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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Grécia: opção pela bancarrota à vista?

1. A situação política na Grécia ganhou novos contornos após as eleições parlamentares: o voto popular teve o condão de criar um enorme imbróglio político ao tornar virtualmente impossível a formação de um governo com mandato estável para executar uma política económica consistente.


2. Pode pois dizer-se com alguma propriedade que os Gregos não sabem o que querem, e sobretudo não sabem se querem ou não continuar a pertencer ao Euro (apesar das sondagens apontarem uma enorme maioria a favor) – uma vez que parecem ter as maiores dúvidas quanto ao cumprimento das regras que essa situação implica.

3. A posição paradoxal do 2º partido mais votado, o Syriza, em relação ao Euro, é paradigmática desta perplexidade (para dizer o mínimo) em que os Gregos se encontram quanto à escolha do seu futuro: não arriscando propor abertamente a saída do Euro - por temerem a perda de votos - a verdade é que as propostas que o Syriza apresenta implicarão, na prática, o abandono do Euro.

4. Com efeito, o Syriza advoga (i) o rompimento do acordo quanto ao 2º pacote de ajuda financeira, (ii) a suspensão do pagamento da dívida pública e uma auditoria completa à forma como essa dívida foi contraída para verificar da sua justeza/necessidade, (iii) a restituição dos pagamentos retirados ao funcionalismo público e (iv) a nacionalização (parcial ou total, não estou certo) dos bancos gregos.

5. A serem adoptadas essas propostas, seria simplesmente impossível a manutenção no Euro uma vez que elas implicarim: (i) a suspensão imediata da ajuda externa, (ii) o BCE deixar de aceitar dívida grega como colateral para operações de cedência de liquidez aos bancos gregos, (iii) a bancarrota destes uma vez que se iria assistir a uma corrida generalizada aos bancos para levantar os Euros enquanto fosse tempo, (iv) o Estado ficar privado dos meios para pagar os salários ao funcionalismo público e de pagar dívidas a quem quer que fosse...e finalmente (v) a Grécia acabaria por ser forçada a abandonar o Euro para poder emitir a sua própria moeda com uma desvalorização de 50% ou mais em relação ao Euro (relativamente à taxa de conversão utilizada aquando da adesão)...

6. Mesmo sem aplicação das propostas “semi-loucas” do Syriza, a persistência de uma situação de impasse político é bem capaz de nesta altura estar a gerar uma corrida aos bancos como já sucedeu em diversas circunstâncias ao longo dos últimos 2 anos.

7. Concretamente, essa corrida verificou-se (i) aquando da celebração do primeiro pacote de ajuda (Maio de 2010), (ii) no final de 2011 quando se agravaram as dúvidas quanto à possibilidade da celebração do 2º pacote de ajuda ( no 4º trimestre de 2011 os depósitos nos bancos gregos caíram mais de 6%) e (iii) no início do corrente ano - só a prestimosa ajuda do BCE permitiu compensar essa saída de dinheiro uma vez que os bancos gregos não têm acesso aos mercados de dívida (sempe os malvados mercados) ...

8. Calcula-se que desde o início da crise, em 2010, os depósitos bancários na Grécia terão caído mais de 30%...e nesta altura o levantamento de depósitos deve estar a processar-se a ritmo TGV...

9. Assim sendo, ou a Grécia – os Gregos – tomam a devida consciência desta realidade ou qualquer dia, entretidos na sua guerrilha partidária e na discussão das propostas “semi- loucas” de alguns dos seus partidos, nem reparam que a bancarrota já os atingiu...e aí não haverá Euro que os valha.

8 comentários:

Tonibler disse...

As propostas do Syriza não têm nada de louco e estão bem em linha com a estratégia do BE e da experiência da "esquerda radical" europeia. Não há que ser submisso à voragem do imperialismo do grande capital e dos especuladores da economia de casino. Se o dinheiro faltar, é só pedir à mamã!

Pinho Cardão disse...

Uma tragédia grega!

Anónimo disse...

Infelizmente não só grega. Mas tragédia...

Joao Jardine disse...

Caro Tavares Moreira

Uma pequena adenda no que às reivindicações do SYRIZA se refere: além das quatro mencionadas, a quinta reivindicação é a publicação da avaliação da banca grega realizada pela Blackrock.
Como dizia Churchill, a democracia é uma má solução mas melhor que todas as outras. Por isso, isto da democracia é assim mesmo...uma chatice.
Peço desculpa mas, os gregos sabem o que querem: querem o euro sem austeridade. É precisamente isso que explica a votação do SYRIZA e, a fazer fé nas últimas notícias, ganham qualquer eleição que se realize no futuro próximo. O "problema" é que não podem ambas; o que convinha analisar são as origens para esta posição dos gregos.
Apenas como tópico, a Grécia no contexto da Europa e do euro assenta em, pelo menos três equívocos:
a) Que é o "berço" da civilização ocidental, quando uma civilização tão complexa e rica com a nossa, tem mais do que um berço sem que nenhum seja mais importante que o outro.
b) Que é uma democracia no sentido "ocidental" do termo, quando se trata de uma oligarquia com liberdade de expressão.
c) Que é um "Estado europeu" quando está mais próximo dos estados falhados que abundam por esse mundo fora.
Claro que os gregos, curiosamente, também pensam o mesmo com as consequências que se podem comprovar.
Há dois anos atrás, quando "eclodiu" a "crise" grega, ficou claro que culpa e remorso (pelas duas guerras civis europeias) prescrevem ao cabo de duas gerações.
No passado domingo, enterrámos a Europa artificial que foi criada para combater o comunismo.
O que se vai passar é, apenas, a confirmação da justeza da frase de La Rochefoucalt. Changez le naturel, il revient à gallope".
Cumprimentos
joão

Joao Jardine disse...

Caro Tavares Moreira

Uma pequena adenda no que às reivindicações do SYRIZA se refere: além das quatro mencionadas, a quinta reivindicação é a publicação da avaliação da banca grega realizada pela Blackrock.
Como dizia Churchill, a democracia é uma má solução mas melhor que todas as outras. Por isso, isto da democracia é assim mesmo...uma chatice.
Peço desculpa mas, os gregos sabem o que querem: querem o euro sem austeridade. É precisamente isso que explica a votação do SYRIZA e, a fazer fé nas últimas notícias, ganham qualquer eleição que se realize no futuro próximo. O "problema" é que não podem ambas; o que convinha analisar são as origens para esta posição dos gregos.
Apenas como tópico, a Grécia no contexto da Europa e do euro assenta em, pelo menos três equívocos:
a) Que é o "berço" da civilização ocidental, quando uma civilização tão complexa e rica com a nossa, tem mais do que um berço sem que nenhum seja mais importante que o outro.
b) Que é uma democracia no sentido "ocidental" do termo, quando se trata de uma oligarquia com liberdade de expressão.
c) Que é um "Estado europeu" quando está mais próximo dos estados falhados que abundam por esse mundo fora.
Claro que os gregos, curiosamente, também pensam o mesmo com as consequências que se podem comprovar.
Há dois anos atrás, quando "eclodiu" a "crise" grega, ficou claro que culpa e remorso (pelas duas guerras civis europeias) prescrevem ao cabo de duas gerações.
No passado domingo, enterrámos a Europa artificial que foi criada para combater o comunismo.
O que se vai passar é, apenas, a confirmação da justeza da frase de La Rochefoucalt. Changez le naturel, il revient à gallope".
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Até posso concordar coma análise bem disposta que sugere...mas acontece que, segundo as notícias mais recentes, a Mamã parece ter perdido uma boa parte do afecto que antes nutriria por este filho pródigo...

Caros Pinho Cardão e F. Almeida,

Uma tragi-comédia em vias de passar a um acto decisivo se o corpulento Venizelos não for capaz de formar um governo instável: as sondagens mais recentes, já depois do acto eleitoral, mostram uma forte subida das intenções de voto no formidável Syriza...
Parece que os Gregos apreciam mesmo a ideia de continuar no Euro sem terem de cumprir as obrigações inerentes a esse estado...e mais do que apreciar parecem acreditar mesmo nessa possibilidade, que interessante!

Caro João Jardine,

Subscrevo a sua análise, aliás reforçada pelas recentes sondagens que apontam para que o partido mais votado em próxima eleição seja o formidável Syriza!
Uma vitória do Syriza seria a prova de que a descoberta do Ovo de Colombo continua a produzir frutos: permenecer no Euro sem ter de cumprir qq obrigação decorrente dessa participação é, convenhamos, o novo Ovo de Colombo!
E porque carga de água os Gregos não haverão de acrediatr nessa possibilidade se até o Dr. M.S. e agora o talentoso F.de A. também acreditam?

Tonibler disse...

Fascista da mamã... Agora vai ficar tudo pobre, o mano, o papá, a babá, o motorista, a cozinheira,... Tudo à conta desses fascistas que desprezam os desfavorecidos como nós.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Acompanho-o nesse lamento/protesto veeemente! A fascista não quer prolongar o extremoso mimo a que habituou a rapaziada - o chamado Estado Social - e isto é intolerável, há que denunciar energicamente!
Vamos para a rua, se em última análise for necessário, partilhando a coragem verbal demonstrada pela Brigada Rosa na sua mais recente versão.