Frequento com uma certa displicência as redes sociais. Apesar de alguns perigos e dissabores tenho de reconhecer, igualmente, algumas vantagens. Acabo por saber muito sobre a personalidade de conhecidos e desconhecidos, aprendo imenso com os comentários e análises críticas dos bem intencionados e surpreendo-me sempre com o comportamento menos correto e, até, por vezes, ofensivo de outros. No fundo consegue-se uma interação quase que instantânea com várias pessoas representantes das diferentes tendências e formas de ser. No entanto, não posso deixar de dizer que fico muito preocupado com algumas ideias. Uma das áreas mais apetecíveis tem a ver com a atividade política. Queixas e críticas pertinentes não me causam qualquer prurido, pelo contrário, são sempre bem-vindas, porque podem contribuir para a melhoria de comportamentos que deveriam ser escrupulosos e transparentes. O pior é quando atacam de forma genérica, englobando tudo e todos no mesmo saco. Mais grave ainda é quando vislumbro ataques ao sistema democrático. Insultar e denegrir instituições, que são a base do sustentáculo democrático, provocam-me medo, muito medo, por vários motivos, um dos quais tem a ver com o cerceamento da liberdade. Homem sem liberdade não é homem, é apenas um escravo dos defensores de ideais totalitários. E eles andam por aí, sem qualquer pudor, argumentando com as fraquezas e os défices de honestidade de muitos que encontraram na política a forma mais rápida de vencer e de estar na vida. É um facto o défice de qualidade de muitos políticos. Por esse motivo são facilmente objetos de crítica e de ataques ferozes. Construir slogans ou movimentos contra os mesmos passou a ser uma espécie de desporto. No entanto, se estes movimentos não forem travados - o que eu considero como presumivelmente improvável -, podem levar à queda da democracia com todos os inconvenientes daí resultantes. Prefiro, mil vezes, viver com o défice de qualidade de muitos que usam ou se aproveitam da política para atingirem os seus fins, do que partilhar ideias totalitárias baseadas em princípios "nobres" mas que escondem aquilo que a história está farta de parir: dor, tortura, morte e a eliminação do melhor bem que podemos usufruir neste reles e perdido planeta, a liberdade. Em vez de se porem a vociferar contra o que está mal, o que deveriam fazer era participar mais activamente na vida política, na vida associativa e desenvolver até à exaustão a cidadania. Mas qual quê? A maioria, contestatária, prefere sentar-se frente ao computador, entrar no mundo virtual e apelar a movimentos simplistas e muito perigosos. Não seria melhor abandonar o virtual e ir para o mundo real tentar substituir os que lhe estão a provocar prurido? Claro que seria, mas, para esse efeito, é preciso muita coisa, determinação e outras coisas que não são aconselháveis dizer, por mera questão de educação. Subentende-se, não é verdade?
8 comentários:
Eu não sei se isto é uma questão de tomates, de pepinos, de aipo ou cogumelos! Sei apenas – ou tenho a veleidade de pensar que sei – que há povos que têm uma propensão inata para serem liderados apenas, para ficarem inertes. Liderar dá muito trabalho, requer competência, iniciativa, formação...
Não obstante, continuo a pensar que se se investir na educação, na formação a sério desta geração, talvez as coisas mudem.
Por outras palavras, concordo com o caro Prof! : )
Parece-me que isto não é uma questão de ter ou não ter tomates.
Com o tempo aprendi a saber quais as redes sociais que quero visitar.
Para mim nem todas interessam, mas para outros a situação é diferente e aquilo que não gosto para eles tem outro sabor.
Devemos respeitar e ser respeitados.
Ninguém é forçado a entrar onde não gosta. Se aconteceu pode sair como entrou. Não precisamos da violência das palavras.
É indubitável que o sistema democrático é o melhor dos sistemas. Mas também é indubitável que o sistema democrático não pode ser um lugar formal habitado apenas por alguns, fruto da imposição da nossa racionalidade (ou irracionalidade). Desde logo porque a qualidade da nossa democracia parece depender, em última instância, de nós próprios. Mas também, desde logo, porque é preciso questionar se se vive numa democracia real quando instrumentos mais de ditadura das convicções e dos princípios são diariamente usados a favor de corporações e grupos restritos de interesses.
A vantagem desta Quarta República é ser um instrumento de aperfeiçoamento, um espaço de debate e pluralismo, um afirmar de novos instrumentos democráticos rasgando novos caminhos que levem a uma verdadeira inclusão.
Para uns, "objecto" deve ser escrito como "objeto": dou de barato, soa-me a como falo sem distorções. Para outros acto deve escrever-se ato: não largo mão de um "acto" que me merece uma pausa. E desdenho ato que me soa a coisa bem diferente da primeira. Da opção pela mudança, no entanto, devia a "democracia" ter-se respeitado a si própria, referendando-se e dando-se a todos os cidadãos sem excepção. A língua, mesmo na sua forma escrita, não se reescreve, inscreve-se.
A cidadania é, de facto, "um acto" que não nos pode "atar" à nossa relação com o instalado, o cómodo, os nossos egoísmos e idiossincrasias, a defesa reflexa do nosso lugar na sociedade e no mundo elitário a que julgamos desde sempre pertencer. Tem de ser um processo contínuo de melhoria colectiva sem defraudar o individual. Muito caminho já se têm feito e muito fizeram as redes sociais, ao mostrar que a democracia é um espaço amplo, tolerante, inclusivo, de todos para todos, aberto e verdadeiramente plural. Quando olhamos para os outros devemos nos libertar de nós próprios, dos nossos orgulhos, determinação, até dos nossos tomates (ou da falta deles, já que a necessidade de tomates na vida pública significa que o jogo de interesses floresce num espaço em que nos devíamos libertar de todas as formas de ismos - até dos totalitarismos, quanto mais dos egoísmos) e isso, sim, é algo que exige de todos a maior das determinações: a de sermos capazes de pensarmos que há vida para além das nossas convicções e que o nosso mundo é apenas uma pequena partícula na construção de um espaço colectivo (não colectivizado) melhor.
Concordo, assim, com Massano Cardoso quando afasta o totalitarismo e promove a liberdade como o bem comum mais nobre e elevado. Não concordo com ele, no entanto, quando desdenha a esperança num mundo melhor, como se toda a mudança sofra da inevitabilidade de não podermos transformar o homem num homem melhor (o homem transformado por valores, não têm necessariamente de ser lobo do homem).
Bem, o acesso à vida associativa e à cidadania não deveria ter preço. Muito menos um preço tão alto para quem tem apreço pela sua fruta.
A vida política é mais como um trapézio. Os tomates do trapezista também se medem pelo tamanho que a rede tem.
De qualquer forma, faltam apenas alguns anos para que a diferença entre esse mundo virtual e o mundo real seja nula.
Tonibler. Do seu comentário destaco um conceito que merece ser realçado, os tomates deveriam deixar de serem considerados "vegetais" (conceito restrito, como é compreensível) e passarem para a classe de frutos, "maçã de ouro". E para a sobremesa? Fruta, se faz favor, um tomate, mas não muito maduro...
O tomate já é classificado como um fruto, como os meus filhos me corrigem várias vezes. Confirmando com a verdadeira fonte de todo o saber científico,
The word "tomato" may refer to the plant (Solanum lycopersicum) or the edible, typically red, fruit which it bears.
http://en.wikipedia.org/wiki/Tomato
Exactamente...
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