Misturas!

A palavra mistura está frequentemente associada a aspectos negativos. Resta saber se com ou sem fundamento.

Todos temos conhecimento de casos em que a associação de dois ou mais produtos ou situações é má, embora sem razão.

Os consumidores excessivos de bebidas alcoólicas defendem a seguinte e brilhante teoria: “não se pode fazer misturas”. Se começam com o tinto, só pode ser tinto, se for cerveja, só pode ser cerveja, caso contrário arriscam-se a apanhar tremendas bebedeiras ou a ficarem mal de saúde! Há os que não querem misturar-se com pessoas de outras classes ou condição, porque seria prejudicial para o seu estatuto social. Na área da alimentação o perigo das misturas é ancestral. São inúmeras as citações a este propósito, do género: não se poder beber vinho em cima da melancia (porque “dá pneumonia”), ou beber água fria e comer pão quente (“nunca fizeram bom ventre”). Tantas vezes ouvi esta última recomendação em pequeno que ficava na dúvida sobre se devia beber água ou comer o pão quentinho que o padeiro entregava a meio da tarde. A brincar e a correr constantemente sentia muita sede e fome, logo tinha que fazer a mistura… Do mesmo modo me diziam para não comer ou beber alimentos ácidos em cima do leite, porque talhava o mesmo, nem beber água fria depois das refeições, porque podia sofrer uma congestão mortal. Enfim, uma catrefada de recomendações que não faziam sentido. Também tive que aprender a não misturar alhos com bugalhos, apanágio dos verdadeiros mestres da confusão, que acabam por reforçar as más consequências das misturas, mas neste caso foi bom, embora um pouco doloroso, às vezes. Colocar no mesmo espaço, ferrenhos opositores futebolistas ou políticos, também não costuma dar bons resultados!

Já vai longo este arrazoado sem que tenha explicado a razão de ser do mesmo. O factor despoletador foi o facto de ter lido que certos anfíbios, mais particularmente rãs, andarem a levar na perna devido aos efeitos dos pesticidas. Uma série destas substâncias, respeitando as doses de exposição ambiental, não provocam, isoladamente, quaisquer problemas, mas se estiverem presentes várias, mesmo, repito, dentro dos limites, acabam por ter uma acção muito nefasta nestas espécies sensíveis. Importa, deste modo, tomar em linha de conta a interacção entre as várias substâncias mesmo que estejam dentro da normalidade recomendada, já que poderão ter, também, consequências no desenvolvimento embrio-fetal dos seres humanos. Mas há ainda um ponto adicional que nos permite compreender melhor todos estes aspectos de relacionamento entre os seres vivos e o meio ambiente. As simpáticas e sensíveis rãs, quando expostas a uma concentração baixa de um dos pesticidas e ao cheiro de um predador, zás, morrem!

Parece que existe um efeito multiplicador entre os dois agentes “stressantes”, embora, isoladamente, não apresentem quaisquer efeitos nocivos. Ainda bem que este fenómeno não ocorre nos seres humanos. Não é que haja muitos predadores a cheirarem mal, pelo contrário, alguns, e algumas, são mesmo bem cheirosos.

Numa recente viajem à Alemanha, num voo interno, e depois de ter comido uma refeição, cujos teores em pesticidas deveriam estar dentro das normas, tive que sofrer o aroma ecológico de muitos germânicos que devem desconhecer as virtudes higiénicas da água. Ainda bem que não interpretei os seus odores como sinal de predação, e ser mais resistente que as rãs! E logo eu, um fervoroso adepto da miscigenação, a dizer mal de uma mistura...

1 comentário:

Tonibler disse...

Sim, também devia existir um limite à concentração de germânicos. Talvez...1