Intimidar parece estar novamente na “moda”. O relato de bullying, segundo o qual uma criança doente com cancro está a ser vítima por parte dos seus colegas, e a inoperância das autoridades escolares em resolver o assunto, assusta-me. Assusta-me, porque esta forma de comportamento começa a tomar foros de epidemia com consequências graves nas vítimas e também nos próprios autores que, muito naturalmente, caso não sejam corrigidos, acabarão, mais tarde, por ter atitudes que reflictam essas tendências infantis ou juvenis. O problema não é só nosso, ocorre em grande parte do mundo e na sua génese estão muitos factores, tais como, perda da autoridade dos pais e dos educadores, entre outros.
No meu tempo de criança também havia alguns comparsas que manifestavam essas tendências, mas as coisas solucionavam-se de várias maneiras, ou por uma natural briga que, de um modo geral, não deixava grandes sequelas, já que passado pouco tempo, às vezes no mesmo dia, ou no dia seguinte, se retomava a amizade, ou, então, outras vezes, os mais velhos envergonhavam os pequenos “facínoras” relembrando-lhes que não era justo tratar assim os indefesos. Em caso de não acatarem estes conselhos, era certo e sabido que umas palmadas no cachaço eram mais do que suficientes para arrefecer os seus entusiasmos cobardes. Mas uma coisa era certa, tocar, ofender ou tratar mal alguém doente ou com incapacidade era impensável.
Recordo-me do irmão mais novo de um colega da minha turma que adoeceu gravemente com uma doença do sangue. Na altura foi-nos dito que ia morrer. Ficámos chocados e muito tristes. Não havia noite em que não rezássemos por ele. Regressou muito tempo depois à escola e rejubilámos. Hoje, passados mais ou menos quarenta e cinco anos, está vivo e bem de saúde, graças à medicina!
Outro aspecto relacionado com a intimidação tem a ver com o dizer mal. Nessa mesma altura, recordo-me do meu pai, meio esbaforido a tentar encontrar alguém que fosse à estação de Treixedo, a última antes de Santa Comba, para ver se conseguia avisar um colega ferroviário, proveniente de Viseu, de que a policia estava à sua espera para o prender na estação. Ouvi a conversa e pressenti angústia nos demais. Atrevidote, perguntei-lhe por que é que o queriam prender? O que é que ele tinha feito? Nervoso e para despachar-me disse: - Porque anda a dizer mal do Salazar! Mas está calado, ouviste?
Claro que fiquei calado, mas comecei a pensar porque é que se prendiam pessoas por dizer mal. De facto, a partir de então, comecei a ver que muitas criaturas, quando falavam de certos assuntos, nomeadamente do presidente do conselho, olhavam para os lados e baixavam a voz de tal forma que era impossível ouvi-las.
Hoje, parece que também não se pode dizer mal do primeiro-ministro, pelo menos no horário do expediente dos serviços públicos. Puxa! Outra vez?
Voltando à história do ferroviário em perigo, um carregador da CP agarrou a sua bicicleta e foi até à estação vizinha tentar alertá-lo. Entretanto, a minha curiosidade infantil levou-me a ver quem eram os tais policias e vi dois senhores de chapéu à espera do “rápido” de Viseu que terminava a marcha naquele ponto. Quando chegou, olharam para todos os que iam saindo do velho comboio fumarento, até que ladearam uma pessoa que eu conhecia muito bem, já que era frequentador da sua casa. Falaram durante breves instantes. Em seguida, encaminharam-se para fora da estação. Ao deslocarem-se, o meu amigo, com o ar mais tranquilo do mundo, sorriu e acenou-me com uma das mãos. Os outros, com ar esquisito, não disseram nada. Acenei-lhe e pensei, mais uma vez: - Então, uma pessoa é presa por dizer mal de outra! Mas nesta terra o desporto favorito das pessoas é dizer mal uma das outras e não vão presas...
No meu tempo de criança também havia alguns comparsas que manifestavam essas tendências, mas as coisas solucionavam-se de várias maneiras, ou por uma natural briga que, de um modo geral, não deixava grandes sequelas, já que passado pouco tempo, às vezes no mesmo dia, ou no dia seguinte, se retomava a amizade, ou, então, outras vezes, os mais velhos envergonhavam os pequenos “facínoras” relembrando-lhes que não era justo tratar assim os indefesos. Em caso de não acatarem estes conselhos, era certo e sabido que umas palmadas no cachaço eram mais do que suficientes para arrefecer os seus entusiasmos cobardes. Mas uma coisa era certa, tocar, ofender ou tratar mal alguém doente ou com incapacidade era impensável.
Recordo-me do irmão mais novo de um colega da minha turma que adoeceu gravemente com uma doença do sangue. Na altura foi-nos dito que ia morrer. Ficámos chocados e muito tristes. Não havia noite em que não rezássemos por ele. Regressou muito tempo depois à escola e rejubilámos. Hoje, passados mais ou menos quarenta e cinco anos, está vivo e bem de saúde, graças à medicina!
Outro aspecto relacionado com a intimidação tem a ver com o dizer mal. Nessa mesma altura, recordo-me do meu pai, meio esbaforido a tentar encontrar alguém que fosse à estação de Treixedo, a última antes de Santa Comba, para ver se conseguia avisar um colega ferroviário, proveniente de Viseu, de que a policia estava à sua espera para o prender na estação. Ouvi a conversa e pressenti angústia nos demais. Atrevidote, perguntei-lhe por que é que o queriam prender? O que é que ele tinha feito? Nervoso e para despachar-me disse: - Porque anda a dizer mal do Salazar! Mas está calado, ouviste?
Claro que fiquei calado, mas comecei a pensar porque é que se prendiam pessoas por dizer mal. De facto, a partir de então, comecei a ver que muitas criaturas, quando falavam de certos assuntos, nomeadamente do presidente do conselho, olhavam para os lados e baixavam a voz de tal forma que era impossível ouvi-las.
Hoje, parece que também não se pode dizer mal do primeiro-ministro, pelo menos no horário do expediente dos serviços públicos. Puxa! Outra vez?
Voltando à história do ferroviário em perigo, um carregador da CP agarrou a sua bicicleta e foi até à estação vizinha tentar alertá-lo. Entretanto, a minha curiosidade infantil levou-me a ver quem eram os tais policias e vi dois senhores de chapéu à espera do “rápido” de Viseu que terminava a marcha naquele ponto. Quando chegou, olharam para todos os que iam saindo do velho comboio fumarento, até que ladearam uma pessoa que eu conhecia muito bem, já que era frequentador da sua casa. Falaram durante breves instantes. Em seguida, encaminharam-se para fora da estação. Ao deslocarem-se, o meu amigo, com o ar mais tranquilo do mundo, sorriu e acenou-me com uma das mãos. Os outros, com ar esquisito, não disseram nada. Acenei-lhe e pensei, mais uma vez: - Então, uma pessoa é presa por dizer mal de outra! Mas nesta terra o desporto favorito das pessoas é dizer mal uma das outras e não vão presas...
4 comentários:
Embora meio disfarcadamente, tambem me parece que estamos a andar para traz, em muitos aspectos!
Saudacoes serranas d'Algodres.
Mais uma excelente e realista aguarela Sr. Professor. Infelizmente, começamos a notar a distÂncia que nos separa do tempo em que o apoio solidário, caracterizava as sociedades. A natural simplicidade das gentes que se olhavam com igualdade, perde-se. Hoje busca-se incessante e obsessivamente a diferença, pelo afastamento, pela conquista do vago e abstracto. O conteúdo dos sentimentos, aquele a que nos tempos que tão generosamente relatou no seu post, se chamava moral, perde-se a favor da vaidade ôca. Todos tentamos perceber o fenómeno e descobrir o modo de compor, de repor esse bem essencial e salvador da raça humana, a solideriedade. Apontamos a evolução dos tempos e a consequente alteração no modo e ritmo de vida das sociedades , como principal causa da sua perda, esquecendo-nos no entanto das vontade pessoal. A evolução tecnológia, parece ter transmitido ao homem a ilusão da auto-suficiência e da imortalidade. No entanto, a alienação aumenta e os valores moraise sentimentais enfraquecem.
Os delatores e os queixinhas sempre foram os aliados dessa doença insidiosa que é o alastrar-do-medo-não-se-sabe-de-quê. Os que gostam de ouvir dizer mal mas não têm coragem para o fazer vão a correr apontar o dedo ao menino que se atreveu, para com isso ganharem as indulgências da mestre-escola ao mesmo tempo que repetem a maledicência. São especialistas em diz-que-diz sem nunca poderem ser acusados de nada, as reguadas vão para o outro e ele tira prazer disso. Uma sociedade que alimenta esta cobardia não pode estar de boa saúde!
É, de facto, isso na escola chama-se bullying e no local de trabalho chama-se assédio moral ou terrorismo psicológico que, em alguns países, é considerado crime e dá direito a prisão.
Em Portugal, sei que andavam para aí a fazer qualquer coisa mas não sei no que é que ficou. Logo, não deve ter dado em nada.
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