A bela ponte férrea do Pocinho lá está, no seu esplendor oitocentista, abandonada, a olhar de bem alto um rio sinuoso e maravilhoso. (esta não é preocupação de nenhum ataque terrorista)
As viagens de comboio do Porto até à Régua, seguindo para Barca d'Alva ou pela linha do Tua até Bragança, fazem parte da memória de infancia de todos quantos as fizemos num misto entre a grandeza da paisagem e a pequenez de uma automotora galgando medonhas alturas; imagens inesquecíveis que trazem à memória o comentário que a história atribui à Rainha D. Maria II, quando viajou na inauguração da linha férrea, tendo-a apelidado de "belo horrível"!
Cem anos após a inauguração da linha eis que se encerra ao tráfego de passageiros e mercadorias, no ano de 1985.
As populações, mais uma vez, barafustaram; sucessivos governos vão prometendo reabri-la, Durão Barroso disse em 2004 ser ponto assente reabrir a linha Pocinho/Barca d'Alva e que os estudos para a reabilitação do troço não deveriam ser entendidos exclusivamente numa óptica financeira, mas na perspectiva turística e patrimonial.
Nada se fez.
Vem agora a ministra da Cultura reacender as esperanças da região, com a construção do museu do Côa, relançando a promessa, possívelmente por saber que do lado espanhol o governo já disponibilizou verba para voltar a por os comboios a funcionar entre Salamanca e a fronteira com Barca d'Alva, verba suportada pelo Estado espanhol com apoio comunitário, para fins turísticos, aproveitando o seu património desactivado e o parque nacional de los Arribes del Duero.
Só que, do lado de cá, a preocupação da Refer ainda só está em evitar que se continuem a roubar os carris da linha abandonada e entregue ao mato... o ministério das Obras Públicas vai dizendo que se trata de matéria que já está contemplada nas orientações estratégicas para o sector ferroviário, mas parece que nestas "orientações estratégicas" não há qualquer referência ao troço Pocinho/Barca d'Alva...e o ministério da Cultura apressa-se em corrigir, dizendo que nunca falou em envolver despesas do Estado na reactivação da linha, mas sim que relembrou estarem reunidas as condições (com a construção do museu do Côa) para a linha ser explorada, com fins turísticos, se houver acordos entre privados e autarquias e se avançar para a construção de um cais fluvial que sirva o futuro museu.
Aqui está um projecto de aproveitamento de uma linha férrea lindíssima, a ligar Porto a Salamanca, convidando turistas de Espanha e França ao museu, à beleza única das vinhas do Douro, à gastronomia da região... será que não tem "categoria" para ser um projecto PIN?
As 53 mil camas que, nos próximos 5 anos, o ministro Manuel Pinho diz que vai abrir no Algarve não poderiam ter um desviozinho a norte?
E atrair turistas de qualidade?
Daqueles que têm outros gostos?
Daqueles que estão fartos de massificações ?
6 comentários:
Pois o abandono a que foi votada a ponte ferrea do Pocinho, é que me parece ser um verdadeiro atentado terrorista, sem dinamite, mas com efeitos não menos devastadores.
1º argumentou-se pela desertificação do interior, logo em seguida pela inviabilidade económica, mas agora, e como muito bem refere, surgem motivos fortes para que aquela saudosa e emblemática linha ferrea, seja reactivada.
Realente aquele caminho ferroviário não é uma viagem é um luxo. Que paisagens deslumbrantes, com potencial diabólico, tremendo.
Mas meus caros para isso não teria de existir uma visão estratégica, preocupada em criar uma conjectura favorável?
O que temos é uma série de indíviduos sem imaginação, que turisticamente como iniciativa inovadora apenas conseguem mudar o nome do Al(L)garve ... Estamos sempre atrás, não somos capaces de antecipar as novas tendências, o turismo de massas está em crise, qualidade e experiências são o futuro.
Relativamente ao Pocinho aconselho também uma visita à adega, muito bom. Tem um vinho que madura no leito do rio ...
Dr.a Clara, ele há coincidências extraordinárias! Tinha acabado de redigir uma proposta de adesão da minha Assembleia Municipal à iniciativa de uma Associação constituída para a reactivação e reinternacionalização da Linha do Douro, também animada pela Assembleia Municipal de Marco de Canavezes, quando acedi ao blog e deparei com o seu oportuníssimo post.
Eu que fiz, se não a última, uma das últimas viagens do Peso da Régua até Barca d´Alva, sinto o desperdício para o meu Douro e para o País de uma infra-estrutura de apoio ao turismo de uma região que, como acima é dito, deslumbrante.
Estamos sempre a comparar-nos com os nossos vizinhos. Mas não sabemos segui-los quando empreendem. Neste caso, como sabe, os governos regional e nacional já decidiram reactivar a linha do lado de lá...
Clara
A região do Douro tem um potencial turístico elevadíssimo. As tradições e as particularidades dos sítios devem ser valorizadas porque as tornam únicas. Pela Europa fora é exactamente isso que se faz. E depois Portugal não se resume ao Algarve. É preciso criar alternativas e circuitos complementares. Também aqui há ganhos na diversificação.
Os portugueses merecem que o seu património cultural, histórico, paisagístico seja protegido. É nosso e só nós podemos cuidar dele.
Dr F.Almeida, que boa ideia a sua; todos os Municípios que "navegam Douro acima" TÊM de se envolver, rápido e em força. E que tal um movimento de cidadãos da região, com a vitivinícolas todas que por lá estão instaladas?
Talvez nascesse uma ideia de investimento privado.
Caro Great Hondini,o vinho "que madura no leito do rio", no Pocinho, ainda é o orgulho nacional..., mas saia do Douro, vá ao Tua até Mirandela, largue o Tua...e dê um saltinho a Macedo de Cavaleiros e o "Valle Pradinhos" também não está nada mal!
Não acha?
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