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domingo, 17 de janeiro de 2010

Já cá faltava...

Nós temos esta tendência doentia, uma espécie de gene que paira por aí e que faz das suas na primeira oportunidade, tudo o que de mau que acontece aos outros poderá acontecer-nos a nós, enquanto o que acontece de bom está, seguramente, fora do nosso alcance. Acho que é por causa desse maldito gene que vivemos neste estado de depressão colectiva que nos faz aceitar como uma fatalidade tudo o que corre mal, tudo o que piora, e olhar com a maior desconfiança quem não se queixa de infelicidade, quem teve êxito ou quem se atreve a falar em esperança.
Já passaram 4 dias sobre a catástrofe inimaginável do Haiti e já estava a intrigar-me esta contenção de ainda não ter vindo uma primeira página do jornal dizer que se fosse cá, que se fosse cá…
Pois bem, ouvi há pouco anunciar que o Prós e Contras de amanhã picou o ponto e encontrou o tema: estaremos preparados para um terramoto como o do Haiti? Qualquer pessoa normal antevê a resposta, e quem é que está preparado para uma catástrofe desta dimensão do fim do mundo? Vamos então passar um serão de catarse psicótica, precedida de imagens reais aterradoras e seguida de inúmeras explicações sobre as nossas insuficiências para enfrentar tal terror. Parece que não nos basta o que já nos atormenta e preocupa. Parece que nos sobram alegria, confiança e esperança no futuro. Não, há que aproveitar o ambiente de terror e explorá-lo, trazendo para o consciente o temor que, instintivamente, todos procuramos distrair quando assistimos horrorizados às imagens que nos chegam de longe. Há alturas em que o jornalismo (?) parece ter-se tornado num meio de tortura sem respeito nem misericórdia, seja lá o que for que amanhã se lembrem de dizer no programa.

4 comentários:

Bartolomeu disse...

«Qualquer pessoa normal antevê a resposta…»
Então cara Drª. Suzana Toscano… com “Prós” e sem “Contras”, é sensato dar eco a estas inquietações e alertar mais uma vez, as vezes que forem necessárias, as autoridades competentes, para esta hipotética realidade.
Daquilo que é humanamente possível fazer, a prevenção, será uma medida.
E… neste país, já sabemos como é que as “coisas” não funcionam numa situação normal, quanto mais, numa transcendental.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
O assunto é muito sério e, portanto, não me parece que a sede para o discutir seja um programa do tipo "Prós e Contras". "Prós" de quê? e "Contras" de quê?
A verdade é que sabemos muito pouco sobre como estamos preparados para fazer face a um terramoto. O cidadão comum não está informado sobre o que deve fazer perante uma situação em concreto.

Adriano Volframista disse...

Cara Suzana Toscano

Não estou de acordo consigo. Em Portugal, não se discute abertamente esta questão.
Não sei se estamos preparados,(as últimas informações, apontavam para o facto de não estarmos, dado que o primeiro e único simulacro realizado, parece que tinha corrido mal..)
Não sei quais as áreas e regiões de risco;
Não sei, nem sabemos os níveis de destruição de acordo com a intensidade:
Descoheço qual o plano de contingência para as autoridades e qual a prioridade que se estabelecerá, para a sua evacuação;
Não compreendo porque não se realizam mais exercícios, em especial os que envolvem a população, nem porque não se educa a população,começando pelas crianças;
Não percebo porque não está mais generalizado os conselhos sobre os comportamentos a ter...
Já experimentei vários abalos, dois com especial violência (um de 5.4 e outro de 5.0 na escala de Richter); o local era o Japão e, para alêm do grau de preparação dos edíficios, a população está altamente preparada.
O pânico é uma causa importante para aumentar o número de vítimas, aquele só com educação e preparação pode ser, quase, eliminado
Dito isto, vamos ver o que o programa nos reserva....
Cumprimentos
joão

Suzana Toscano disse...

Caro joão, o que eu ponho em causa - e mesmo muito - é a oportunidade deste programa que de modo nenhum servirá para resolver ineficiências mas apenas e seguramente para nos dar a certeza de que tudo está impreparado, como diz o caro Bartolomeu e como diz também a Margarida, o que poderá ganahr a opinião pública nesta altura senão um terrível medo e mais insegurança? Tudo o resto pode e deve ser feito,excepto discutir as vulnerabilidades em público em altura de puro trauma emocional. Palavra que não consigo perceber como é que ninguém se opôs a esta iniciativa, por respeito e compaixão, neste preciso momento.