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domingo, 27 de maio de 2007

Educar para a cidadania, uma responsabilidade social...

Estive a ler o Relatório de Sustentabilidade de uma grande e conhecida empresas portuguesa. Fiquei particularmente agradada pelo facto de a estratégia da empresa incorporar uma ideia forte e clara quanto ao seu contributo para o desenvolvimento sustentável.
A responsabilidade social das empresas não é uma ideia totalmente nova pois, desde sempre, as empresas e as organizações participaram no bem-estar colectivo. Sempre houve pensadores e empresários que colocaram a finalidade da actividade empresarial para além de uma resposta a uma necessidade económica e da pura obtenção do lucro.
Porém, essa consciência foi ganhando uma expressão mais clara e consensual à medida que a percepção dos problemas ambientais e a globalização dos problemas de desestruturação social foram suscitando uma ideia diferente do impacto da actividade económica.
Muito se tem falado sobre o desenvolvimento sustentável e sobre a responsabilidade social das empresas. São conceitos que, no entanto, não se confundem. Com efeito, a responsabilidade social das empresas deve constituir um contributo das empresas para o desenvolvimento sustentável. Traduz-se na vontade das empresas em integrar voluntariamente as preocupações sociais e ambientais nas suas actividades económicas e nas relações que estabelecem com as partes envolvidas, incluindo os trabalhadores e as suas famílias, os consumidores, os fornecedores e clientes, a comunidade local em que se inserem e os poderes públicos.
Existe hoje na esfera empresarial a percepção de que o sucesso das empresas e a sua estabilidade no longo prazo não se obtêm através de uma tónica na maximização do lucro a curto prazo, mas sim de um comportamento orientado pelo mercado, porém, coerente e responsável. As empresas estão conscientes de que podem contribuir para o desenvolvimento sustentável, gerindo as suas operações de modo a consolidar o crescimento económico e a aumentar a competitividade, ao mesmo tempo que asseguram a defesa do ambiente e promovem a responsabilidade social.
Em Portugal temos empresas que já são uma referência neste domínio. No entanto, a responsabilidade social surge ainda muito mais como um slogan do que como uma estratégia intrinsecamente assumida, associada a uma necessidade e a um dever ético.
É pena que as boas práticas na área da responsabilidade social das empresas – como acontece em outros domínios onde há bons exemplos para dar – não sejam divulgadas. Merecem ser conhecidas e reconhecidas pela comunidade; seria, igualmente, uma via importante de sensibilização para o reforço da adopção de responsabilidades sociais.
Portugal regista ainda insuficiências importantes em vários planos que efectivamente dificultam a adopção de atitudes de responsabilidade social das empresas: há carências de informação sobre o papel da responsabilidade social das empresas nas escolas e nas universidades; são insuficientes a sensibilização e os recursos das PME; há falta de transparência, derivada da ausência de instrumentos amplamente reconhecidos para conceber, gerir e divulgar políticas de responsabilidade social de empresas; os consumidores e os investidores não reconhecem nem apoiam suficientemente os comportamentos responsáveis e falta coerência às políticas públicas.
Relativamente a este último aspecto, também temos um défice para resolver. As nossas autoridades públicas não têm assumido cabalmente a missão que lhes compete de promover práticas sociais e ecologicamente responsáveis por parte das empresas.
Vamos sempre cair no mesmo problema: defice de educação e formação. É cada vez mais importante a educação para a cidadania. Gostava de ver este tema integrado nos currículos escolares das nossas crianças e dos nossos jovens. Educar para a cidadania é tão importante como aprender o português e a matemática (é capaz de ser uma provocação, mas é exactamente o que penso!). Seria um investimento muito produtivo. As crianças de hoje serão os adultos do futuro, aqueles que estarão à frente das nossas empresas e a governar o País…
Já diz o ditado popular: “De pequenino se torce o pepino”.

2 comentários:

LV disse...

Boa ideia!
Bom, mas tal desígnio já consta dos conteúdos leccionados aos alunos no ensino público. Com disciplina de igual designação, a que se acrescenta a Área de Integração e Cidadania e Empregabilidade para o Ensino Recorrente.
Pena é que estas disciplinas se demonstrem derivações simplificadas de conteúdos mais generalistas e essenciais. E são leccionados por docentes de áreas sem qualquer relação científica e pedagógica com estas áreas. Servem por vezes para colmatar horários de docentes efectivos nas escolas.
Conteúdos importantes, sem dúvida. Mas a sociedade - empresas, cidadãos - e o estado dão-lhe real importância? Apenas boas intenções.
Bem haja pelo texto,
Luís Vilela.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Luís
Seja muito bem vindo. Obrigada pelas suas notas. Correspondem, mais ou menos, à informação de que disponho. Na verdade, não se trata de uma opção estratégica assumida nas políticas públicas de educação. Uma tal aposta implicaria envolver todas as escolas, públicas e privadas, incluindo a escola primária, secundária e a universidade - com figurinos distintos adaptados ao nível de escolaridade, maturidade e áreas de especialização - com conteúdos certificados, com parte teórica mas muito orientado para experiências e vivências in-loco e envolvimento em projectos.
É preciso muito mais, mas não vejo, sinceramente, que o discurso (e a prática claro que também não) vá convictamente nesse sentido…