Quando andava na escola primária divertia-me, conjuntamente com os meus colegas, andar a espiolhar os ninhos. Quem descobrisse mais ninhos era mais respeitado. O risco que corríamos era mais do que suficiente para sermos repreendidos e, até, castigados pelo professor. Uma das lições que aprendíamos era não mexer nos ninhos dos pássaros. O próprio padre também considerava como “pecado” a nossa conduta. Ouvíamos e esquecíamos logo de seguida sempre à descoberta de novos ninhos, dos ovos, dos filhotes e da espécie em questão.
Mas também não deixávamos de apanhar pássaros com as nossas armadilhas e construir toscas gaiolas para os albergar, quase sempre os mais pequenos e indefesos. O que é certo é que ao fim de algum tempo acabavam por morrer, facto que interpretávamos com sendo resultante da acção deliberada dos pais que, ao ouvirem os gritos dos filhotes, preferiam a sua morte.
Alguns pássaros eram intocáveis, caso das andorinhas ou dos pintarroxos, por exemplo. Os pardais e os melros, pelo contrário, levavam na perna, à pedrada, à fisga ou com os costilos. Recordo-me de um “puto” mais novo querer fisgar um pintarroxo. Levou logo no cachaço! – Então não sabes que não se pode fazer mal a este pássaro? E lá lhe explicámos que a mancha vermelha no peito era devido a uma gota de sangue de Cristo quando quis tirar um espinho da coroa que se tinha enterrado na cabeça do Senhor, durante a Via Sacra. O puto, com cara de parvo, ficou de boca aberta, e só deverá ter aprendido que não ia meter-se mais com pintarroxos, porque senão levava no cachaço.
Nessas alturas os pintarroxos tinham uma vida flauteada, cantando ao amanhecer, embora não seja nada de especial, atraindo parceiros, marcando território e espantando inimigos. Enfim, ritual típico de tantas e tantas espécies de aves.
Acontece que devido à poluição sonora estas aves começam a ter comportamentos diferentes, passando a cantar de noite, devido ao facto de os níveis de ruído diurnos serem elevados. Dizem os entendidos que “nos pássaros, a cantoria nocturna por espécies normalmente diurnas pode ser uma forma de minimizar a interferência de barulho ambiente urbano”. Aqui está mais um dado, a juntar a tantos outros, apontando para o papel negativo dos efeitos ambientais nos comportamentos das diferentes espécies. Coitados dos pintarroxos, cantam de noite, não dormem e não cumprem os seus rituais.
Outros estudos sugerem que algumas espécies, a residirem nas grandes cidades, adaptam-se à poluição sonora através do aumento do volume dos seus sons, ou então chegam mesmo a modificar o estilo, versus os seus primos rurais, optando por um estilo “rap”!
As modificações operadas no canto poderão provocar situações novas, dificuldades em marcar território e no acasalamento, além de permitir ataques dos inimigos.
As mudanças do comportamento das aves poderão constituir um sinal evidente dos efeitos negativos da poluição, neste caso concreto, sonora. A origem humana do ruído é mais do que conhecida, e como estão a provocar os pintarroxos, que tal um valente cachaço nos poluidores?!
Mas também não deixávamos de apanhar pássaros com as nossas armadilhas e construir toscas gaiolas para os albergar, quase sempre os mais pequenos e indefesos. O que é certo é que ao fim de algum tempo acabavam por morrer, facto que interpretávamos com sendo resultante da acção deliberada dos pais que, ao ouvirem os gritos dos filhotes, preferiam a sua morte.
Alguns pássaros eram intocáveis, caso das andorinhas ou dos pintarroxos, por exemplo. Os pardais e os melros, pelo contrário, levavam na perna, à pedrada, à fisga ou com os costilos. Recordo-me de um “puto” mais novo querer fisgar um pintarroxo. Levou logo no cachaço! – Então não sabes que não se pode fazer mal a este pássaro? E lá lhe explicámos que a mancha vermelha no peito era devido a uma gota de sangue de Cristo quando quis tirar um espinho da coroa que se tinha enterrado na cabeça do Senhor, durante a Via Sacra. O puto, com cara de parvo, ficou de boca aberta, e só deverá ter aprendido que não ia meter-se mais com pintarroxos, porque senão levava no cachaço.
Nessas alturas os pintarroxos tinham uma vida flauteada, cantando ao amanhecer, embora não seja nada de especial, atraindo parceiros, marcando território e espantando inimigos. Enfim, ritual típico de tantas e tantas espécies de aves.
Acontece que devido à poluição sonora estas aves começam a ter comportamentos diferentes, passando a cantar de noite, devido ao facto de os níveis de ruído diurnos serem elevados. Dizem os entendidos que “nos pássaros, a cantoria nocturna por espécies normalmente diurnas pode ser uma forma de minimizar a interferência de barulho ambiente urbano”. Aqui está mais um dado, a juntar a tantos outros, apontando para o papel negativo dos efeitos ambientais nos comportamentos das diferentes espécies. Coitados dos pintarroxos, cantam de noite, não dormem e não cumprem os seus rituais.
Outros estudos sugerem que algumas espécies, a residirem nas grandes cidades, adaptam-se à poluição sonora através do aumento do volume dos seus sons, ou então chegam mesmo a modificar o estilo, versus os seus primos rurais, optando por um estilo “rap”!
As modificações operadas no canto poderão provocar situações novas, dificuldades em marcar território e no acasalamento, além de permitir ataques dos inimigos.
As mudanças do comportamento das aves poderão constituir um sinal evidente dos efeitos negativos da poluição, neste caso concreto, sonora. A origem humana do ruído é mais do que conhecida, e como estão a provocar os pintarroxos, que tal um valente cachaço nos poluidores?!
8 comentários:
Sinto um privilégio enorme pela primazia de comentar este maravilhoso e melodioso post.
Sr. Professor, conte com a minha mão para aplicar as cachaçadas que promete. Se me permite, proponho uma parceria, V. Excelência aponta o destinatário e eu aplico-lhe a cachaçada, com primor e discrição. Para cachaçar aqueles que estupidez ou maldade poluem aquilo que é de todos, merecem no mínimo uma cachaçada, isto, para início de castigo, porque muitos, provavelmente nem com 2 dúzias de cachaçadas iriam ao rêgo. Mas, proponho ainda que antes de desatarmos a aplicar o castigo, se lhes dê a possibilidade de "perceber" o mal que fazem. Se depois insistirem na asneira, não lhes perdoaremos.
Vamos dar mais uma oportunidade aos prevaricadores. Se não mudarem, então, eu digo-lhe quem é que deve levar no cachaço! Mas aí as suas mãos vão sofrer e não deverão chegar para as encomendas...
As minhas mãos estão calejadas pela rabiça do arado, por aí podemos ficar descansados, caro professor :). Preocupa-me mais que não se ganhe a consciÊncia necessária para que os frequentes atentados contra o ambiente, muitos dos quais, profundos e irreversíveis deixem de ser praticados. E quantos deles, sabemos nós, são tão fáceis de eliminar, bastando para tanto a utilização do bom senso e de algum empenho pessoal.
O pior é que já nem notamos a barulheira permanente em que vivemos, se calhar não foi só o pintarroxo que mudou, nós já começamos a ser estranhos e nem damos por isso. Quando entramos no carro liga-se o radio, em casa é o ruido permanente da tv ou parecido, o telefone nem é bom referir, uma praga, cada toque estridente que parece um choque.Quando há silêncio, como no campo, ou quando tudo se aquieta na noite e se calam os poluidores, há uma grata sensação de "enfim, descanso!"mesmo que já não se saisse do sofá há 2 h!Se pega a moda dos pintarroxos é que é pior...
Sou um priveligiado porque vivo no campo, apesar de ter de me deslocar diáriamente a Lisboa para trabalhar.
Vivo no cimo de um monte, a 45 km de Lisboa, produzo as batatas, cebolas, alhos, tomates. Os vizinhos presenteiam-me com diversos frutos e vegetais. Até ha 2 meses trás, criei um pequeno rebanho, atingi as 9 cabeças de ovinos da raça sufolck. Tambem criei galinhas, patos, perus e coelhos. Garanto. Tudo aquilo que eu crio, nãoconhece pesticidas, fertilizantes, os animais nunca provam qualquer tipo de farinha ou ração. Os sabores e a consistÊncia, tanto dos animais como dos vegetais, são completamente diferentes. Antes de optar pela mudança para o campo, morei num apartamento, um duplex, num condomínio em Paço d'Arcos. Uma vida sem conteúdo, uma rotina absolutamente alienada, os fins de semana eram de uma inercia atroz. No campo o tempo revela-se escasso para aquilo que se deseja fazer. Os serões, mesmo com a tv ligada e o som baixinho (só se levanta na hora dos telejornais e ao domingo, para escutar as opiniões do prof. Marcelo) ainda são preenchidos com conversas familiares.
Caro Bartolomeu
Temos que ver esse paraíso...
Ao dispor caro professor, em minha casa existem 2 quartos de visitas se pretender pernoitar.
Se aprecia a humildade, será recebido com o maior gosto, neste a que exacerbadamente chamo o "mon petit Shangrilá".
Caro Bartolomeu
Muito obrigado pela sua atenção.
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