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quinta-feira, 15 de julho de 2010

O crepúsculo do Direito?



Leio no Público que o Senhor Provedor de Justiça entregou ontem no Parlamento uma proposta de código de boa conduta administrativa. Nela se contêm, com honras de destaque na notícia, proposições como esta: "Em caso de erro, os agentes públicos devem reconhecê-lo e estar disponíveis para a sua correcção".
Quando as instituições sentem necessidade de escrever em códigos regras desta natureza, não é somente a confirmação plena da crise do dever e da consciência da responsabilidade individual nas sociedades actuais  - de que nos fala Gilles Lipovetsky numa obra que muitos aqui conhecem (O Crepúsculo do Dever - A ética indolor dos novos tempos democráticos, 2ª ed. Dom Quixote, 2004). É acima de tudo um tremendo sinal da profundíssima crise de eficácia do Direito.

5 comentários:

Tonibler disse...

"Em caso de erro, os agentes públicos devem reconhecê-lo e estar disponíveis para a sua correcção"


E ganham o prémio da Delloitte na mesma?

SC disse...

Caro Ferreira de Almeida,
Em vez de ver isto como "último sinal de uma profundíssima crise da eficácia do Direito", hoje estou optimista, apetece-me ver isto como um sinal da saída do Direito da regulação do "bem e do mal" e regressar às suas origens, regular o "certo e o errado".
Pode ser que isto represente o nício da exterminação das normas legais de palavras como "deve" e "deverá" e deixá-las então para os "manuais de boa conduta", devolvendo ao direito o seu instrumento fundamental: o rigor na lei
Tenhamos esperaça.

SC disse...

Ops, as minhas desculpas pela repetição.
Do primeiro recebi um erro de que não tinha passado e reescrevi. Mas afinal sairam os dois. Estes computadores às vezes fazem-nos fazer cada figura!

Anónimo disse...

Ficou em estereofonia, para se ouvir melhor, meu caro SC.
Não me custa perceber a sua visão e não ando longe dela. Mesmo correndo o risco de alguém me arremessar com o horrível epíteto de utra-super-neoliberal (uma forma irrecuperável de afecção social horrível, como sabe, de que a manifestação mais benigna é "ser de direita"), acredito que viveremos numa sociedade mais livre quando mais apostarmos na auto-responsabilização individual e colectiva. Mas nessa mesma lógica, não julga que existem comportamentos que são devidos não por constarem de códigos de ética mas por corresponderem a regras básicas de conduta ou a consciência do dever?

SC disse...

Concordo plenamente que os comportamentos devidos deviam funcionar como regras básicas de higiene. Mas, como estas, a conduta ética surge a partir do exemplo. E na falat dele …
Lembre-se que já o Moisés sentiu a necessidade de publicar um código de ética. E gravou-o na pedra!