Este foi mais um dos fins-de-semana destinado a apurar os vencedores do frenético concurso "Qual de nós é mais de esquerda?".
É evidente a competição entre PS, PCP e BE para aparecerem aos olhos do eleitorado como os mais legítimos intérpretes da esquerda. E bem visível o esforço para criar a ideia de que ser de esquerda é abraçar causas "práfrentex", sem qualquer estruturação ideológica mas cavalgando esta onda favorável de "causismos" pragmáticos, supostamente fracturantes nos costumes e estadualistas na economia.
Por isso o PS diz agora, ao fim de quatro anos de responsabilidade exclusiva por uma governação que acentuou fortemente as desigualdades sociais, que devem ser os ricos a pagar a crise (como se fossemos um país de ricos - que infelizmente não somos - e não de pobres!). Ou introduz agora na agenda, e só agora, temas de uma pretensa modernidade social, como o casamento entre pessoas do mesmo género.
Que não o faz por razões ideológicas, é evidente, e essa evidência ressalta no incómodo de alguns históricos do partido. A direcção política do PS fá-lo por um instinto de conservação do poder, caldeado pelo calculismo com que projecta o seu posicionamento para as próximas legislativas.
O PS olha para as sondagens e vê nelas a indicação de que a ocupação do espaço do centro que ensaiou com êxito em 2005 (ajudado pelo desastre governativo anterior) se mantém segura face á incapacidade do PSD em reconquistar esse eleitorado, mas segura também pela promessa de reformas e confiado na moderação e no centrismo de José Sócrates. Não me espantaria que o PS admita até poder beneficiar de mais algumas transferências deste sector, se não estancar a notória erosão do PSD.
Mas o PS já entendeu também que o mesmo não acontece com a parte da sua base social de apoio identificada com os valores tradicionais do socialismo mais ideológico e menos pragmático. Essa resvala a olhos vistos para o PCP e para o BE, em especial para este último, que no seu congresso deixou claro que já não é uma organização de causas mas um partido com uma estrátégia de (partilha do) poder, que se sente capaz de jogar no mesmo tabuleiro em que jogam os partidos tradicionais.
À direita do espectro partidário, o CDS-PP recolhe os réditos da sua boa prestação parlamentar e sobretudo dos temas sabiamente lançados para a agenda, os únicos, em boa verdade, que colocaram em apuros a maioria. Se mantiver essa capacidade, reforçar-se-á, algo que era impensável no princípio da legislatura, onde não poucos prognosticavam o fim por dissolução no PSD.
Faltam, é certo, largos meses para as eleições. Um mês em política é muito tempo. Muita coisa pode mudar. E em oito meses, se como tudo indica se agudizarem os efeitos da crise, pode bem acontecer que a ideia de uma "esquerda salvadora" se esvaia, ou que se perceba que os temas sociais fracturantes não passam de fraco paliativo e não resolvem a falta de emprego, a falta de produção, a falta de pão.
Porém, a acontecer isso sem que ao centro o PSD se afirme como alternativa, estou em crer que tenderá a ser bem maior o descrédito de muitos eleitores nos actuais actores partidários, aumentando o número dos que, desacreditando, se absterão.
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Vamos observando. E corrigindo, sendo o caso.
2 comentários:
História de uma rã
de Olivier Clerc
Da alegoria da Caverna de Platão para Matrix, passando pelas fábulas de La Fontaine, o idioma simbólico é um meio privilegiado para induzir à reflexão e transmitir algumas ideias.
Olivier Clerc, o escritor e filósofo, nesta sua breve história, pela metáfora, põe em evidência as funestas consequências da não consciência da mudança que infecta nossa saúde, nossas relações, a evolução social e o ambiente.
Um resumo de vida e sabedoria que cada um poderá plantar no próprio jardim para desfrutar seus frutos.
A História
“A rã que não sabia que estava sendo cozinhada.
Imagine uma panela cheia de água fria na qual, nada tranquilamente, uma pequena rã. Um pequeno fogo debaixo da panela e a água aquece muito lentamente. Pouco a pouco, a água fica morna e a rã, achando isto bastante agradável, continua a nadar.
A temperatura da água continua subindo. Agora a água está quente, mais do que a rã pode apreciar, sente-se um pouco cansada, mas não obstante, isso não a assusta.
Agora a água está realmente quente e a rã começa a achar desagradável, mas está muito debilitada, então aguenta e não faz nada.
A temperatura continua a subir, até que, a rã acaba simplesmente cozida e morta.
Se a mesma rã tivesse sido lançada directamente na água a 50 graus, com um golpe de pernas teria pulado imediatamente da panela.
Isto mostra que, quando uma mudança acontece de um modo suficientemente lento, escapa à consciência e não desperta, na maior parte dos casos, qualquer reacção, oposição, ou revolta.
Se nós olharmos para o que tem acontecido em nossa sociedade, durante algumas décadas, podemos ver que nós estamos sofrendo um lento modo de viver ao qual nós nos acostumamos.
Uma quantidade de coisas que nos teriam horrorizado há 20, 30 ou 40 anos atrás, foram pouco a pouco banalizadas e hoje elas perturbam ou apenas deixam completamente indiferente a maior parte das pessoas.
Em nome do progresso, da ciência e do lucro são efectuados ataques contínuos às liberdades individuais, á dignidade, á integridade da natureza, á beleza e á alegria de viver, lentamente mas inexoravelmente, com a constante cumplicidade das vítimas, desavisados e agora incapazes de defender-se.
As previsões para nosso futuro, em vez de despertarem reacções e medidas preventivas, não fazem outra coisa a não ser a de preparar psicologicamente as pessoas a aceitarem algumas condições de vida decadentes, alias dramáticas.
O martelar contínuo de informações dos média satura os cérebros que não podem distinguir mais as coisas...
Quando eu falei pela primeira vez destas coisas, era para um amanhã.
Agora, é para hoje !!!
Consciência ou cozinhado, precisa escolher!
Então... se você não é, como a rã, já meio cozido, dê um golpe de pernas, antes que seja muito tarde.
NÓS JÁ ESTAMOS MEIO-COZIDOS ? OU NÃO ?"
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Caro Dr. J. Ferreira de Almeida, considerei muito interessante esta história, e penso que se aplica ao seu Post.
Seremos rãs já cozidas ?
Ou como rãs que somos, a caminho de ficarmos cozidas, não podemos, nem devemos DESISTIR ?
cumprimentos e boa semana de trabalho
Muito a propósito essa alegoria, Pézinhos.
Desistir? Nunca!
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