Mais um acto de terrorismo tentado num avião e as regras de segurança/vigilância são imediatamente revistas de forma draconiana, foi actualizada a lista de potenciais terroristas para 500 000 (!) e as bagagens de mão nos aeroportos americanos passam a ser revistadas em vez de passarem apenas no raio x. Para já, dizem-nos, enquanto vão pensar ainda melhor. Entretanto, já estão a ser adoptadas máquinas que permitem ver integralmente as pessoas que passam nos controles, tal como Deus as deitou ao mundo, pondo termo imediato a algumas resistências que ainda havia a tão eficaz sistema de verificação.
Leio uma minúscula notícia na revista Sábado que dá conta de que na cidade de São José, na Califórnia, os polícias passaram a andar com uma câmara de vídeo na cabeça, para que fiquem gravadas todas as abordagens que fazem aos cidadãos. O objectivo é poderem provar a todo o momento que nunca usaram de violência e assim se acabarem com as queixas contra…os polícias!
O Panóptico é um conceito de um edifício projectado por Jeremy Bentham, no séc XVIII, para construir uma prisão de tal forma que quem estivesse no seu interior tivesse a sensação de estar a ser vigiado durante todo o tempo, sem ver quem o observa nem saber em que momento é observado. Este modelo deu origem à expressão panoptismo para caracterizar os sistemas de observação total e que se aplica hoje ao potencial e utilização efectiva das novas tecnologias.
Ao tentar explorar um pouco o que poderia saber mais sobre este conceito, dei com um texto da faculdade de Ciências que se refere à transição da sociedade disciplinar para a sociedade de controlo, tratada por Foucault. Aí podemos ver já muito claramente desenhado o modelo de sociedade que hoje habitamos e que não nos cansamos de querer ver mais e mais aperfeiçoada, em nome da segurança, da economia ou, simplesmente, da mobilidade sem fronteiras.
A padronização de comportamentos ou a sua “normalização” são a condição de sucesso desta forma de organização, centrada no indivíduo e nos seus movimentos e atitudes e já não nos grandes movimentos sociais disciplinados pela força ou pela violência. Hoje, governa-se pelo controle, pela sedução da propaganda ou pelo medo, como quase todos os editoriais de fim de ano assinalaram como grande marca da evolução deste século. Reagimos à violência, ou ao risco dela, por mínima que seja, pedindo mais e mais controlo, mais e mais vigilância.
Não sei se será inevitável, aparentemente sim, mas o que trará certamente também é uma reavaliação do conceito de liberdade.
Leio uma minúscula notícia na revista Sábado que dá conta de que na cidade de São José, na Califórnia, os polícias passaram a andar com uma câmara de vídeo na cabeça, para que fiquem gravadas todas as abordagens que fazem aos cidadãos. O objectivo é poderem provar a todo o momento que nunca usaram de violência e assim se acabarem com as queixas contra…os polícias!
O Panóptico é um conceito de um edifício projectado por Jeremy Bentham, no séc XVIII, para construir uma prisão de tal forma que quem estivesse no seu interior tivesse a sensação de estar a ser vigiado durante todo o tempo, sem ver quem o observa nem saber em que momento é observado. Este modelo deu origem à expressão panoptismo para caracterizar os sistemas de observação total e que se aplica hoje ao potencial e utilização efectiva das novas tecnologias.
Ao tentar explorar um pouco o que poderia saber mais sobre este conceito, dei com um texto da faculdade de Ciências que se refere à transição da sociedade disciplinar para a sociedade de controlo, tratada por Foucault. Aí podemos ver já muito claramente desenhado o modelo de sociedade que hoje habitamos e que não nos cansamos de querer ver mais e mais aperfeiçoada, em nome da segurança, da economia ou, simplesmente, da mobilidade sem fronteiras.
A padronização de comportamentos ou a sua “normalização” são a condição de sucesso desta forma de organização, centrada no indivíduo e nos seus movimentos e atitudes e já não nos grandes movimentos sociais disciplinados pela força ou pela violência. Hoje, governa-se pelo controle, pela sedução da propaganda ou pelo medo, como quase todos os editoriais de fim de ano assinalaram como grande marca da evolução deste século. Reagimos à violência, ou ao risco dela, por mínima que seja, pedindo mais e mais controlo, mais e mais vigilância.
Não sei se será inevitável, aparentemente sim, mas o que trará certamente também é uma reavaliação do conceito de liberdade.
8 comentários:
É uma realidade que a nossa liberdade está, infelizmente, condicionada por questões de segurança (e não só!). O poder que um fundamentalista disposto a morrer (pensando que, algures, se encontram 25 – ou são 27? - virgens à sua espera de braços abertos) tem, ao condicionar a minha liberdade e retardar o meu percurso aéreo (devido a todas as medidas de segurança que deveriam ser sempre cumpridas), incomoda-me. Mas se não tiver outra alternativa, por enquanto, prefiro abdicar ou melhor ter a minha liberdade e a minha privacidade condicionadas se isso for em benefício da minha segurança. Prefiro passar por todas as práticas de segurança num aeroporto, do que sofrer altos níveis de ansiedade durante uma viagem de 2, 10 ou 15 horas. Há quem, evidentemente, discorde, alegando que todas essas medidas de segurança infringem a sua liberdade e privacidade.
E enquanto em certos aeroportos, os funcionários exercem as suas funções com eficiência, noutros não. E depois acontece o que aconteceu! Este ano, numa das minhas viagens, quando o meu saco estava a ser examinado, a senhora disse-me que um dos meus cremes não poderia passar. Eu respondi que tinha que passar porque era caríssimo. Indiquei que era apenas de 50 ml. Concordou. Quando chegou a vez de examinar um tubo de outro creme, olha para mim e disse: este não passa mesmo. É de 150 ml. Eu olho para o tubo e chamo a sua atenção para o facto de que está meio vazio. Portanto, não existe lá dentro 150 ml de creme. Desta vez não levei a minha avante. Mas também não deixei lá o dito creme num tubo de 150 ml!!! Ainda fui a tempo de o entregar a um membro da família que continuava no outro lado para os devidos adeus.
CONCLUSÃO: Ao fim e ao cabo, não somos e nunca seremos completamente livres. De uma forma ou de outra, a nossa liberdade será sempre condicionada. E à medida que os tempos vão passando e se vão transformando, assim a nossa conduta, os nossos padrões de comportamento terão de se adaptar às circunstâncias do momento.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”
Eis um tema interessante e nalguns aspectos perturbante
Suzana
Como refere a nossa Cara Catarina não somos nem nunca seremos completamente livres. Trata-se de saber qual o grau de liberdade que estamos dispostos a ceder para podermos dela desfrutar com mais ou menos em segurança.
Que "Big Brothers" é que estamos dispostos a ter? Quem os legitima? Quem são? Como são controlados os seus poderes?
O conceito de liberdade está, a meu ver, há muito a sofrer alterações, talvez que sem uma explícita reavaliação.
Tema de enorme candência e actualidade mas que em minha opinião não suscita apenas razões de fundada preocupação. Também as há que, ao invés, nos permitem algum optimismo.
Julgo que não temos alternativa a que vários espaços de liberdade que, até há pouco tempo, julgávamos sacrados, tenham que ceder perante imposições de segurança colectiva (mas também individual, vidé o cartoonista dinamarquês).
É nosso dever de cidadania, porém, tudo fazermos para esclarecer se não há alternativa viável à perda de cada espaço de liberdade. Assim, e por exemplo, se estou convencido que a videovigilânica alargada é inescapável, de todo não aceito que, por razões meramente tecnocratas (e de emendar de mão envergonhado), se avance com o projecto de dotar as matrículas dos veículos com chips.
Em contrapartida, também é verdade que há novos espaços de liberdade que se vão expandindo e que nós próprios, até há uns anos atrás, nem sonhávamos. A internet é, claramente, a infra-estrutura base que o permite. A blogoesfera é uma das instanciações desses novos espaços de liberdade, de informação e de opinião.
Permitam-me assim que partilhe convosco, um documento fundamental(*) muito recente e que é exemplo do que afirmo relativamente a um tema - o suposto aquecimento global causado pela crescente emissão de dióxido de carbono para a atmosfera - que muitos querem apresentar como indisputável e assim justificar a tomada de decisões políticas com gigantescas e, a meu ver, absurdas e tremendas consequências económicas para a humanidade.
Podem os meus amigos não estar de acordo comigo neste último aspecto mas, estarão com toda a certeza comigo, na conquista que é o termos acesso a opiniões divergentes da opinião "consensual". A bem da nossa liberdade.
(*)- Via Devils's Kitchen através de A arte da fuga
O conceito inicial do panoptismo, nascido em 1785, evoluiu das prisões para as empresas e para as escolas e, com os meios de controlo actuais, apareceu um conceito novo, o banoptismo, em que o controlo se poderá vir a concentrar preferencialmente sobre grupos específicos (do ban do alemão antigo: excluídos no topo por excepção, ou na base por discriminação ou rejeição).
As questões centrais para nós são a do balanço entre liberdade e segurança, ou entre liberalismo e controlo, e a do controlo das medidas de excepção que, devendo ser limitadas no objecto, no espaço e no tempo, não são toleráveis fora da circunstância que as justificam.
Sabemos todos como os acontecimentos do 11 de Setembro e os episódios terroristas que de tempos em tempos ocorrem têm evidenciado a intensificação das lógicas de controlo e segurança, encontrando particular justificação na enorme mobilidade actual e na perda dos antigos controlos sociais de proximidade.
Quando as tecnologias de controlo e segurança são cada vez mais potentes, a nossa atenção deve concentrar-se no equilíbrio indispensável entre o exercício dos poderes políticos, o funcionamento das instituições responsáveis pela segurança e o próprio viver da sociedade.
Vá lá que salvou o creme, catarina! Em Londres fazem-nos descalçar os sapatos logo no controlo das bagagens e mandam-nos pô-los no tapete rolante, com os sacos. Depois ficamos a calcá-los e logo a seguir, 5 metros à frente, é preciso descalçá-los de novo para um contolo específico dos sapatos...
Margarida, as perguntas que faz são as que mais assustam, até porque uma boa parte dos controladores já são desconhecidos e incontroláveis...
Caro Eduardo, agrada-me a sua perspectiva optimista, de resto uma das vantagens, se assim podemos chamar, desta sociedade de controlo é que se vai instalando sem violência, pelas boas razões da segurança, de mais mobilidade e da redução de despesas para optimizar os recursos. Na prática, todos os sitemas de controlo hoje existentes dariam uma burocracia infernal e milhões de guardas, um estado policial e de vigilância que não conseguimos imaginar se fosse posto em prática nos moldes tradicionais. Por isso aplaudimos e nos sentimos reconfortados, mesmo que spiados o tempo todo uma vez que todos somos potencialmente suspeitos de violar alguma regra de segurança. Um jovem casal que vive em Londres respondeu-me há dias que não viam problema nenhum nas câmaras de video por todo o lado porque isso só incomoda quem estiver a fazer alguma coisa de mal. A questão é saber o que é que é mal e o que é bem, a cada momento e em momentos futuros, permitindo uma reavaliação permanente dos bem ou mal comportados. O exemplo que dá, do magno tema do aquecimento global agora transfigurado em mudanças climáticas mostra bem como é difícil gerir e seleccionar toda a informação e fazer um juízo claro e livre sobre a matéria. Á força de ouvirmos, passa a ser inaceitável afirmar o contrário.
Caro just-in-time, "não são toleráveis fora das circunstâncias que o justificam" é o busílis da questão, se não são toleráveis em dado momento logo acntece algo que "prova" que devem ser toleradas, como é o caso das novas máquinas nos aeroportos, ou mesmo os chips automóveis, como certamente iremos constatar. Quanto ás instituições e aos poderes responsáveis, quem guarda o guardião?
Eu vejo a questão de uma forma mais simples: Há muito tempo que se tenta implementar as "máquinas despidoras", e este episódio em que um "terrorista" ia fazer um atentado com as cuecas (literalmente) foi um bom pretexto.
AS "máquinas despidoras" são de uma eficácia sem precedentes, e servem para uma data de coisas e a luta anti-terrorista é só uma delas.
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