1. Esta “meia afirmação” parece ter sido feita hoje por um conhecido co-responsável pela política económica em Portugal a propósito do nível de esforço requerido para a correcção do défice orçamental em 2010 - considerando suficiente o congelamento nominal dos salários...
2. Recorde-se que o congelamento nominal dos salários foi na pretérita semana prometido pelo Instituto de Gestão do Crédito Público aos mercados financeiros, em aflição, depois de o Governo ter anunciado um não aumento em termos reais, o que não é a mesma coisa...
3. Uma “meia afirmação” como esta presta-se a um sem número de interrogações e de especulações (no bom sentido do termo), nomeadamente as seguintes:
- Se não há justificação este ano para cortes nos salários, quer com isso dizer que já se admite tal necessidade em 2011?
- Se assim for, qual a razão de adiar para 2011 o que poderia ser feito em 2010 – está-se à espera de um milagre?
- A haver corte dos salários, que tipo de cortes deveriam ser feitos – à irlandesa como pareceria mais adequado, com cortes percentualmente mais elevados nos níveis salariais mais altos e cortes mais baixos nos níveis salariais inferiores?
- Se a meio deste ano se verificar a necessidade de um rectificativo – não seria nada surpreendente – face a uma eventual execução orçamental abaixo do previsto, antecipa-se nessa altura o corte nos salários?
- Terão os senhores deputados coragem para reduzir, significativamente, os seus próprios salários e mordomias?
4. Existe um número crescente de portugueses que tem vindo a sofrer cortes (e que cortes) nos seus salários: refiro-me aos desempregados, que não cessam de aumentar...para estes portugueses, vítimas de uma conjuntura adversa mas não menos vítimas dos erros da política económica, os cortes nos salários não começam este ano – pela simples razão de que já começaram há pelo menos dois anos e vão continuar não se sabe até quando...
5. O que esta “meia afirmação” parece significar é que estará a chegar a hora de os sectores protegidos da sociedade e da economia portuguesa começarem a sentir os efeitos da crise, eles que até agora têm da crise uma noção essencialmente literária, de exterior, pela leitura dos jornais e pelos ecrãs das notícias...
6. Nessa perspectiva, o que esta “meia afirmação” pretenderá em última análise dizer é que se torna mesmo necessário um corte salarial na função pública (em sentido alargado, compreendendo o Estado Central, Regional, Local e os respectivos sectores empresariais) mas que face à dificuldade em implementar agora tal medida, melhor será deixar correr as águas até ver...
7. Está muito arreigada na nossa classe política esta filosofia de deixar o mais difícil para amanhã...que maçada! Só que deixar o mais difícil para amanhã significa as mais das vezes nada fazer, nunca, pela razão de que fazer amanhã será tão ou mais difícil do que seria hoje – no caso vertente mais difícil, certamente...
40 comentários:
Aqui está a reportagem do Vitor Constâncio á CNBC, do nosso governador para os credores, love.
http://classic.cnbc.com/id/15840232?video=1392757873&play=1
Caro Dr. Tavares Moreira, no panorama global do país e sua economia, o corte de salários seria o total desabamento das condições de vida de uma parte significativa da população.
E... na minha opinião, não resolveria mínimamente o défice orçamental.
Em minha opinião também, as medidas que poderão "operar" alguma da desejada correcção, têm mais a ver com a produção, que propriamente com salários.
As intempéries que fustigaram o oeste e causaram prejuízos aos agricultores, as queixas dos produtores de leite, dos produtores de laranja, dos transformadores e embaladores de carnes, dos produtores de queijo, etc. dão-nos a concreta indicação daquilo que é necessário ser feito, para equilibrar mínimamente a nossa economia.
As queixas dos agricultores, criadores e industriais, são unânimes em apontar uma causa para o grande problema que os aflige; a importação e inundação do mercado com produtos de inferior qualidade e de custos inferiores aos por eles produzidos.
É para esta questão que o nosso governo precisa de olhar com muita etenção e muita vontade de rectificar.
Eu sei que existem acordos estabelecidos com os paízes da UE. Mas, todos sabemos tambem que, acima de qualquer acordo, se coloca a necessidade de subsistência de um povo.
Sabemos que em determinada altura, o nosso país foi inundado de subsídios que visavam a modernização de técnicas e equipamentos, assim como de formação técnica e que o grosso desses subsídios foi "desbaratado", não se encontrando hoje, sinais da sua aplicação e mais-valia. Isso é um problema. Outro muito diferente, com o qual nos encontramos a braços, governo e sociedade em geral, é encontrar solução para a nossa subsistência e... contra ventos e marés, temos de assumir as nossas fragilidades, mas sobretudo, termos a coragem para mudar de rumo e exigir dos nossos governantes a coragem para assumir medidas eficazes e de fundo, mesmo que, contra os interesses de países estranjeiros.
E Alberto Soares, o representante da National Debt Agency:
http://www.cnbc.com/id/15840232?video=1392828339&play=1
Depois de uma década (exceptuando o ano passado) a cortar os salários dos funcionários públicos, haverá margem para mais um corte?
Não podemos esquecer que estamos em crise desde que aderimos ao euro, portanto não nos podemos comparar com países como a Irlanda e Espanha que tiveram crescimentos económicos fulminantes nestes últimos dez anos.
Se chegar a hora de se voltar a cortar os salários de quem trabalha para o Estado, os investimentos megalómanos são para continuar? Os institutos da "treta" são para manter? As empresas semi-públicas não são para encerrar? O número excessivo de funcionários públicos é para manter? Os défices de exploração das empresas públicas são para manter?
O que mais me irrita neste discurso é que parece não haver alternativa!
No país do socialismo, continua-se a acreditar que se podem continuar a baixar os salários até... zero! Será possível alguém acreditar?
Se há organismos que não servem para coisa nenhuma (exemplo: Instituto da Juventude), se há empresas semi-públicas de interesse duvidoso, se há parcerias público-privadas ruinosas, se há empresas públicas deficitárias todos os anos, se há investimento estúpido todos os anos, se há atribuição de subsídios da preguiça, como podemos continuar com a receita do costume?
Peço imensa desculpa pelo desabafo, mas estou completamente saturado de ouvir sempre as mesmas receitas, sabendo nós que as mesmas não têm qualquer resultado a longo prazo!
Será que trabalhar para o Estado significa receber cada vez menos?
Quando é vou ouvir que é necessário fechar todos os serviços que não servem para coisa nenhuma? Quando será que vou ouvir que é necessário fechar politécnicos e universidades sem clientes que justifiquem a sua existência? Quando será que vou ouvir que é necessário fechar hospitais e centros de saúde sem um número mínimo de clientes?
Caro Tavares Moreira, a situação é grave mas não me parece que voltar a cortar salários seja solução para este país, temos que de uma vez por todas arregaçar as mangas e trabalhar no duro, porque reduzir salários é tão fácil que, sinceramente, para isso julgo não ser necessário gastar tanto dinheiro em dirigentes! Enquanto accionista (pequeno) que sou de diversas empresas, se algum gestor de topo sugerir tal receita, retiro imediatamente o meu dinheiro de tal organização e se fosse um accionista com direito de voto votaria a demissão imediata de tal dirigente. Temos que ser mais exigentes, temos que pensar a médio e longo prazo.
Um dia destes, ainda veremos médicos, professores, juízes, engenheiros, gestores, etc. a receber o ordenado mínimo nacional e... já vão com sorte!
Não me interprete mal, mas ouvir este discurso desde 1999! Já chega! Soluções fáceis, não obrigado!
NOTA: não sou funcionário público, mas já trabalhei para o Estado, como já aqui referi, e o salário era profundamente ridículo comparando com o que tenho hoje no sector privado!
É escusado pensar em cortes de salários, pois o Português, liberal ou socialista, mais de 45 anos de idade nunca o aceitará. Pelo menos sem ser à força... das evidências!
Aquilo que me faz confusão é como é que é preciso chegar a um ponto destes para se entender que o estado tem que gastar menos nos salários e que desde que saímos do escudo ("entrar no euro" tem um ar positivo, a partir de hoje vou passar a dizer "sair do escudo"...) perdemos o mecanismo automático de ajustar o salário da criadagem à riqueza do patrão, porque é isso que está em causa. Aquilo que me parece absurdo é que o patrão fique cada vez mais pobre para que a criadagem mantenha o salário.
PS: Para quem acha que no privado se ganha mais que no público, sugiro que faça a conta em PV e retire dos cash flows futuros a probabilidade deles realmente serem recebidos. É uma conta muita engraçada de se fazer e que dá para quantificar porque é que um concurso de trampa para as finanças do Monte Abraão tem 20 mil candidatos.
Significa, talvez, que a cepa continua torta...
A cepa retorcida,
com tantas calinadas,
tem sido esvanecida
por mentes iluminadas.
Com o verbo maltratado
no discurso político
este saber amarrotado
ganha valor monolítico.
A plutocracia reinante
compelindo este turbilhão
lança um olhar fulminante
paralisando o mexilhão.
Caro Tavares Moreira
Parabéns pelo post..finalmente alguêm fala no que se deve falar: dimimuir a despesa.
Confesso que me irrita solenemente ser enganado, mas ainda mais de ser tomado por estúpido.
É importante que os portugueses começem por perceber que, uma parte da classe política anda, deliberadamente a tomá-los por tolos.
As declarações a que se refere são um exemplo disso: como nas touradas agitamos o capote para esconder o essencial e ajudar deliberadamente, para sabotar qualquer solução.
Tenho dificuldade em perceber porque se tem de cortar primeiro nos salários, antes de se cortar na gordura externa.
Gastamos +/-14 mil milhões, +/- 10% do PIB em custos de funcionamento e, no entanto, não sabemos qual é o tamanho do património do Estado...
Porque raio vamos cortar, já, nos salários? Por outras palavras, não existem outras rúbruicas onde cortar?
Claro que se pode e vamos a algumas:
a) no que nos custa os acessores e consultorias externas que este e os outros governos pagam por ano;
b) No tamanho das administrações das empresas públicas e orgãos autónomos do estado;
c) Na não padronização dos automóveis que são usados pelos titulares de cargos públicos, para que andam de BMW, Audi e outros?
d) Na manutenção da dispersão de serviços pelas centenas de edifícios que pululam pelas cidades, em especial Lisboa e Porto
e) Na continuação do não recrutamento centralizado dos funcionários públicos, preferindo manter o regime de recibos verdes que mais não que um modo encapotado de formação e recrutamento de funcionários, só um controle centralizado das admissões se poderá obter um ratio de entrada de 1, com a saída de 2 que todos os governos apregoam
f)A manutenção de uma gestão centralizada das escolas, originando entropias desnecessárias, quando poderiam ser as autarquias a terem a responsabilidade pela gestão das mesmas.
Até 2013 temos de poupar +/- 1.5 mil milhões de euros ano, para repor o défice nos 3%, pelo menos metade dessa verba pode ser obtida com as poupanças nos custos de funcionamento...por isso é que nos estão a tomar por parvos...
Cumprimentos
joão
Caro Tonibler,
A ameaça do despedimento mete-me um medo, brrrrrrrrrrrrrrrrrr! Estou cheio de medo, brrrrrrrr!
Só em prémios de desempenho, ganho mais no privado num ano do que com os salários que o Estado me pagaria em um ano e meio! Portanto, estou cheio de medo, brrrrrrrr! Nem imagina!
Na bolsa de valores, ganhei mais na segunda metade de 2009 do que aquilo que ganhei com o suor do meu trabalho em 5 ou 6 anos!! Brrrrr! Estou cheio de medo.
O que quer afinal, Tonibler? Quer que o Estado ofereça salários inferiores ao seus funcionários sem nada em troca? Já pensou nas consequências? Pense a longo prazo.
Quanto ao Monte Abraão, provavelmente ainda não fez as contas ao número de portugueses que participa em concursos para trabalhar em Espanha, Inglaterra, na famosa Irlanda e até no Brasil e em Angola! E, já agora, talvez, ainda não tenha reparado no número de portugueses licenciados, mestres e doutorados a trabalhar em plataformas petrolíferas, tanto no mar do norte como em Cabinda!
Na última passagem do ano, estive com antigos colegas de faculdade e... surpresa, cerca de metade estão a trabalhar em... Inglaterra! Porquê? Salários muito mais elevados! Profissões? Engenheiros informáticos (a maioria), enfermeiros (muitos) e médicos (poucos)! Já agora, aqueles que ainda por aqui andam (eu incluído) foram motivo de alguma chacota! Chegaram a perguntar se não tínhamos qualidade suficiente para deixar esta sucata, o termo foi este, sucata! Os exemplos que deram em relação aos dirigentes foram deveras elucidativas. Graças aos seus exemplos deixei de ter dúvidas que se quisermos levar uma organização à falência, basta nomearmos um português para a gerir. Há excepções? Sem dúvida! Mas enquanto povo somos muito fracos nesta matéria em particular, a grande maioria dos portugueses (eu incluído, julgo eu) é completamente incapaz de gerir uma mercearia se tiver concorrência de uma mercearia estrangeira. Quando isto acontece, aparece a organização das mercearias cujo representante pede ao Estado subsídios para evitar o colapso do sector e discursa nas televisões a dar conta de que os salários dos seus funcionário têm necessariamente que descer! Consegue ainda encontrar uma forma de pagar 8 horas de trabalho, obrigando os colaboradores (termo tão giro e pós-moderno) a cumprirem 12 horas diárias.
Esta receita, não funciona. Todos conhecemos o resultado! O resultado tem sido invariavelmente o mesmo. Descem os salários, estoira-se o dinheiro em magalhães, subsídios e outras patranhas do mesmo calibre; passado uns tempos voltamos ao défice e voltamos a descer os salários reais e continua tudo na mesma.
Quando se descem os salários, o problema de tesouraria fica resolvido, mas a cultura da irresponsabilidade dos nossos dirigentes não muda, como é evidente. Então o ciclo repete-se.
Se quisermos transformar Portugal no Burkina Faso é só continuar a defender o que tem sido feito neste país, ou seja: redução real de salários desde 1999.
Caro Fartinho,
Folgo em saber que passa por tal invulgar bonança financeira e espero que já tenha desfeito as posições que detinha na bolsa mas, infelizmente, e como os números do desemprego mostram, a situação que descreve não corresponde à situação geral e, como deverá concordar, as filas do desemprego não estão a ser preenchidas com funcionários públicos.
Mesmo no período em que MFL foi ministro das finanças e que os salários estavam congelados, os custos de pessoal do estado subiram, creio, 4.8%. Por isso, dizer que existe uma redução real dos salários desde 1999, está a falar do sector privado de certeza.
Caro Tonibler,
Obrigado pelo aviso em relação às minhas posições bolsistas. Vendi quase tudo, mas ainda tenho um valor razoável numa empresa que... bem prefiro não falar nisso :)
Quando me refiro a salários, faço referência ao salário individual e descrevo, naturalmente, a descida dos salários nos dois sectores. A descida real dos salários é um facto e dura há demasiado tempo.
Julgo que o nosso pecado original é pensarmos apenas em números macro e nunca em números micro. Se temos que descer a massa salarial, temos que reorganizar o Estado. Enquanto concordarmos com a descida dos salários, nunca mais atacamos o problema real. Temos que fazer mais com menos trabalhadores e aumentar os salários de quem fica. Só assim se aumenta a produtividade e a competitividade a médio e longo prazo.
Temos, também, que internacionalizar a nossa economia. Não podemos continuar nesta espiral de empobrecimento. Temos que parar com isto e temos que pedir responsabilidades efectivas a quem gere os dinheiros do contribuinte e quem brinca à gestão de empresas no sector privado. Não é possível continuarmos a assistir a isto como se nada fosse.
Os nossos dirigentes tiveram sempre duas opções em cima da mesa para reduzir a massa salarial:
1º redução dos salários, reduzindo a velocidade da subida da taxa de desemprego;
2º deixar subir a taxa de desemprego e ajudar na reconversão profissional de parte dos desempregados (oferecendo a cana e não a pesca).
Temos optado sistematicamente pela primeira. É mais fácil, mas as facilidades levaram-nos ao buraco onde nos encontramos agora.
Caro Fartinho,
então de que salário individual estava a falar? O nominal? Isso é um número numa tabela, não corresponde ao que as pessoas ganham de facto no estado por causa das progressões, promoções, comissões, diuturnidades e o raio-que-parta que são abortos económicos que eram compensadas no tempo do escudo, mas que no tempo do euro não.
No resto, não me fale naquilo que "temos que fazer". Foi por "termos que fazer" que fizemos o que fizemos. Agora só ouço aqueles que dizem que temos que desfazer.
Caro Tonibler,
Permita-me a intromissão.
Compreendo e estou de acordo com a argumentação de Fartinho da Silva. Mas expondo de outra forma - os ministros das finanças, como normalmente os responsáveis pelas finanças de qualquer grande organização, recorrem a este tipo de medidas horizontais - é mais fácil e não exige grande conhecimento da realidade.
O governo para fazer diminuir a máquina do estado, situação por todos reconhecida como a opção correcta, precisa de conhecimento dos assuntos e capacidade de intervenção. Sabem lá quais os institutos e os organismos desnecessários e passíveis de extinção. E quando não se sabe, tem-se medo, é tudo uma questão de medo!!.
A solução não é o corte dos salários - o congelamento dos salários é porventura uma medida necessária para ganhar tempo e tomar outras mais de fundo.
Caro Dr. Tavares Moreira,
Sobre os dados do problema parece estarmos todos de acordo. Eles são::
1. É preciso reduzir o custo global com salários da coisa pública;
2. Existem organismos públicos desnecessários e/ou gordos;
3. Alguns dos salários são relativamente baixos; outros nem tanto.
Face as estes dados o que fazer?
- Cortar salários a todos é a medida mais fácil, opaca e deprimente. É uma medida que os dirigentes financeiros, que olham para os números, conseguem identificar.
- Fechar os tais organismos desnecessários. É uma medida, se fundamentada, compreendível. Mesmos que constestada por alguns, aceite e apoiada pela maioria. É uma medida que removerá constrangimentos causados pela duplicação de organismos. É no fundo a medida que precisamos, que ataca as causas dos problemas e que tem impacto a prazo. Qualquer corte de ordenados agora será seguido por aumentos no ano seguinte.
Caro Agitador,
Não, não precisa, isso não é verdade nem tem dado nenhum em concreto que o possa dizer isso. A ultima coisa que precisamos é pagar mais a quem, na realidade, pôs isto assim.
Concordo em absoluto com a opinião do caro Tonibler!
Apesar de, não me parecer que esteja aí a resolução do problema. Além de que, convinha definir, com frontalidade e clareza, quem foram "os" que puseram isto assim... todos!
Caro Tonibler,
Foi demasiado sintético. Não atingi.
Caro Dr. Tavares Moreira,
À boleia do seu excelente post, fui ver aqui que o "soon to have been" Governador do BdP afirmou que "o esforço de consolidação orçamental terá de chegar em 2011, começando já em 2010" e que "para 2010, [crê] que é suficiente o que está a ser planeado".
Esta é mais uma das melífluas declarações a que V. Constâncio há muito nos habituou. O "soon to be" vice-presidente do BCE quer deixar o anúncio da amarga inevitabilidade para quem lhe suceda. Nem agora lhe sobra a coragem para exercer o que era o seu dever.
Caro Agitador,
Achar que existe uma qualquer inteligência no estado que se consegue reduzir a si próprio é algo que não consigo porque a lógica me manda procurar porque é que afinal custa tanto.
Caros Comentadores Bartolomeu, Fartinho da Silva, Tonibler, João e Agitador:
Peço-lhes o favor de notar em 1º lugar que o Post que escrevi é uma tentativa de interpretação de uma "meia afirmação" de um responsável político que me deixou as maiores dúvidas quanto ao seu real ,quanto à sua intenção final...
Concordo que alguns dos pontos que referem nos vossos comentários têm razão de ser, mas atenção: quando alguns dos meus caros sugerem ou sustentam a extinção de serviços integrados ou autónomos que consideram inúteis ou redundantes, que tipo de despesa pública entendem que resultaria diminuída - são capazes de me explicar?
Caro Eduardo F.,
Bem observado, é mesmo impressionante aquilo que refere!
Caro Manuel Brás,
Bravo, mais uma vez...sempre, sempre ao lado do Povo!
Caros Comentadores Bartolomeu, Fartinho da Silva, Tonibler, João e Agitador:
Peço-lhes o favor de notar em 1º lugar que o Post que escrevi é uma tentativa de interpretação de uma "meia afirmação" de um responsável político que me deixou as maiores dúvidas quanto ao seu real ,quanto à sua intenção final...
Concordo que alguns dos pontos que referem nos vossos comentários têm razão de ser, mas atenção: quando alguns dos meus caros sugerem ou sustentam a extinção de serviços integrados ou autónomos que consideram inúteis ou redundantes, que tipo de despesa pública entendem que resultaria diminuída - são capazes de me explicar?
Caro Eduardo F.,
Bem observado, é mesmo impressionante aquilo que refere!
Caro Manuel Brás,
Bravo, mais uma vez...sempre, sempre ao lado do Povo!
Caro Drº Tavares Moreira:
Considero-me um leigo na matéria ora versada e, por isso, só muito a custo vou intervir comentando o que sobre este tema se me oferece.
Quero dizer que não estou de acordo com a redução dos salários dos f.p, considerando que na generalidade são muito baixos. Posso concordar que a médio prazo seja solução (embora estúpida, do problema), mas a médio prazo deixará de o ser, por conjunturas diversas, nomeadamente aquando da aproximação de períodos eleitorais, em que a tentação de cativar eleitores passa necessariamente pelo contentamento dos mesmos, partindo do princípio de que vivemos em democracia. Além do mais, procurar reduzir a despesa do estado praticando baixos salários, não dignifica o estado e é mais um indicador característico de um país atrasado.
No entanto o problema existe e carece de medidas, toda a gente de boa fé o sabe!
Muitos políticos têm sugerido medidas de fundo, como racionalizar os serviços do estado. Concordo. É nesse sentido de aligeirar a despesa do estado, por via da extinção de serviços perfeitamente inócuos, que o país deve caminhar.
Entretanto, no imediato, lembro-me agora da despesa de milhões de euros com a frota automóvel do estado - hoje mais luxuosa do que nunca!… E é de todo incompreensível o número brutal de veículos topo de gama afectos ao estado, quando as entidades que por lei têm direito (D.L. 50/78), são tão poucas!...
Caro Tavares Moreira
Em 35 anos deste regime, não se conseguiu adaptar o estado aos desafios que tem de enfrentar nestes próximos dez/quinze anos.
O estado é parte do problema e uma parte importante da solução.
Peço desculpa, por não fundamentar as minhas afirmações, mas não cabe num comentário breve. Parte dos problemas ja foram inventariados; em parte o simplex é uma versão muito mitigada desse diagnóstico.
No entanto, não existe qualquer estudo (pelo menos não o conheço) que permita determinar onde cortar, nem porque cortar, nem muito menos, quais os ganhos de eficiência que se podem esperar.
Nem está definido qual o papel do estado para a próxima década.
Uma redução de postos de trabalho na função pública (FP), supõe um enxugamento das despesas correntes do estado, pelo menos uma redução séria, (isto é, com intenções de a realizar). Os trabalhadores são um activo, pelo que é um pouco estranho trocar uma activo por despesa corrente...por isso é que, antes de destruir um activo, há que enxugar a despesa corrente.
São estas as razões que me levaram a escrever o comentário anterior e por isso é que eu não gosto que me tomem por tolo....e esse é o discurso que, uma parte da classe política, pratica é um logro e um insulto para os eleitores
Como os nossos políticos da situação vão compreender dentro em breve, não basta anunciar, porque (para os credores externos) a linguagem corporal é, igualmente, muito importante...
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira,
Eu percebi o seu texto, por isso tentei deixar claro no meu comentário que o mesmo deveria ser lido pelo autor e pelos comentadores que entretanto opinaram.
Em relação ao seu desafio, aqui ficam alguns (poucos) desafios a quem trabalha na área financeira:
- quanto custa ao país possuir o maior número de universidades e politécnicos da Europa por cada 100 mil habitantes? Temos 1,7 instituição de ensino superior por cada 100 mil habitantes. Temos instituições destas em locais tão populosos como Oliveira do Hospital, Felgueiras, Seia, Tomar, Idanha-a-Nova, etc.; até temos uma Faculdade de Medicina num local tão interessante para os futuros médicos como a Covilhã. Porque não abrir uma Universidade ou Politécnico na minha varanda? No Verão tem imensos habitantes, até aparecem abelhas com médias de 10 valores na produção de mel!;
- quanto custa ao país possuir tribunais em lugares tão populosos, como Mêda?
- quanto custa ao país ter em todas as capitais de distrito uma delegação do Instituto da Juventude? Quantos jovens frequentam estas casas?
- quanto custa ao país ter 3 hospitais em Torres Vedras, Entroncamento e Tomar;
- etc.
Por isso aqui continuo a afirmar: se a solução é cortar nos salários de quem trabalha para o Estado, qualquer pessoa pode ser Ministro das Finanças. Julgo que qualquer merceeiro com a 4ª classe de antigamente é capaz de resolver o problema. Mas como não acredito em facilidades, como apenas acredito no trabalho, considero que esta ideia não é solução.
Mesmo comparando essa ideia com a solução encontrada na Irlanda, não há comparação possível. Posso deixar alguns factos essenciais:
1º A Irlanda pode e deve aplicar essa solução, uma vez que:
- construiu um país com um Estado muito mais eficaz e eficiente que o nosso;
- teve um crescimento económico fenomenal na última década;
- tem um nível de vida incomparavelmente superior ao nosso;
- tem dirigentes políticos que cortam o seu próprio vencimento em 20% e dos trabalhadores em 10% (em Portugal, isto só acontecerá quando as galinhas tiverem dentes).
Mais uma vez aqui digo que não podemos continuar a apostar em soluções fáceis. Temos que assumir que temos que trabalhar muito e bem, temos que assumir que não conseguimos resolver o problema sozinhos porque não temos capacidade para isso. Temos que perceber que precisamos de ajuda de instituições externas para podermos aplicar modelos científicos testados noutros sítios. Temos que deixar de pensar que vivemos numa ilha isolados do Mundo.
Por isso aqui digo, soluções destas já provaram que não são solução para coisa nenhuma. Temos que pensar a médio e longo prazo.
Caro Tavares Moreira,
Do meu humilde ponto de vista, se essas medidas tem de ser tomadas, retardar a sua aplicação só agrava e exije cortes ainda mais profundos no futuro. Quanto mais se sobe, maior é o tombo.
Quanto ao corte nas despesas, estariamos a falar num corte de que percentagem dos salários?
Caro Fartinho da Silva,
Eu não sou nada apologista das ideias de tentar cortar na despesa, privando de serviços públicos essenciais as zonais mais isoladas e consequentemente menos populosas. Isso só agrava o já preocupante e menosprezado êxodo rural, como também não é isso que torna o país pobre. Um tribunal em Mêda, não tem os mesmo juízes que em Matosinhos ou Sintra, não tem a mesma dimensão,logo não tem os mesmo custos. Para além de que com a densidade procedimental dos nossos códigos quer de processo civil, quer processo penal não seria nada benéfico, para um paíz que cada vez mais vê a luz da justiça ao fundo do túnel. Fica certamente mais caro a quantidade de assessores supérfulos de alguns orgãos da AP e as mordomias destes do que um tribunal e uma escola em Mêda, com toda a certeza.
Caro Fartinho,
Mas qualquer pessoa pode ser ministro das finanças...
Cortar nos salários de quem trabalha para o estado era o que fazíamos antes de sair do escudo e era uma formula de sucesso em termos de equilíbrio das contas. E, sendo apenas a minha opinião, procurar fazer bem as coisas, na realidade, foi aquilo que lhe venderam os últimos 30 governos. Até pode ser possível que seja o 31º aquele que vai conseguir mas vai compreender se alguns de nós não acreditarem nisso...
Caros Dr. Tavares Moreira e demais Comentadores,
Não sei que tipo de despesa do estado deve ser diminuída, mas sei que o estado tem introduzido processos e procedimentos na coisa pública, que custam muitos recursos, e não interessa saber quem paga, mas sim que o custo global é demasiado elevado. E todos sabemos que o aligeiramento ou racionalização destes processos, levam à possibilidade de libertação de funcionários.
Mas a maior vantagem nem sequer é a poupança mas sim deixar o País funcionar. Deixar as pessoas trabalhar e ganharem a vida.
Caros Comentadores,
Apenas um breve esclarecimento quanto à solução drástica adoptada pela Irlanda no corrente ano: os salários na função pública foram reduzidos desde 30% - nos escalões mais elevados a começar no do 1º Ministro - até 5% nos escalões mais baixos.
Anoto que este tipo de solução é provavelmente vista com horror pela nossa classe política, que preferiu silenciar por completo o tema...
Pareceu-me que apenas Passos Coelho veio sugerir medida deste tipo mas muito mitigada, com reduções entre 10% e 5%.
Acrescento que sempre que os meus amigos defendem eliminar serviços, reduzir ou racionalizar estruturas, o que em última análise propõem são cortes nas despesas com pessoal...pois a rubrica das despesas com pessoal é a que tem maior peso (esmagadoramente) no funcionamento da generalidade dos serviços, integrados ou autónomos...
Foi por essa razão que lhes dirigi a interrogação anterior.
É claro que existe um sem número de rubricas nas outras despesas de funcionamento em que será possível poupar...
Mas até que conseguíssemos dispor de um diagnóstico da situação suficientemente completo, estaríamos sufocados...os credores não nos deixariam respirar...
É este tipo de considerações, de índole muito pragmática, que deixo à vossa douta consideração.
Notei finalmente que nenhum dos meus amigos, com a excepção (salvo erro) de Eduardo F., quis embrenhar pela via do comentário às declarações do ilustre personagem citadas e apreciadas no Post...por alguma razão...
Para nos animar um pouco!!!
Mario Vargas Llosa refere na edição de hoje do jornal “EL PAÍS” a propósito das eleições Presidenciais no Chile que deram a vitória ao candidato da direita, Sebastian Piñera, que num encontro que teve com este, três dias antes do acto eleitoral, lhe perguntou qual queria que fosse a sua melhor contribuição no governo se ganhasse as eleições. “Dar um impulso decisivo ao nosso plano de oito anos, para crescer a um prometido 6% anual, algo perfeitamente realizável. Se o conseguirmos, o PIB, que é agora de 14.000 dólares terá um aumento para 24.000. Alcançamos Portugal”, Chile deixará então o subdesenvolvimento e será o primeiro país da América Latina a integrar o primeiro mundo.
Tendo o nosso governo copiado o modelo Chileno de Avaliação de Professores, eis senão quando que passamos a ser o modelo a seguir.
Um abraço,
Pedro Nunes
Caro Tavares Moreira,
Vai-me perdoar, mas não consigo dar importância nenhuma ao que o homem diz.
Caro Tavares Moreira,
Nós ouvir até ouvimos o que o gov diz. Agora dar importância, já é outra coisa, como disse e muito bem, Tonibler.
Caro Manuel Pereira da Silva,
Sabe dizer-me se o Chile faz parte da zona Euro?
Que sorte têm os chilenos!
Caros Tonibler e André,
Registo vosso cepticismo em relação às opiniões do opinador-farol da nossa economia...
Caro Tavares Moreira
O comentador que cita concorre a um lugar permanente no BCE. Só esse facto justifica ter "aturado" o que "aturou" na comissão de análise do BPN.
Como Henrique IV de França, também o BCE vale uma comissão da AR....
Todos, no ocidente, estamos de acordo que não se deve discriminar em função de, entre outros, nacionalidade. Infelizmente, acho que o comentador citado, foi objecto de discriminação nesta última votação para o posto de Vice BCE.
Por isso, acho que as declarações que cita, têm a mesma função que a deslocação de Saramago a Chiapas, antes de receber o Nobel: mossa não faz e pode ajudar muito a conseguir o lugar.....
Dito isto, as declarações mais não fazem do que, de uma forma indirecta, expor o óbvio: vamos ter de operar cortes grandes na função pública, quer queiramos, quer não.
Claro que o modo "oracular" como profere é o suficientemente ambiguo para continuar a ser considerado uma das sibilas da republica...mas isso é truque para conseguir o lugar...
Que esses cortes vão implicar despedimentos, também não tenho dúvidas, apenas não tenho elementos para fundamentar aonde. Por isso quando o fizermos -os despedimentos-(podemos discutir a data) será à portuguesa: de afogadilho e atabalhoadamente....
Nesse sentido, um comportamento sério passaria sempre pelo enxugamento da despesa corrente, mas isso é pedir muito....
Cumprimentos
joão
Caro Tavares Moreira,
As opiniões de quem cita são irrelevantes, eu não consigo acreditar em nada do que o senhor diz...
Caro João,
Quero dizer-lhe que o acompanho na previsão do tempo e do modo como iremos acabar por realizar cortes sérios na despesa pública: quando o dinheiro faltar mesmo, de afogadilho e atabalhoadamente.
Vai ser assim, com certeza...e infelizmente, mas é o método preferido da nossa classe política, que prefere sempre fugir dos problemas, até ao dia em que já não pode fugir mais!
Caro Fartinho da Silva,
Registo também seu cepticismo em relação às opiniões-farol, mas olhe que a nossa venturosa comunicação social continua a tributar~lhes uma relevância que bem se distingue da irrelevância que ao F.Silva merecem...porque será?
Caro Tavares Moreira
Para memória futura:
No passado dia 23/01/10 o semanário alemão Der Spiegel, "obteve" cópia de um estudo realizado pela direcção que, na comissão segue a área financeira.
Nesse "paper" eram identificados os vários desiquilíbrios financeiros e equacionados vários cenários.
O Der Spiegel mencionou expressamente que, esses desiquilíbrios, poderiam comprometer a estabilidade e, no médio prazo, a prórpia viabilidade do euro.....
Na notícia que li, Portugal tinha direito a um tratamento autónomo; normalmente, quando chegam à península, param em Espanha....
Aguardemos com serenidade (no meu caso, espero enganar-me, mas não creio) a proposta orçamental que chega amanhã....
Cumprimentos
joão
Os mercados estão em grande desequilíbrios, há que fazer ajustamentos, ou pelo preço, ou pela quantidade.
No mercado de trabalho português, temos uma grande polarização entre os empregados por conta de outrém e os desocupados por conta própria.
O Orçamento de Estado de 2010 indica claramente que o ajustamento se vai fazer pelo lado da quantidade (mais desemprego) e não pelo lado do preço, como os cortes salariais na Irlanda.
Onde está a solidariedade?
Caro IACE,
Numa breve nota, já algo desfazada no tempo, direi que a solidariedade está...na Irlanda!
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