1. A situação política na Grécia ganhou novos contornos após as eleições parlamentares: o voto popular teve o condão de criar um enorme imbróglio político ao tornar virtualmente impossível a formação de um governo com mandato estável para executar uma política económica consistente.
2. Pode pois dizer-se com alguma propriedade que os Gregos não sabem o que querem, e sobretudo não sabem se querem ou não continuar a pertencer ao Euro (apesar das sondagens apontarem uma enorme maioria a favor) – uma vez que parecem ter as maiores dúvidas quanto ao cumprimento das regras que essa situação implica.
3. A posição paradoxal do 2º partido mais votado, o Syriza, em relação ao Euro, é paradigmática desta perplexidade (para dizer o mínimo) em que os Gregos se encontram quanto à escolha do seu futuro: não arriscando propor abertamente a saída do Euro - por temerem a perda de votos - a verdade é que as propostas que o Syriza apresenta implicarão, na prática, o abandono do Euro.
4. Com efeito, o Syriza advoga (i) o rompimento do acordo quanto ao 2º pacote de ajuda financeira, (ii) a suspensão do pagamento da dívida pública e uma auditoria completa à forma como essa dívida foi contraída para verificar da sua justeza/necessidade, (iii) a restituição dos pagamentos retirados ao funcionalismo público e (iv) a nacionalização (parcial ou total, não estou certo) dos bancos gregos.
5. A serem adoptadas essas propostas, seria simplesmente impossível a manutenção no Euro uma vez que elas implicarim: (i) a suspensão imediata da ajuda externa, (ii) o BCE deixar de aceitar dívida grega como colateral para operações de cedência de liquidez aos bancos gregos, (iii) a bancarrota destes uma vez que se iria assistir a uma corrida generalizada aos bancos para levantar os Euros enquanto fosse tempo, (iv) o Estado ficar privado dos meios para pagar os salários ao funcionalismo público e de pagar dívidas a quem quer que fosse...e finalmente (v) a Grécia acabaria por ser forçada a abandonar o Euro para poder emitir a sua própria moeda com uma desvalorização de 50% ou mais em relação ao Euro (relativamente à taxa de conversão utilizada aquando da adesão)...
6. Mesmo sem aplicação das propostas “semi-loucas” do Syriza, a persistência de uma situação de impasse político é bem capaz de nesta altura estar a gerar uma corrida aos bancos como já sucedeu em diversas circunstâncias ao longo dos últimos 2 anos.
7. Concretamente, essa corrida verificou-se (i) aquando da celebração do primeiro pacote de ajuda (Maio de 2010), (ii) no final de 2011 quando se agravaram as dúvidas quanto à possibilidade da celebração do 2º pacote de ajuda ( no 4º trimestre de 2011 os depósitos nos bancos gregos caíram mais de 6%) e (iii) no início do corrente ano - só a prestimosa ajuda do BCE permitiu compensar essa saída de dinheiro uma vez que os bancos gregos não têm acesso aos mercados de dívida (sempe os malvados mercados) ...
8. Calcula-se que desde o início da crise, em 2010, os depósitos bancários na Grécia terão caído mais de 30%...e nesta altura o levantamento de depósitos deve estar a processar-se a ritmo TGV...
9. Assim sendo, ou a Grécia – os Gregos – tomam a devida consciência desta realidade ou qualquer dia, entretidos na sua guerrilha partidária e na discussão das propostas “semi- loucas” de alguns dos seus partidos, nem reparam que a bancarrota já os atingiu...e aí não haverá Euro que os valha.
8 comentários:
As propostas do Syriza não têm nada de louco e estão bem em linha com a estratégia do BE e da experiência da "esquerda radical" europeia. Não há que ser submisso à voragem do imperialismo do grande capital e dos especuladores da economia de casino. Se o dinheiro faltar, é só pedir à mamã!
Uma tragédia grega!
Infelizmente não só grega. Mas tragédia...
Caro Tavares Moreira
Uma pequena adenda no que às reivindicações do SYRIZA se refere: além das quatro mencionadas, a quinta reivindicação é a publicação da avaliação da banca grega realizada pela Blackrock.
Como dizia Churchill, a democracia é uma má solução mas melhor que todas as outras. Por isso, isto da democracia é assim mesmo...uma chatice.
Peço desculpa mas, os gregos sabem o que querem: querem o euro sem austeridade. É precisamente isso que explica a votação do SYRIZA e, a fazer fé nas últimas notícias, ganham qualquer eleição que se realize no futuro próximo. O "problema" é que não podem ambas; o que convinha analisar são as origens para esta posição dos gregos.
Apenas como tópico, a Grécia no contexto da Europa e do euro assenta em, pelo menos três equívocos:
a) Que é o "berço" da civilização ocidental, quando uma civilização tão complexa e rica com a nossa, tem mais do que um berço sem que nenhum seja mais importante que o outro.
b) Que é uma democracia no sentido "ocidental" do termo, quando se trata de uma oligarquia com liberdade de expressão.
c) Que é um "Estado europeu" quando está mais próximo dos estados falhados que abundam por esse mundo fora.
Claro que os gregos, curiosamente, também pensam o mesmo com as consequências que se podem comprovar.
Há dois anos atrás, quando "eclodiu" a "crise" grega, ficou claro que culpa e remorso (pelas duas guerras civis europeias) prescrevem ao cabo de duas gerações.
No passado domingo, enterrámos a Europa artificial que foi criada para combater o comunismo.
O que se vai passar é, apenas, a confirmação da justeza da frase de La Rochefoucalt. Changez le naturel, il revient à gallope".
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira
Uma pequena adenda no que às reivindicações do SYRIZA se refere: além das quatro mencionadas, a quinta reivindicação é a publicação da avaliação da banca grega realizada pela Blackrock.
Como dizia Churchill, a democracia é uma má solução mas melhor que todas as outras. Por isso, isto da democracia é assim mesmo...uma chatice.
Peço desculpa mas, os gregos sabem o que querem: querem o euro sem austeridade. É precisamente isso que explica a votação do SYRIZA e, a fazer fé nas últimas notícias, ganham qualquer eleição que se realize no futuro próximo. O "problema" é que não podem ambas; o que convinha analisar são as origens para esta posição dos gregos.
Apenas como tópico, a Grécia no contexto da Europa e do euro assenta em, pelo menos três equívocos:
a) Que é o "berço" da civilização ocidental, quando uma civilização tão complexa e rica com a nossa, tem mais do que um berço sem que nenhum seja mais importante que o outro.
b) Que é uma democracia no sentido "ocidental" do termo, quando se trata de uma oligarquia com liberdade de expressão.
c) Que é um "Estado europeu" quando está mais próximo dos estados falhados que abundam por esse mundo fora.
Claro que os gregos, curiosamente, também pensam o mesmo com as consequências que se podem comprovar.
Há dois anos atrás, quando "eclodiu" a "crise" grega, ficou claro que culpa e remorso (pelas duas guerras civis europeias) prescrevem ao cabo de duas gerações.
No passado domingo, enterrámos a Europa artificial que foi criada para combater o comunismo.
O que se vai passar é, apenas, a confirmação da justeza da frase de La Rochefoucalt. Changez le naturel, il revient à gallope".
Cumprimentos
joão
Caro Tonibler,
Até posso concordar coma análise bem disposta que sugere...mas acontece que, segundo as notícias mais recentes, a Mamã parece ter perdido uma boa parte do afecto que antes nutriria por este filho pródigo...
Caros Pinho Cardão e F. Almeida,
Uma tragi-comédia em vias de passar a um acto decisivo se o corpulento Venizelos não for capaz de formar um governo instável: as sondagens mais recentes, já depois do acto eleitoral, mostram uma forte subida das intenções de voto no formidável Syriza...
Parece que os Gregos apreciam mesmo a ideia de continuar no Euro sem terem de cumprir as obrigações inerentes a esse estado...e mais do que apreciar parecem acreditar mesmo nessa possibilidade, que interessante!
Caro João Jardine,
Subscrevo a sua análise, aliás reforçada pelas recentes sondagens que apontam para que o partido mais votado em próxima eleição seja o formidável Syriza!
Uma vitória do Syriza seria a prova de que a descoberta do Ovo de Colombo continua a produzir frutos: permenecer no Euro sem ter de cumprir qq obrigação decorrente dessa participação é, convenhamos, o novo Ovo de Colombo!
E porque carga de água os Gregos não haverão de acrediatr nessa possibilidade se até o Dr. M.S. e agora o talentoso F.de A. também acreditam?
Fascista da mamã... Agora vai ficar tudo pobre, o mano, o papá, a babá, o motorista, a cozinheira,... Tudo à conta desses fascistas que desprezam os desfavorecidos como nós.
Caro Tonibler,
Acompanho-o nesse lamento/protesto veeemente! A fascista não quer prolongar o extremoso mimo a que habituou a rapaziada - o chamado Estado Social - e isto é intolerável, há que denunciar energicamente!
Vamos para a rua, se em última análise for necessário, partilhando a coragem verbal demonstrada pela Brigada Rosa na sua mais recente versão.
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