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sábado, 26 de maio de 2007

“2015: Odisseia em Portugal”

António Câmara, vencedor do Prémio Pessoa 2006, afirmou o seguinte: "Portugal, em 2015, é o local mais vibrante para viver, estudar e trabalhar no Continente Europeu".
Fiquei de boca aberta, porque não me tinha passado pela cabeça que seria possível, um dia, um “milagre” tão grandioso.
Sempre imaginei qual seria a sensação de viver num período áureo. Já os tivemos e como fomos educados nessa grandeza histórica não deixamos de sentir uma ponta de inveja.
Nascer e viver num país que, apesar do desenvolvimento entretanto verificado, não consegue atingir os níveis dos mais evoluídos, ir parar a uma cidade e a uma universidade que já viveram períodos muito mais proeminentes, transmite-nos a noção de passar pela vida num plano descendente. Agora, a leitura desta frase fez-me renascer a esperança de ainda ver e participar na tal sociedade de primeiríssima ordem. Claro que é preciso muito esforço, determinação, solidariedade e fé.
Diz o premiado que "para lá chegar, teremos de apostar em cidades criativas e reformar as universidades". Concordo. Mas não é suficiente, também é necessário que sejam afastados determinadas individualidades que têm minado e corrompido a nossa sociedade, desde políticos, passando por dirigentes desportivos, agentes económicos meio-manhosos até aos cancerosos comissários de todas as cores e facções.
É preciso, igualmente, premiar e estimular os melhores. Dar-lhes atenção e, sobretudo, ensinar os nossos concidadãos a respeitá-los, participando nas suas descobertas e vitórias como se fossem nossas. E não deixam de ser, já que contribuímos directa ou indirectamente para o seu sucesso. Mas, tirando os casos desportivos, que de um modo geral até são bem aceites, podemos constatar a tal pontinha de inveja ou de maledicência sempre que alguém se destaca. Esta última análise fez-me recordar Luís Sttau Monteiro que, há muitos anos, numa entrevista, disse mais ou menos o seguinte: "Os portugueses são como os pardalitos. Sempre que um levanta voo há alguém entretido a deitá-lo abaixo!" Importa, pois, que seja dada a respectiva informação e divulgação dos feitos técnicos, científicos, artísticos e culturais de muitos jovens artistas e cientistas nacionais de uma forma estruturada e contínua.
São tantos, mas tantos, os que manifestam criatividade e originalidade que mereciam mais primeiras páginas, mais tempo de antena, substituindo grande parte da inutilidade bacoca que inunda os jornais e televisões. Os seus nomes deveriam ser memorizados, as suas obras escrutinadas e divulgadas o mais abundantemente possível, protegendo-os e evitando que lhes aconteça o que já aconteceu com muitos portugueses no passado, em que as suas descobertas e conquistas foram apropriadas por outros, acabando por enriquecer cientificamente os seus países. Veja-se o que aconteceu com Cid dos Santos, por exemplo, cuja descoberta foi objecto de “usurpação” por um cirurgião norte-americano, e hoje as pessoas poderão passar a conhecê-lo pelo facto do Eusébio ter beneficiado da sua pioneira técnica cirúrgica!
É preciso que sintamos orgulho e nos identifiquemos com os melhores. Eles estão entre nós. As suas descobertas também são nossas. Conhecê-los, respeitá-los, incentivá-los e dar-lhes o protagonismo que merecem é um passo de gigante que pode motivar muitos outros, relegando para planos secundários muita da pobreza que nos invade através das diferentes formas de comunicação social.
Mas tem que ser feito o mais rapidamente possível, porque 2015 está à porta...

4 comentários:

Max Mortner disse...

Caro Massano Cardoso,

Infelizmente não me parece que nada disso vá acontecer até 2015…Vivemos num país que é pautado pela mediocridade. Nas universidades, os alunos, ainda que cumpram a sua função primordial (estudar e concluir o curso) passam ao lado da vida cultural, da discussão da actualidade (isto se não considerarmos a Bela e o Mestre actualidade), do debate, da capacidade de criar ou do interesse genuíno por matérias que não façam parte do seu plano de estudos e, para além disto tudo, olham com desprezo para um professor que seja um pouco mais exigente. Nas cidades, a vida cultural está condenada pela falta de públicos, pela falta de dinheiro ou pela centralização da cultura (em Lisboa e no Porto). Na inovação cultural, todos aqueles que a tentam fazer sem pertencer a certos “grupos” são olhados com desconfiança (maior, talvez, do que a desconfiança com que o grosso da população olha para os tais “grupos”). Na inovação científica, ainda que se vá fazendo alguma coisa, os nossos maiores “cérebros” são forçados a ir para o estrangeiro. No debate político não há nada a fazer, é um terreno minado por agentes partidários ou por comentadores que estão conotados com certos partidos. Que evolução tão espantosa poderemos nós fazer em 8 anos?
Sinceramente espero estar enganado. Espero que António Câmara tenha razão!

CHEVALIER DE PAS disse...

Portugal um país de iluminados!
Este António Câmara está redondamente enganado, nós já vivemos num país assim!
O que disseram figuras ilustres e iluminadas nos últimos anos.
-Um ilustre economista, que foi ministro, mas não chegou a aquecer o lugar, disse: "Portugal é o melhor país para se viver, pelo menos para mim é!"
- Outro ilustre economista, daqueles mesmo bons, disse: "Portugal é o oásis da Europa!"
- e outro economista, não menos ilustre diz: "Camelos já temos!"

Ai que isto é um blog sério!

Bartolomeu disse...

Execelente assunto, caro Prof. M.C.,e excelente forma de o colocar, pungente e objectiva, composta de pretinentes críticas e observações. Soou-me a um grito de raiva e de exaltação à revolta que já tarda.
"Diz o premiado que "para lá chegar, teremos de apostar em cidades criativas e reformar as universidades". Concordo."
Tambem concordo, apesar de em minha opinião, não ser só apostando em cidades e universidades que no ano de 2015, estarão criadas as condições preconizadas por António Câmara.
Se me permite, socorro-me de uma teoria, para proseguir o meu comentário. É uma teoria pessoal, o que não lhe retira o mérito que uma teoria pode ter.:) "Os homens são como os cavalos, nascem com aptidões naturais" Pois é caro Professor, tal como os cavalos, pela sua compleição física e capacidade de aprendizagem se tornam mais aptos para certas disciplinas da equitação, tambem os homens pelas mesmas características se tornam aptos para os desempenhos que exigem força física,ou para os que exigem capacidade mental e intelectual.
Se olharmos para a nossa história fácilmente percebemos pela forma como ocorreram as condições que geraram os feitos em que nos distinguimos como povo e como nação, que todo o êxito alcançado se ficou a dever às nossas características específicas. Em alguns desses feitos, os seus intervenientes, tiverem a visão que lhes permitiu saber conjugar a posição geográfica com os conhecimentos obtidos em diversas fontes. É nesse contexto que eu penso que temos bons "apetrechos" e penso também, que tal como em outras ocasiões da nossa história, estamos a "juntar" experiências e vivências e a observar o que decorre no mundo, para na altura certa, surgirmos, como tem sido nosso "fado" e resplandecermos de novo. Talvez em 2015, se verifique nascimento do profetizado 5º Império...
Antes de terminar, caro Professor, com todo o respeito que lhe devo, manifesto o meu desagrado por ter classificado os comissários de todas as cores e facções, de cancerosos. Não faço ideia a quem se refere, mas mesmo que seja a alguem em concreto, acredito firmemente que não seria esse o termo que o Caríssimo professor pretendia empregar.

Massano Cardoso disse...

Caro Bartolomeu
"Cancerosos" com os seguintes significados: invadem, destroem, não respeitam as regras do sistema a que pertencem e são incapazes de fazer "apoptose".
Não propriamente no sentido biológico do termo, mas nas suas equivalências sociais.