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domingo, 20 de maio de 2007

"O que nos faz felizes"


O semanário Expresso dedica este fim-de-semana algumas páginas da revista à descoberta do que é a felicidade. Digo a descobrir, sim, porque no final, depois de aturadas abordagens – científica, social e económica – não é possível, como seria de esperar, encontrar uma resposta satisfatória ou indicativa do caminho para obter a tão desejada felicidade. Aí se pode ler que há uma "diferenciação genética que nos torna à partida mais ou menos felizes" e que "podemos ser mais felizes se tivermos vontade de o ser e dermos passos concretos nesse sentido". São depois feitas várias incursões de natureza "ambiental" na tentativa de diferenciar padrões de felicidade em função dos graus de "urbanismo" e desenvolvimento económico em que as pessoas se inserem.
Mas com elevada probabilidade de não me enganar, muitas pessoas que leram o trabalho publicado não terão progredido muito na descoberta da felicidade, porque já a descobriram ou porque não encontraram a receita milagrosa.
A felicidade é um tema que obviamente devemos ter presente nas nossas vidas, na vida de cada um de nós e daqueles que nos são mais próximos e mais queridos. O que verdadeiramente nos deve preocupar é vivermos felizes. Por isso mesmo, a felicidade tem uma dimensão espiritual e uma força interior próprias do indivíduo que sendo simples na sua formulação, acaba por ser complexa pela dificuldade em a manter em equilíbrio.
Prefiro centrar a busca da felicidade essencialmente na atenção a dar à nossa própria vida e ao que sentimos, à necessidade de valorizarmos aquilo de que gostamos e de vivermos intensamente cada momento que nos dá prazer, à vontade de servirmos e ajudarmos os outros.
Toda a gente procura a felicidade, uns procuram-na na pessoa amada, outros na acumulação de dinheiro e bens e outros na confirmação dos seus sonhos... Toda a gente passa a vida a perseguir um sonho por realizar e quando consegue alcançar a felicidade julga que durará eternamente. Mas passado um tempo, lá volta a monotonia e a desilusão e lá se volta de novo à procura de mais um sonho por cumprir, até que se consegue e se volta de novo a cair na desilusão e assim sucessivamente. A felicidade está sempre dentro de nós, mesmo na monotonia e na desilusão, mesmo na dor e no sofrimento; nestes momentos não a vemos, porque provavelmente ficamos ofuscados e obcecados por a encontrar.
A felicidade pertence à vida e a vida existe na felicidade; é por isso mesmo que a felicidade está, naturalmente com dimensões diferentes, continuamente ao nosso alcance. Temos, portanto, que estar vigilantes e procurar fazer da felicidade um modo de sentir a vida, independentemente da condição “urbana” e económica em que nos situamos, com mais ou menos influência genética. Não é algo que se compre ou venda. É algo que está muito dependente da descoberta dos nossos dons e talentos e das nossas qualidades...

13 comentários:

Bartolomeu disse...

"Temos, portanto, que estar vigilantes e procurar fazer da felicidade um modo de sentir a vida, independentemente da condição “urbana” e económica em que nos situamos, com mais ou menos influência genética. Não é algo que se compre ou venda. É algo que está muito dependente da descoberta dos nossos dons e talentos e das nossas qualidades..."
Estas observações, cara Margarida, concentram a meu ver, tudo o que de imediato, quem busca a felicidade, deverá desejar.
Eu diria que a busca da felicidade pessoal, é comparável à demanda pelo cálice sagrado, presente na última ceia de Cristo e dos Apóstulos.
Acerca do alcance da felicidade, ou do estado de espírito que nos faz senti-la, ou identificar-nos com ela, penso, teoricamente, que. A capacidade de viver em estado de felicidade, tem a ver com o optimismo e a capacidade que uns têm mais desenvolvida, de se adaptarem às situações e delas extrairem tudo de bom que elas têm para oferecer. Assim como a facilidade de pouco necessitarem para atingir esse estado de graça.

Suzana Toscano disse...

A feleicidade é um tema inesgotáve e devíamos reflectir mais vezes sobre ela. Há pessoas que se recusam a ser felizes, ficam sempre à espera que os outros "as façam felizes" ou que a felicidade as abane porque elas sozinhas nunca conseguem vê-la. E também há os que, tendo tudo para ser felizes, teimam em procurar motivos para se manterem tristinhos e deprimidos. A felicidade, muitas vezes, é quase um dom, a capacidade que cada um tem de dar valor ao que tem, de lutar com alegria pelo que não tem, de confiar, de descobrir o lado bom das coisas. Ninguém é feliz o tempo todo, ignorar isso é o caminho mais certo para não se ser feliz quase nunca.Não há maior infelicidade do que deixar passar a felicidade sem a ver...

Great Houdini disse...

Cara Margarida de volta à carga!!! Já li o post que me recomendou sobre a familia e até se encaixa nesta temática, uma familia funcional vai condicionar positivamente a posibilidade de atingir a felicidade.

Gostei especialmente da frase "a felicidade pertence à vida e a vida existe na felicidade".

Gostei da metáfora do cálice sagrado, a felicidade é sem dúvida uma busca constante.

Acho que as pessoas se aceitarem como são à partida serão mais felizes.

Penso que o cerne da felicidade é a busca e não a consagração, o ser humano é mais feliz quando procura do que quando tem.

Anthrax disse...

Cara Margarida,

Bonito Post e bonita fotografia do animal (até porque se repararmos bem, os golfinhos são um daqueles animais que parecem estar sempre a rir-se, se bem que... as hienas também, mas uma fotografia de uma hiena nunca teria tanto impacto).

Por acaso também reparei nessa edição da revista do Expresso. Reparei, principalmente, no mapa e no facto de que Portugal e Africa andam ela por ela quando toca a felicidade. Também reparei que o Afeganistão não entra na equação (vai-se lá saber porquê).

Em Portugal só alguns é que são felizes. Os outros tentam sobreviver.

Suzana Toscano disse...

Caro Anthrx, essa moral anda mesmo muito em baixo!??;)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Também concordo que a capacidade de viver em felicidade tem que ver com a capacidade de adaptabilidade e de aproveitamento daquilo que de bom os momentos de vida oferecem.

Suzana
Acredito que muitas vezes a "graça" está à nossa frente e a deixamos fugir.
É importante darmos significado às coisas que temos, dar valor às pequenas coisas, lutar por aquilo de que gostamos, não perdermos tempo com futilidades que muitas vezes nos desviam daquilo que é realmente importante...
Deixo-lhe este pensamento de Santo Agostinho, que é um dos meus preferidos:
"A FELICIDADE É CONTINUARMOS A DESEJAR AQUILO QUE TEMOS".

antoniodasiscas disse...

PrezadaMargarida
Os seus textos abordam sempre temas que me são muito gratos.
Para mim,o conceito de felicidade que anda muito ligado a um outro a que se chama ambição,é decisiva e altamente subjectivo, até porque neste país de sofredores, nunca ningúem está contente com o que tem ; basta pensarmos na nossa tradicional invejazinha. O certo é que,como excepções, encontram-se pessoas que se dizem felizes,o que para outros constitui um mistério e pessoas que, embora tendo verdadeiras condições de o serem,
não parecem sê-lo de todo.Tudo vai de se "saber" um pouco ser feliz,creio eu e sobretudo não se ansiar incontidamente pela lua e pelo sol. Ah, mas uma coisa é certa. O dinheiro,diz o vélho fadinho, não dá felecidade, ai mas ajuda muito. Se ajuda!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Great Houdini
É verdade, de "volta carga", com uma carga muito leve para fazer bem à alma.
A sua reflexão de que "as pessoas se aceitarem como são à partida serão mais felizes" vai muito ao encontro do belo pensamento de Santo Agostinho que acima transcrevi.

Caro Antharx
Falar da felicidade é sempre bonito. O que já não é bonito é que esteja pessimista...
Vou-lhe contar um segredo. Tenho uma especial ternura pelos golfinhos. Os golfinhos são muito brincalhões e estão quase sempre a "rir". É mesmo verdade!
Sempre que os observo tenho uma sensação de felicidade. Talvez porque tive a possibilidade – há já alguns anos – de estar muito perto destes maravilhosos animais. De lhes tocar. A sua graça é absolutamente contagiante.
Nunca escolheria uma hiena para sugerir a felicidade!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro antoniodasiscas
Muito bem visto: "Tudo vai de se saber um pouco ser feliz...e sobretudo não se ansiar incontidamente pela lua e pelo sol". E a "invejazinha" não ajuda nada, mesmo nada...

Anthrax disse...

Cara Suzana,

Tem razão. A minha moral anda um bocadinho em baixo. O problema é que até agora eu não tinha pensado que se notava tanto mas, nas realidade, nota-se um bocado.

Tenho que inverter isto.

Cara Margarida,

Se tivesse colocado uma fotografia de uma hiena, garanto-lhe que me ia fartar de rir e ia achar que a Margarida tinha um sentido de humor, fenomenalmente, negro e "very british".

No entanto, concordo com a sua escolha do golfinho. Não pense que que eu acho que falar de felicidade não é bonito. É claro que é bonito mas, não é só isso.

Porque é que acha que todos os jogos de simulação para PC, tipo SimCity e Civilization, têm os indíces de felicidade dos povos e os mesmos afectam o desenvolvimento das respectivas cidades?

Porque é que acha que o Aristóteles defendia a propriedade privada como um meio para manter uma cidade feliz? Porque é que acha que ele escrevia sobre a Felicidade quase como se fosse o fim último do homem?

E nós, estamos em penultimo lugar da lista. Isto não é ser pessimista. É uma constatação de um facto.

Por outro lado, é bom que o tempo mude depressa e apareça o sol. Caso contrário, ainda começo para aqui a cheirar a enxofre ou assim! :))

Suzana Toscano disse...

Caro Anthrax, o problema não é notar-se, é o estar assim. Então, se vir aqui conversar no 4r ainda não o animou, é caso para perguntar...em que é que o podemos ajudar? É só dar o mote!

Anthrax disse...

Cara Suzana,

Vir conversar aqui para o 4R anima-me sempre e não é preciso ajudar em nada. Basta estarem aqui :))

De resto, é só esperar que a nuvenzinha piroclástica se dissipe (eu abufo-lhe umas quantas vezes e ela vai-se embora).

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Anthrax
Aqui no Quarta República o sol "brilha" sempre. Venha até aqui muitas vezes, gostamos muito da sua presença.
Se colocasse uma hiena, será que todos perceberiam? Talvez, mas não resisti à minha pequenina felicidade...
Estamos um povo deprimido, disso não tenho dúvidas. Bem vistas as coisas, temos razões para isso.
Cada um de nós sempre encontrará os seus "cantinhos" de felicidade, que valem bem mais do que tudo o resto.