1. Em textos editados nos últimos meses, procurei chamar a atenção dos nossos leitores para o facto de os juros da dívida pública, segundo a versão do Boletim Mensal de Execução Orçamental da DGO, tanto em Abril como (sobretudo) em Maio, revelarem um comportamento dificilmente explicável.
2. Com efeito, no período de Janeiro a Abril, a conta dos juros (e outros encargos) da dívida apresentava uma queda de 15% em relação a idêntico período de 2009, sendo que em Maio essa diferença se alargava para 25%...
3. Tudo isto quando o montante médio da dívida directa do Estado, em qualquer destes dois períodos, tinha aumentado 12,5% em relação aos valores de 2009 e as taxas de juro não cessavam de subir...
4. Episódio estranho, este, sugerindo a ocorrência de um fenómeno muito raro, “milagroso” porventura, de atrofiamento físico dos juros da dívida pública...
5. Estranheza exacerbada pela explicação imperscrutável, contida no Boletim em causa, segundo a qual esta redução se ficava a dever a um comportamento “intra-anual” dos juros...
6. Comportamento “intra-anual”?! Mas isso não se conseguia perceber, uma vez que se era essa a razão, então também em 2009 os juros teriam sido baixos neste mesmo período, não sendo possível que em 2010 baixassem em termos relativos, menos ainda naquela radiosa expressão...
7. Esta manhã, antes mesmo da divulgação do Boletim de Julho, o Governo veio já informar que este “milagre” dos juros acabou e que os encargos com juros no período de Janeiro a Junho sobem cerca de 2,2% em relação a igual período de 2009...
8. Depois de no mês anterior estarem a cair 25%, o que de extraordinário se terá passado em Junho para uma reviravolta desta dimensão?
9. Esta situação é ainda menos inteligível quando se sabe que a contabilização dos juros da dívida pública deve seguir uma regra de mensualização, sendo os encargos contados sobre o saldo da dívida, em função da respectiva taxa de juro e independentemente das datas de vencimento dos cupões...
10. O mais extraordinário é que a explicação para esta súbita variação de Maio para Junho, dada pelo responsável governamental do sector, é exactamente a mesma que servia para justificar o “milagre” dos meses anteriores...o comportamento “intra-anual” desta rubrica da despesa!
11. Ora vá-se lá perceber esta novela! Assim, subitamente em Junho, lá se foi o milagre dos juros! Acabou-se o sonho!
4 comentários:
Como Portugal deixou de ser um país à mercê dos especuladores, das agências ao serviço da economia de casino e dos vulcões, muito por influência de uma resposta eficaz no sentido de uma construção europeia mais sólida, já não faz sentido contabilizar o proveito de estarmos a pagar juros abaixo daquilo que o nosso risco obrigava.
Ou quer dizer que se criou uma empresa pública de gestão da frota da armada, ou coisa parecida, para onde meter mais depesa...
Assim, de repente...
Esses milagres financeiros
carecem de veracidade,
não é com sonhos trapaceiros
que se exibe a verdade.
Com os sonhos desvanecidos
entre milagres tão brumosos,
esses sonhos entorpecidos
revelam-se assaz fumosos!
Caro Tonibler,
Se me permite, recomendo que registe a patente dessa ideia-técnica para descida dos juros...
Olhe que pode bem tornar-se num serviço transaccionável internacionalmente, ajudando a melhorar a competitividade da economia portuguesa.
E ser utilizada por outros estados em situação de penúria, como forma de aliviar essa situação!
A sua poesia anti-sistema ajusta-se bem a esta "brumosa" novela de juros abaixo, juros acima, caro Manuel Brás!
Caro Paulo,
Constato então que não é só o J. Mourinho que recorre a essas sofisticadas técnicas, tb a brigada "armani" anda nessa onda pelo que conta!
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