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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Falhanços...

Vivemos numa sociedade em crise. A crise não é apenas financeira e económica, é profundamente social. Espelho desta crise são os milhares de pessoas idosas que vivem sozinhas ou em companhia exclusiva de pessoas também idosas. De acordo com dados recentes do INE mais de um milhão e duzentos mil idosos vivem sós ou em companhia de outros idosos, uma realidade cuja dimensão aumentou 28% na última década, fruto de vários fenómenos, o aumento da esperança vida, a desertificação, a transformação do papel da família e os novos modelos de organização económica e social. Reflexos de um caminho de desenvolvimento apelidado de moderno de grande fragilidade humana.
Nos últimos tempos tido notícias de pessoas idosas que morrem sozinhas em casa, abandonadas à sua má sorte de condição de velhos. Sempre que é descoberto um idoso morto em casa é porque a sociedade falhou. Falhou o apoio da família, da vizinhança, da comunidade. Falhou o apoio social, falhou o aconchego humano, venceu a incapacidade e a indiferença de toda uma sociedade de olhar pelos mais velhos, desvalorizando as suas vidas sem as quais não estaríamos vivos, deitando fora toda uma riqueza que estas pessoas têm para dar, muitas delas verdadeiras bibliotecas vivas do conhecimento, fontes de experiência, sabedoria e serenidade. Merecem outra atenção, a atenção que nós os mais novos não imaginamos não ter quando formos velhos, devemos-lhes muito e temos obrigações para com eles.
Como é possível que as nossas pessoas idosas em situação de risco, sozinhas, doentes, com carências económicas – alimentares, habitacionais, etc. – existam apenas nuns quaisquer registos civis ou da estatística? Com é possível que não saibamos quem são, onde vivem, como vivem? Sem conhecer não é possível ajudar.
Os mecanismos sociais de ajuda e vigia estão a falhar porque em primeira mão falha o reconhecimento destas pessoas. Não sabemos delas.
É preciso investir em mais e melhores respostas sociais, mas sem cultura de responsabilidade social é difícil. A questão não se resume apenas a uma contabilidade financeira e orçamental, sem uma predisposição efectiva das famílias, vizinhança e comunidade em se preocuparem em acompanhar, ajudar e vigiar os idosos em risco não haverá mudança. O “abandono à sua sorte” não é um acto civilizado, não é um sentimento humano. A crise é grande…

2 comentários:

Anónimo disse...

Sabe, cara Margarida, essa coisa dos idosos estarem abandonados ao ponto de morrerem e ninguém dar por eles ao longo de dias e dias a fio faz-me uma confusão que não imagina. Faz-me confusão filhos e netos abandonarem assim os mais velhos. Não concebo nada assim acontecer com as minhas avós, as minhas mais velhas. Uma é o Ai-Jesus das filhas, às vezes demasiado até, enfim. A outra não tem mais que a mim mas mesmo estando eu longe, pelo menos meia horita diária ao telefone ninguém no-la tira, esteja eu onde estiver. Eu próprio sinto falta de saber dela todos os dias. Além, claro, das visitas regulares. E de estar na Europa quando se calhar preferia viver em África.

Que desumanidade tão grande, a que ponto de loucura estamos a chegar enquanto sociedade se deixamos de ter quaisquer laços afectivos até com os nossos mais velhos. Senão isso (e compreendo que haja casos em que realmente os laços se cortam), pelo menos a obrigação moral...?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Zuricher
É difícil conceber tanto egoísmo, tanta ausência de afectos. Chegámos ao ponto de, não é de agora, filhos abandonarem os pais idosos nos hospitais.