1. O debate foi lançado há poucos dias por um grande estratega político, salvo erro numa convenção partidária ou coisa semelhante: não aos despedimentos nas empresas que apresentem lucros!
2. A nossa habitual comunicação social ávida de pronunciamentos grandiloquentes – sensatos ou insensatos pouco importa – ofereceu ampla ressonância a essa genial ideia e desde então têm-se sucedido as mais solenes tomadas de posição sobre o tema.
3. Ontem por exemplo o Secretário Geral da UGT apresentava uma variante muito curiosa da mesma ideia, afirmando que não faria qq sentido as empresas despedirem para “aumentarem os lucros” - nesta versão e num raciocínio “a contrario” já fará sentido despedir para não diminuir resultados...é uma versão bem mais liberal, que embora disfarçada/envergonhadamente já admite despedimentos em empresas com lucros...
4. Às vezes ainda pasmo (mas não devia pasmar) com a torrente de insensatez que vai percorrendo o País à medida que a crise se acentua: parece que esta, para além de atingir os rendimentos também está a atingir em força a (já muito escassa) lucidez de muitos dos chamados “opinion-makers”.
5. Com efeito, o princípio que consiste em dizer não a despedimentos em empresas com lucros não tem qq razão de ser.
6. A sua aplicação significaria, por exemplo, que (i) uma empresa em dificuldades, em perda acentuada de mercados por hipótese, com custos excessivos mas ainda em terreno positivo graças à inércia da conta de exploração, teria de aguardar mais 1 ou 2 anos para poder despedir colaboradores cuja produtividade é já baixíssima ou mesmo nula, ou que (ii) uma outra empresa porque tem ainda resultados positivos está impedida de tomar medidas preventivas de um sério agravamento da situação, só podendo tomar essa medidas quando já for tarde, arriscando mesmo a entrada em insolvência, ou ainda que (iii) uma empresa que hoje despediria 40 ou 50 colaboradores não o faz porque tem ainda resultados positivos, tendo que aguardar mais 1 ou 2 anos pela chegada dos resultados negativos e nessa altura em vez de despedir 40 ou 50 será obrigada a despedir 200 ou 300!
7. É claro que pode haver abusos em matéria de despedimentos e esses devem ser penalizados, mas isso tanto pode acontecer em empresas com lucros como nas que tenham prejuízos...e não é com regras tontas que se combatem os abusos - talvez até aumentassem...
8. Trata-se, como se constata, de um debate essencialmente estéril, que se esgota em grandes frases, em propaganda política vazia de conteúdo porque não vai ao âmago das questões e tem como objectivo dar espectáculo a um pobre País aturdido.
9. Ninguém se admire que com tais contributos a crise continue e até se vá mostrando cada vez mais próspera...a crise agradece!
8 comentários:
A economia real é um assunto demasiado sério para ser deixado aos políticos. Muitos falam, mas nunca arriscaram diariamente a sobrevivência da empresa, ou mesmo até do seu posto de trabalho. Lucros nada têm que ver com despedimentos, mas com oferta e procura, qualquer empresário mesmo com a 4ª classe sabe que necessita ter um número de trabalhadores adequado à produção, que por sua vez responde directamente à procura. Podemos discutir produtividade, motivação de trabalhadores ou formas de despedimento, mas a ideia que o empresário pode pagar aos trabalhadores em tempo de vacas magras com o dinheiro que vai buscar debaixo do colchão, já não pertence a estes tempos. Foi a propósito da Corticeira Amorim que surgiu a proposta, com a justificação que o homem mais rico de Portugal poderia pagar do próprio bolso, evitando os despedimentos. Demagogia pura.
Caro Tavares Moreira, o seu post pode dar ensejo a várias considerações sobre os efectivos objectivos dos governantes e aspirantes a governantes - governar ou manter o poder? - mas o António de Almeida, no comentário anterior, numa frase disse tudo. "A economia real é um assunto demasiado sério para ser deixado aos políticos". Eu, por mim, e como me parece até que já havia feito neste espaço, expando essa frase para a governação em geral.
A governação é algo demasiado importante e afecta a vida de demasiada gente para ser deixada aos políticos. Na realidade não lhes encontro utilidade absolutamente nenhuma. Tal como qualquer empresa, um país precisa que o governem, não de pão, circo e nada mais.
A crise agradece? Mas claro que agradece. A continuar assim ela manter-se-á ali aferrada de pedra e cal no adro da igreja a ganhar forças para uma arrancada em grande quando o pão, o circo e o entretenimento já não chegarem.
Caro Tavares Moreira
O ambiente, com as diferenças abissais, começa a "parecer-se", é quase paralelo ao que se viveu em 74/75 do século passado.
Não será igual, mas está a tornar-se ensandecido e, com a qualidade dos políticos que temos, a propensão para a asneira aumentou exponencialmente.
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira,
Reparou que os opinion makers até criticam a estratégia empresarial da Aerosoles em deslocalizar as suas unidades de produção para a Índia, porque por lá a mão-de-obra é ainda mais barata que a nossa? Qualquer pessoa com conhecimentos mínimos de Gestão raciocina e conclui: "Só agora?" Mas para os nossos dirigentes e para os seus apoiantes, gerir bem uma empresa significa: anti-patriotismo!
Enfim, são os políticos e opinion makers que temos. Para eles, tudo o que seja planear para além do segundo imediato é demasiado extravagante e de muito difícil compreensão...
Tenho de há muito concluido por uma característica muito peculiar entre nós.
A elevada propensão do português, para complicar as coisas simples.
Teóricos até mais não, pouco dados a gerirem no terreno, todos treinadores de bancada (como eu talvez).
Então na política, nem se fala.
Para azar deste povo.
BM
Eu acho que a Economia está a dar os primeiros passos como ciência séria, mas tenho a certeza absoluta que nenhum desses passos será dado pelo Sec Geral da UGT. É cá uma impressão minha...
O artigo é interessante no conteúdo, mas na forma é um pouco estranho, quiçá pelo tom professoral de quem do alto da cátedra só vê "burros", nomeadamente os "opinion-makers" de escassa lucidez, dos quais V.Exa parece não perceber que faz parte, e também os asininos colaboradores cuja produtividade é baixissima ou nula. Muita dessa produtividade talvez dependa mais de factores que a economia despercebe, noemsadamente das capacidades de liderança, gestão e motivação, ou seja, bem vistas as coisas, a equação talvez pese mais sobre a cabeça dos patrões que dos trabalhadores. Raramente tivemos liderença inteligente, sensata, dinamizadora e quem dá amendois, geralmente obtém macacos.
Este tipo de articulado de "sou-melhor-que-os outros" é típico de quem regra geral, fala muito e faz pouco, ou apenas vive á sombra de "rendibilidades passadas" que como se sabe, não garantem ganhos futuros, congratulando-se na critíca destrutiva, como parece ser apanágio do geral dos seus artigos, já que neles é rara a idéia aproveitável, limitando-se á reacção em vez da proacção, mas por aqui temos os Paul Krugman que merecemos.
Muito bem, ilustre comentador joah, o senhor vai mesmo ao âmago do assunto neste seu bem elaborado comentário...ficamos esclarecidos sobre a bondade da proposta de não aos despedimentos por empresas quando ou enquanto exibirem resultados positivos!
E congratulações também por aparecer de "peito aberto", não se refugiando em pseudónimo.
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