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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Íris

Nomes. É preciso dar um nome a tudo e a todos, sem nomes caímos no anonimato e com nomes morremos, geralmente, como anónimos. Afinal para que servem os nomes? Para criar a ilusão de que existimos, sem eles não seria possível viver ou fingir que se vive. Olho para o lado e vejo sede de nomes, todos têm um, ou mais do que um, mas para quê? Para escrever numa lápide, que o tempo se encarregará de apagar, gozando e desprezando as almas que acreditaram que viver valia alguma coisa. E se não for uma lápide, pode ser uma folha de papel, uma carta de amor ou uma crosta de uma árvore, todos desejosos de eliminar o que quer que seja, e conseguem-no. Os nomes foram criados para um destino fatal, serem esquecidos, e mesmo os que teimam em perpetuar-se não perturbam os seus donos, porque estes esqueceram-se de que um dia existiram.
Não há nada mais gratificante do que o desaparecimento de um nome. Quando isso acontece é como se nunca tivesse existido, e quem não existe saboreia uma felicidade impossível de descrever.
Nasce uma estrela e dá-se-lhe um nome. Descobre-se um calhau perdido no espaço e apressamo-nos a dar-lhe uma designação, seja compreensível ou não, mas é imperioso que a tenha, porque se não tiver não existe, logo, para existir é preciso ser-se batizado. O mesmo acontece com os humanos. Nasceu, tem de ter nome. Depois é uma questão de imaginação, de gosto, ou de o que quer que seja. Nome? Sem nome não há existência, apesar de ter havido momentos em que existiram seres sem nomes. Olhavam-se e reconheciam-se. Depois verbalizaram fonemas, e os "hugs" e "hogs" deram lugar à constelação galática dos nomes atuais.
Teve uma menina? Parabéns. Teve um menino? Parabéns. Quantos filhos tem? Como é que se chamam? Perguntas banalíssimas que nunca ficaram, até hoje, sem respostas. E, além de mais, propiciam uma nítida explosão de orgulho, basta ver o olhar e ouvir o timbre de voz que mudam radicalmente. Íris. Íris? Porquê é que escolheu esse nome? Andei a fazer pesquisas. Pesquisas? Onde? Na internet, claro. Queria escolher um nome pouco vulgar, que não andasse por aí aos montes, que fosse diferente, raro, que marcasse a diferença entre a minha filha e as filhas dos outros. Calei-me. Não comentei e prossegui nas minhas tarefas habituais. Não tenho nada contra o nome Íris, que me fez lembrar de repente, o olho, e quem, por acidente, a tivesse perdido e causado uma angústia ainda hoje não resolvida, ou o velho deus egípcio, Osíris, sim, os deuses para existirem, também, têm de ter nomes. Diferença? Ser-se diferente? E logo à nascença? Alguma tendência nobiliárquica que até os plebeus não conseguem esconder? Às tantas! Diferenças à espera de serem esbatidas, de adormecerem e, finalmente, acabarão por ser esquecidas..
Uma pequenina fração de tempo é mais do que suficiente...

2 comentários:

good churrasco ó auto de café.... disse...

o nome serve para segregar, para isolar, na unidade básica humana que é a família restrita e acima dela o clã...o nome serve para formar afinidades sociais

Catarina disse...

Íris, faz-me lembrar um outro. “Facebook”, nome que um casal pôs ao seu primeiro filho. Pobre criança que não tem culpa da falta de imaginação dos seus progenitores.

O cuidado com que alguns pais escolheram os nomes para os seus gêmeos também é digno de menção e de frustação. Kevin e Kyle. Anne Marie e Marie Anne. Distingui-los(as) não é tarefa fácil para os professores ou mesmo para os familiares!