1. O ex-Presidente Sampaio emitiu ontem uma sugestão em torno do tema crise económica e financeira, que teve grande ressonância (sem surpresa) nos órgãos de comunicação social: a emissão de eurobonds como instrumento de combate à crise.
2. Não é a primeira vez que o Dr. Sampaio impressiona auditórios e comunicação social com pronunciamentos económico/financeiros. Aqui lembrei várias vezes o de 25.04.03, com a famosa expressão “há mais vida para além do orçamento”, a qual justa ou injustamente (pequena cedência ao Dr. Mendonça Pinto, meu ilustre amigo) produziu efeito devastador para a continuidade da penosa política de rigor orçamental que M. F. Leite até então protagonizara.
3. Não me vou pronunciar sobre os objectivos políticos da intervenção do Dr. Sampaio que algumas pessoas mais dadas a estas análises estão para aí fazendo. Tais objectivos, se existem, não me apoquentam em medida nenhuma.
4. Vou antes procurar muito sucintamente abordar a ideia dos eurobonds e a sua pertinência no actual contexto.
5. Não se trata de uma ideia nova, já na década de 80 foi discutida e creio que experimentada mesmo uma ou duas vezes, muito antes de existir ou mesmo de se falar no Euro. Passou para não mais voltar, apesar de algumas tentativas do ex-Presidente Delors para a ressuscitar.
6. Tratar-se-ia então da emissão de dívida (bonds) pela entidade União Europeia (euro), cujo produto seria depois repassado (mutuado) pela mesma União aos Estados membros necessitados em condições idênticas (prazo e juro) às da dívida emitida.
7. Significaria pois utilizar a capacidade de endividamento da União junto dos mercados – da Alemanha, da França e talvez dos Países Baixos, sejamos verdadeiros – para alargar as fontes de financiamento dos países membros em dificuldades (Grécia, Irlanda, Portugal, Itália...) sem agravamento das condições da dívida...uma nova “árvore das patacas” para aqueles que já se encontram sobre-endividados, usando uma expressão dos meus tempos de juventude...
8. Mais dívida, mais facilidades para endividamento não se ouve outra receita...talvez com os eurobonds se pudesse avançar mais afoitamente na realização do famoso Programão bem como aumentar a intensidade das políticas sociais como sugere o Dr. Sampaio...
9. Esta ideia não terá qq viabilidade no actual contexto organizativo da UE e tb de crise profunda instalada. Para ter alguma, seria necessário, entre outras condições (i) criar uma figura próxima de um Ministro das Finanças europeu (curiosamente sugerido ontem por George Soros), com autoridade indisputada sobre a política financeira dos Estados-Membros, bem como (ii) desenhar e implementar programas de ajustamento para os países assistidos semelhantes aos que o FMI aplicava penosamente nos velhos tempos em que o Escudo entrava em séria derrapagem por causa de desequilíbrios externos excessivos...mas muito inferiores aqueles que temos vindo a acumular, que continuamos e vamos continuar a acumular!!!...
10. Alguém crê que isso seja possível a não ser em caso de iminente ruptura do Euro?
20 comentários:
Senhor Doutor Tavares Moreira, como anónimo e impreparado cidadão, para tao elaborados conceitos económicos e financeiros, limito-me neste comentário a "achar".
E, o que eu acho, é que as «soluções» que têm sido difusamente apresentadas se baseiam grosso-modo no conceito "Dona Branca", com todo o respeito que me é possível ter pela memória da célebre "Banqueira do Povo".
Quer o Dr. Jorge Sampaio, como outras eminências da nossa praça, armados de cavaleiros resgatadores da finança e do poder económico, apontam ao coração do dragão crise, lanças que não ultrapassam a dureza e o tamanho de alfinetes.
Aliás, para ser mais objectivo devo dizer que estes cavaleiros-sem-montada, incitam a que se atirem lanças, não sabendo contudo onde se localizam os alvos, tão pouco quem está ainda disposto a empunha-las.
"Os senhores empresários devem exigir do governo e da união europeia" afirmava convicto o Sr. Dr. Jorge Sampaio... mas exijam o quê? com que qualidade reivindicativa?, quais são as garantias de que os senhores empresários dispõem? Em que hão-de os Senhores empresários investir neste momento?
Ora aí está! Já estava a tardar! É a entrada oficiosa na táctica Alberto J. Jardim. Começamos por dizer que a solidariedade europeia é um valor muito importante e acabamos a falar nos (cubanos) colonialistas alemães que nos querem esmagar com restrições orçamentais. Este sim é o desígnio nacional...
Muito interessante sua incursão pelo universo da Tavola Redonda, caro Bartolomeu, parabolizando as fantasias com que, à falta de melhor ou de alternativa, andamos agora entretidos...
Não me tinha apercebido dessa "os senhores empresários devem exigir do governo e da união europeia"...pobres empresários!
Caro Tonibler,
Acha mesmo que o Dr. Sampaio se aconselhou com o Dr. Jardim antes de "atirar esta lança" que mal toca no dorso do "dragão em crise" (para usar expressões de Bartolomeu)?
O senhor está mesmo muito bem informado...
Caro Tavares Moreira,
O desígnio de sermos uma região rica por pedinchice é algo que está embutido em todos nós e todos saberemos desempenhar o nosso papel quando chegar a altura. Não é preciso recebermos conselhos de ninguém, nós somos como térmitas.
Curioso.
Um antigo PR, nos tempos que correm, a falar no aumento da dívida - Sampaio, com uma conferência recente no IDN, "Contributos para uma estratégia nacional",
Outro antigo PR e na sua conferência no IDN, a recomendar "austeridade" (que aliás sempre praticou na sua vida)- Eanes.
Porque será?
BMonteiro
Caro Tavares Moreira,
Os PIGS, a nível económico, fazem jus ao nome. Como disse e muito bem um eurodeputado holandês, chegou a hora dos PIGS pouparem, ao invés de se apoiarem nas poupanças dos países da Europa Central, membros da U.E. Somos indisciplinados e temos de arcar com as consequências. Quanto ao Dr. Jorge Sampaio, o trabalho que ele fez enquanto PR é a prova que não devemos dar ouvidos aos conselhos que daí podem provir!
Eu honestamente, criava uma norma comunitária com este sentido:
quando a dívida pública ultrapassar 50% do P.I.B., o país tem 2 anos para o corrigir. Caso não o faça, a União deverá noemar um ministro das finanças para o país em causa. Tenho noção que isto seria impossível por causa das esquerdas.
Caro Tavares Moreira,
Os PIGS, a nível económico, fazem jus ao nome. Como disse e muito bem um eurodeputado holandês, chegou a hora dos PIGS pouparem, ao invés de se apoiarem nas poupanças dos países da Europa Central, membros da U.E. Somos indisciplinados e temos de arcar com as consequências. Quanto ao Dr. Jorge Sampaio, o trabalho que ele fez enquanto PR é a prova que não devemos dar ouvidos aos conselhos que daí podem provir!
Eu honestamente, criava uma norma comunitária com este sentido:
quando a dívida pública ultrapassar 50% do P.I.B., o país tem 2 anos para o corrigir. Caso não o faça, a União deverá noemar um ministro das finanças para o país em causa. Tenho noção que isto seria impossível por causa das esquerdas.
Pois é, nós desbaratamos e os outros sustentam-nos, sem condições, claro está!...Porque há vida para além do défice.
Sampaio no seu melhor!...
Ouvi dizer que o Dr. Samopaio (que foi PR durante dez anos, puah!) vai ser cabeça de lista do PS para o parlamento Europeu. Eles que o aturem por lá.
Caro Tonibler,
Venho solicitar-lhe o especial favor de me considerar excluído desse grupo "nós" que caracteriza no seu comentário.
Grato pela atenção a este pedido-potestativo...
Caro bravomike,
A. R. Eanes tem sabido manter uma postura diferente...não tem a preocupação de dar espectáculo, é uma pessoa simples, um patriota autêntico, tem alma de soldado, mas está muito só nessa condição...
Caro André,
Isso mesmo, a varrer é que vai o meu amigo!
Cuide-se que qq dia ainda lhe vão pedir o aval para os Eurobonds...
Caro Pinho Cardão,
Que haveria Sampaio de fazer se a onda está nesta direcção? Dívida sempre mais dívida para consolo dos portugueses...
E há que ser coerente com o "há mais vida para além do Orçamento"...
As preocupações com a consolidação orçamental tão expressivamente enunciadas aquando da posse do famoso governo de Santana Lopes foram certamente fruto de um período de quebra de lucidez...
Caro Tavares Moreira,
estou certo que quando chegar a hora seremos todos portugueses. E, afinal. quem mais podemos responsabilizar senão nós, portugueses? O Sócrates não chegou a PM por causa dos espanhóis (parece, mas não deve ter sido...)
Caro Tavares Moreira
O incontornável Presidente Sampaio, não quer, definitivamente, sair da ribalta.
A proposta ecoa a que o Sr Juncker realizou faz já alguns dois meses e que, segundo o que consta, está a "circular" nos corredores europeus.
Não descarte essa ideia, porque pode fazer caminho, (ou acha que o Presidente Sampaio "inventou" essa proposta, quando ela chegar, pode inscrever-se no "neo" clube das sibilas (tardias) de serviço).
Mas, e esse mas é muito importante, a ideia, "ventilada" supõe, pressupõe que sejam "acautelados" alguns efeitos perneciosos dessa "largesse".
Já pensou, Caro Tavares Moreira, que se pode ter o mesmo efeito, sem se ter o ministro "europeu" das finanças?
Para Portugal, Grécia e Irlanda, assinam a rendição da sua soberania económica e fiscal (Irlanda e Portugal, já o fizeram no sec XIX); para os casos "bicudos" Itália e Espanha, assinam, sem o formalizar, com as autonomias.
Resumindo:
Não descarte a ideia, porque vai fazer caminho,
Só será implementada, se se garantir um sistema que seja equivalente, ao de ter um ministro das finanças,
Sabe, no norte da europa, as aparências contam pouco, mas os efeitos não, ou porque acha que deixam as janelas abertas quando estão em casa?
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira
Veja o Dailly Telegraph de hoje. Pela primeira vez o Ministro das Finanças da Alemanha, assume que poderá ajudar os países "irmãos" do euro em dificuldades.
Facto próximo: o aumento dos CDS da Irlanda para 382 pontos base, isto é de ontem.
Facto longínquo: desde há muito tempo que os virtuosos querem controlar os maus alunos, chegou a hora deles.
Facto curioso: são dois países que se odeiam GER e Nl a, juntos, pedirem disciplina.
Vamos para um novo patamar e olhe que não serão apenas os PIIGS, a provarem a mézinha
Cumprimentos
joão
Caro Tonibler,
Renovo, agora com intensidade acrescida, o pedido-potestativo de me excluir do "nós"...
Desculpe a insistência mas trata-se de uma questão sanitária e elementar!
Caro João,
Sem por em causa as considerações que desenvolve em seu comentário,em boa parte pertinentes, insisto no último ponto do Post: uma solução deste tipo só para prevenir - e em última instância - o desmembramento do Euro...
Não se esqueça, ainda, que estamos numa Europa a 27 e aquilo que neste momento se está a passar nas economias do Leste da mesma Europa...quem precisa mais, a Polónia, Rep. Checa, Hungria,etc...ou os que já "mamaram" em força do Euro e agora se sentem dentro dum colete de forças porque querem prosseguir essa função aspiratória e sentem a fonte quase seca?
Caro Tavares Moreira
Não nos compreendemos.
Não estou a referir-me a uma emissão não controlada de dívida, através da emissão de títulos, comerciáveis e amarrados a um aval, neste caso, a um co-aval de estados soberanos.
Nada disso.
Estou a referir-me a um plano tipo fmi, ancorado em emissão de dívida titulada e co avalizada. A grande diferença é que os nossos "irmãos" do euro conhecem-nos melhor que os "primos" do fmi ergo, as condições são mais duros e controles mais eficazes.
Note que estamos numa situaçao excepcional e pode ser pretexto para uma reformulação do sistema.
A Alemanha aceitou, por vários motivos, a mesma soluçao/imposição da paz de Versalhes (1918):a alienação de 1/3 das suas receitas de exportação com a diferença de ter em troca: tempo para se reconstruir, tempo para se reunir.
Se a crise não atingisse os países exportadores, como o está a fazer, creio que já teríamos uma posição mais unilateral da Alemanha, (os ziguezagues da Sra Merckel seguem a curva da baixa de exportações alemãs).
Neste contexto, tanto a GER como a NL necessitam do euro (para poderem enfrentar a crise com as vantagens do tamanho/escala, estou a ser simplista) e o resto do euro necessita destes dois países (detêm os capitais, estou a ser simplista).
Realisticamente, a saída da crise passa pelo euro e por "ajudar" os "irmãos". Também passa pela europa de leste, mas aí o mal está compartilhado com os suissos, ao passo que no euro estão, mais desprotegidos.
sem estas condições/supostos partilho da sua análise.
Cumprimentos
joão
Caro João,
Mas c'os diabos...quem é que se referiu em 1º lugar à ligação entre Eurobonds e um programa (de ajustamento) tipo FMI: foi o Senhor ou fui eu?
Não me diga que já estamos ambos no estado em que se apresentou o ex-Ministro das Finanças do Japão na press-conference da última reunião do G7...
Caro Tavares Moreira
Desculpe.
Há dias maus e estava, ontem em dia mau.
Para memória:
Concordo consigo, quando afirma que eurobonds só nas condições que aponta.A GER já indicou que deseja ajudar, porque, enquanto economia exportadora, não pode deixar cair os seus clientes que lhe alimentam o crescimento, já que a procura interna não é grande, nem tem propensão a gastar, mesmo estimulada.
Concordo consigo quando afirma que a GER não vai querer deixar os maus alunos, os PIIGS, "safarem-se" mais uma vez.
Mas volto ao penúltimo parágrafo: algo vai ter que fazer para não perder os seus mercados externos.
Depois, todos concordam que os pequenos P,G e I, não colocam grandes problemas, pelo seu tamanho.
Os dois grandes, I e S, já fia mais fino, porque são demasiado grandes para serem "controlados/disciplinados".
(Nem vale a pena pensar em experimentar um caso exemplar, porque já sabemos que não resulta dado que não existe efeito de imitação, nem propopensão para a auto disciplina financeira).
O cenário europeu complica-se com a exposição da Au e da Bel, bem assim como a Suiça, junto com a GER aos problemas do Leste. Tanto o leste que já está dentro (Letónia), como o que está fora, (veja o caso da Ucrânia).
Um cenário plausível será o seguinte:
Limitações de acesso a liquidez, acoplado a um plano de recuperação à lá fmi, para os pequenos dos PIIGS. Estamos no € e não vejo solução diversa.Vamos ter comissários belgas ou alemães no ministério das finanças
Negociação autonomia a autonomia com os outros dois grandes.
Em alternativa
Negociação com o poder central, dos dois grandes, com a contrapartida de apoio às medidas a aplicar aos pequenos.
Apoio financeiro ao leste, com acesso pleno à liquidez, mas subordinado com plano à lá fmi clássico, algo que Tavares Moreira conhece bem. (Não estão no €).
Emissão de dívida europeia com as condições acima reunidas.
Acho é que este cenário deixou de ser longínquo, para ser muito próximo.
O cenário supõe que se vai evitar(a todo o custo) a saída, de qualquer dos membros do euro.
E supõe a manutenção do actual estádio de integração.
Nos próximos três/quatro meses veremos que cenários teremos.
Resta apenas lembrar-lhe que, arriscamo-nos, a dar graças por termos Durão Barroso como Presidente da UE, mesmo que isso lhe possa custar a recondução.
Cumprimentos
joão
Ok meu Caro estamos entendidos e vamos deixar o (ex) MoF japonês fazendo sua cura aliás bem merecida...
Quanto à receita que apresenta, algo complexo mas com alguma aderência à realidade, mais um ponto apenas: isso não será para já.
Digo-lhe que só lá chegaremos quando quando a nossa situação se tiver degradado ao ponto de o regime estar em causa...estamos a falar de + 2 ou 3 anos, até lá ainda temos espaço para muitas asneiras, mais asneiras, sempre asneiras!!!
Pequena nota final: números hoje divulgados mostram défice da balança corrente+ capitais em 2008= 10,6% PIB...BdeP "previu", há menos de 1 mês, défice de 9% do PIB - como explicar?!!!
Caro Tavares Moreira
Como nota final que nem sequer é discordante, mas divergente:
Posso estar enganado, mas, em primeiro lugar, tendo em conta as actuais circunstâncias, (internas e externas)e, em segundo lugar, a filosofia e a idiossincresia deste governo, o ambiente pode degradar-se mais rapidamente.
Reparou que há, pelo menos semana e meia que deixámos de ter o frenesim mediático mostrando que-este-governo-governou-melhor-que-todos-os-outros-porque-fez-tudo-o-que-os-outros-não-fizeram-por-não-terem-coragem?
Continuamos com a liturgia corta-fitas, mas isso vem com o cargo (então quando descobriram que podem por os outros a pagar a celebração da concessão, estamos num novo segmento por explorar).
Mas a fonte da juventude parou ou secou?
Continuam a servir pratos requentados, a QUIMONDA "cheira" a PIRITES, mas em alemão. O empresário que queria ser electrecista ( o outro queria ser mineiro) tanto poderá ser chinês ou alemão...Mas não têm mais nada para oferecer.
As receitas, porque não acreditam no governo minimalista e pró empresarial são a meio gás e o que é aterrador, não existe futuro ou vida depois de Setembro de 2009.
Por isso...
Cumprimentos
joão
Cumprimentos
joão
Tem razão, João, existe um ambiente de fim-de-festa, de cheiro a podre que tresanda nos corredores da política...já ninguém de bom senso pode acreditar no sucesso do País com estes políticos,este sistema de governo e esta polítca insana que nos tem sido impingida bem ao estilo da velha "banha da cobra" por chratred charlatães...
mesmo assim, mantenho a minha previsão dos 2 a 3 anos para a tal rescue operation...
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