1. Usando a frase mencionada em título, Martin Wolf, notável colunista do F. Times, analisa com tons muito negativos, em artigo publicado na edição de ontem, os dois programas avançados pela nova Administração americana: (i) programa de estímulo fiscal e financeiro (mais ou menos 50/50) à economia que o Senado acabou de aprovar, devendo agora ser concertado/cozinhado em articulação com o que havia sido antes aprovado pela Câmara dos Representantes para ter a aprovação final do Presidente e (ii) novo e volumoso programa de apoio ao “battered” sector financeiro, em reforço do famoso TARP, que o novo Secretário do Tesouro Geithner apresentou em termos ainda muito gerais na última 3ª Feira.
2. Wolf é de opinião que ambos os programas envolvem risco elevadíssimo de falhar, nomeadamente devido a uma questão prévia fundamental: ambos partem do princípio contido na expressão “Hoping for the best” - quer dizer que os seus responsáveis consideram que tudo vai correr bem...se não correr, não há solução, ou a solução será ao jeito da que foi “adoptada” em 1929...Wolf conclui assim que "hoping for the best is foolish"!
3. Não me proponho entrar na análise do notável escrito de Martin Wolf, para os nossos visitantes recomendo a leitura do artigo no site (www.ft.com/econforum) - que entendo valer bem a pena...
4. Vou antes utilizar a frase em título para dizer que nós, crédulos lusos, há vários anos temos sido dirigidos/arrastados ao sabor da mesma máxima “hoping for the best”...
5. Nestes últimos 4 anos em particular, tem sido um autêntico delírio de criação e edição sucessiva – e igualmente de falência sucessiva – de expectativas “rosa”. Meia dúzia apenas menciono, mas dezenas mais poderiam ser enunciadas:
5.1 As previsões de crescimento económico alteradas duas ou três vezes no mesmo ano, sempre para pior,
5.2 As fantásticas promessas de criação de dezenas de milhares de postos de trabalho, entretanto esfumadas, quando estamos a assistir a uma verdadeira hecatombe nesse campo,
5.3 As promessas de saltos tecnológicos ousadamente ambiciosos, que depois se transformam em operações de propaganda de contornos pouco credíveis e por isso facilmente ridicularizáveis como sucede com os famosos Magalhães,
5.4 As garantias de robustez irrefragável do sector financeiro para agora se assistir ao lamentável desfile de operações fraudulentas que nos é oferecido todos os dias,
5.5 Os grandes anúncios e compromissos de grandes reformas estruturais para as agências de “rating” – até elas, que tão distraídas têm andado – virem agora classificar de muito pouco eficazes,
5.6 As generosas linhas de crédito, de milhares de milhões de Euros se adicionarmos todos os anúncios feitos, para todos os sectores da economia, para agora as empresas dos sectores não protegidos da economia se queixarem amargamente da escassez e do tremendo encarecimento do crédito...etc, etc...
6. Quando aprenderemos que “hoping for the best is foolish”? Provavelmente nunca…
7 comentários:
Deve fazer parte das "forças ocultas". Não sabe que é insultuoso criticar a actuação do nosso perfeitíssimo PM?
Em relação ao pacote de estímulo(!), há coisas que cada vez me deixam mais confuso (e desconfiado), depois de ler artigos como este: Feb. 9 (Bloomberg) -- The stimulus package the U.S. Congress is completing would raise the government’s commitment to solving the financial crisis to $9.7 trillion, enough to pay off more than 90 percent of the nation’s home mortgages.
The Federal Reserve, Treasury Department and Federal Deposit Insurance Corporation have lent or spent almost $3 trillion over the past two years and pledged up to $5.7 trillion more. The Senate is to vote this week on an economic-stimulus measure of at least $780 billion. It would need to be reconciled with an $819 billion plan the House approved last month.
Only the stimulus bill to be approved this week, the $700 billion Troubled Asset Relief Program passed four months ago and $168 billion in tax cuts and rebates enacted in 2008 have been voted on by lawmakers. The remaining $8 trillion is in lending programs and guarantees, almost all under the Fed and FDIC. Recipients’ names have not been disclosed.
Caro Tavares Moreira,
Pessoalmente, parto do princípio que tudo pode correr mal e portanto é preciso preparar bem as coisas. Em Portugal, parte-se do princípio que tudo vai correr bem. Quando algo corre pior que o expectado(maioria das vezes), contemplam-se desgraças. Até quando é que vamos mudar esta postura de negligência consciente?
Fiz umas pequenas contas baseado no CIA factbook, e apercebi-me que cada português deve cerca de 40 mil€ ao estrangeiro. Até quando vai ser preciso agravar este cenário, já de si preocupante???
Caro rxc,
Forças ocultas?! Quer mais claridade do que a que existe nesta tribuna aberta e livre do 4R?!
Caro André TM,
Na esteira de Tonibler direi que se cada português deve ao exterior € 40.000,00 - em média claro,eu por exemplo preciso de um parceiro que deva € 80.000,00 para juntos fazermos essa média...- então o problema já é mais do exterior do que dos portugueses...
Tomara que no Parlamento, a chamada casa da Democracia, nos pudéssemos congratular por termos o mesmo nível de lucidez e clarividência que se vê encontra neste (e felizmente noutros) blogues nacionais.
Caro André, a sua atitude corresponde à do "profeta da desgraça", como agora é moda dizer-se em determinados círculos políticos, em que qualquer acção, por mais disparatada que seja, é sempre virtuosa. O estranho é que a realidade quase sempre confirma aquilo que apontam. Se fossem levados mais a sério em tempo útil, talvez não caíssemos tão amiúde na euforia que inevitavelmente leva à depressão.
Registo seu cumprimento, caro rxc, que agradeço em nome da comunidade do 4R!
Olá Tavares Moreira
Aguardo visita e comentários ao nosso espaço.Tenho passado por aqui, de futuro passarei para comentar.
luisa
www.voxnostra.blogspot.com
Bem-vinda seja, ilustre Luísa, ficamos à espera de seus vibrantes e ousados comentários - concorrendo em força com o afamado Tonibler!
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