1. Foram divulgadas esta semana, pelo BdeP, perspectivas económicas para o ano corrente e o próximo:
- (i) crescimentos do PIB de 0,7% e de 1,4%;
- (ii) aumento da taxa de desemprego em 2010, eventual início de redução em 2011;
- (iii) agravamento do desequilíbrio das contas com o exterior para quase 10% do PIB em 2010 e mais de 11% do PIB em 2011 (8,2% em 2009).
2. Estas perspectivas foram recebidas pela generalidade dos comentadores (dos que consegui ouvir ou ler) e pelos responsáveis políticos com satisfação, como um sinal de melhoria...como seria aliás de esperar...
3. Uma leitura mais atenta e sem prejuízo da reserva que estas previsões devem merecer, leva-nos contudo a indagar o verdadeiro significado destes cenários e sobre a sustentabilidade a prazo deste modelo de comportamento da economia portuguesa.
4. Importa notar que, para assegurar uma ligeiríssima retoma da actividade económica, que nem é suficiente para garantir uma redução do nível de desemprego, teremos de suportar um aumento considerável do nível de endividamento global e ao exterior, uma aceleração mesmo do seu ritmo de agravamento...
5. Na minha perspectiva este modelo de evolução da economia portuguesa é simplesmente insustentável, é caminho certo para uma implosão ou pior, como a Moody’s sugeria esta mesma semana, para uma morte lenta...
6. A este respeito gostaria de referir um interessante artigo de opinião sobre o caso da Grécia, publicado na última 3ª Feira (12) no F. Times e da autoria de Desmond Lachman, membro do American Enterprise Institute, “Greece looks set to go the way of Argentina”.
7. Lachman, a situação da economia grega e numa comparação ao caso da Argentina no final dos anos 90 que conduziu a uma situação de insolvência face ao exterior, (ainda hoje por resolver), conclui que a Grécia não tem solução dentro do Euro pela simples razão de que os desequilíbrios macro-económicos que acumulou e os níveis de endividamento que atingiu tornam já insuportável o esforço de ajustamento necessário para inverter a trajectória de endividamento.
8. Na análise de Lachman, seriam necessários anos sucessivos de deflação, com elevadas perdas de rendimento nominal e real das famílias para que a Grécia conseguisse restabelecer os equilíbrios económicos fundamentais e sanear as suas finanças públicas – e isso o autor considera simplesmente impraticável...pelo que conclui que a Grécia não terá outra saída a não ser...sair do Euro dentro de 2 a 3 anos.
9. Se a premonição de Lachman está certa ou não, desconheço. Trichet recusou comentar quando ontem lhe colocaram a questão...
9. Do que me apercebo é que a continuarmos assim – e sinceramente não vislumbro outra solução com as opções de política que estão “sobre a mesa” – colocar-se-á à economia portuguesa um dilema muito semelhante, não tarda.
10. É por esta razão que não consigo entender, de todo, as manifestações de satisfação de "opinion-makers" e de políticos pela divulgação destas perspectivas económicas...
11 comentários:
Caro Tavares Moreira.
Meros money makers profissionais travestidos de opion makers, ao serviço de quem lhes faz ganhar bem a vida. Podem torcionar as opiniões, mas servem sempre o patrão de ocasião.
A Grécia vai ser um caso fantástico de viver, como foi a crise do subprime. A outra metade dos empiristas vai ser arrumada (espero!)
Portugal está desejoso de ver a Grécia ser salva. É que se ninguém liga à dívida pública do Mississipi, muito menos liga depois do Arkansas ser ajudado..
Admitindo a não presença de má-fé, só resta a explicação da profunda ignorância ou, no limite, a prática de "Voodoo economics" a que Vítor Bento aludia há uns meses na SEDES.
Tiro no alvo,caro Pinho Cardão, tiro no alvo!
Caro Tonibler,
Bem oportuna, essa chamada de atenção para os nossos amigos do Mississipi e do "Arkanso"...Sempre na vanguarda do bom-humor, que tanta falta nos faz!
A Grécia, em certo sentido, é a nossa barreira de protecção neste momento...não acha que faria todo o sentido enviarmos um destacamento de trpoas de elite para a Grécia, em gesto de solidariedade e para os defrender dos credores internacionais?
Quem sabe se os Gregos não iriam depois retribuir o gesto, caso venha a ser necessário?
Caro Eduardo F.
Permita-me a sugestão de que poderá haverá neste comportamento muito pouco responsável dos nossos vanguardistas políticos uma boa mistela dessas perversas razões...
Caro Tavares Moreira,
Convém salvaguardar a aleatoriedade das previsões do BdeP, ou seja, nada nos garante que estas não venham a ser revistas durante os correntes anos.
Quanto a este assunto continuamos a carecer do mesmo problema. Os opinion makers em Portugal, fazem muito trabalho pela rama, são muito superficiais e portanto, vão comentando e vão-se guiando pelas evoluções trimestrais e anuais. Não chega! Tem de fazer uma pesquisa de longo prazo e de sustentabilidade que é algo que dá trabalho e eles não o fazem. Por esses motivos, não sou muito crente nos opinion makers portugueses.
Quanto a Lachman a minha questão é: se a Grécia sair do euro, qual a garantia para os outros países? Quanto valerá a moeda grega? Não seria mais viável a UE assumir poderes de execução internos na grécia, nomeadamente financeiros, ou seja, a ue/bce fazer o papel do FMI?
Caro Tavares Moreira
Não pude comentar, como pretendia o seu post. Uma arrealiadora avaria/vírus no computador limitou-se todo o fim de semana.
Não sei se ainda vai a tempo, mas...
Desde que publicou o post, muita água correu sobre as pontes. Os comentários das agências, aliado ao nervosismo dos mercados, concorreram para acelarar o aumento dos spreads que a Républica paga pelos seus empréstimos....parece que havia muita gente enganada....
Depois as centrais de informação começaram a "tinir", focando no acessório para, tentar, esconder o óbvio.
A ópera bufa não poderia ficar completa, sem a divulgação da carta, em inglês, que o Director do IGCP, (acho que o acrónimo é este), tentava tranquilizar os mercados; ora essa missiva, contrariava, de facto, uma parte importante do discurso oficial, seja do Governo, seja da Oposição.
Dito isto, aqui vão mais algumas "achegas":
estou de acordo consigo, quando comenta o relatório do BddP, é, realmente, o facto mais relevante (da semana passada); vamos deixar de lado as questões do grau de acerto das previsões do BdP, para nos concentramos no cenário e na conclusão principal:o endividamento não parar com um crescimento de 2%, antes pelo contrário. Claro que seria mais produtivo (para a necessária discussão pública) que o BdP indicasse qual o valor (do crescimento da economia) que é necessário para suster/anular o endividamento, mas, isso, é pedir demais.
Nesse sentido, o comentário do responsável da Moody's foi validado pelo BdP...não vi, li ou ouvi, ninguêm perorar contra o "incontornável" Governador...
Faço meus os comentários que realiza sobre as conclusões dessa peça regularmente publicada pelo BdP.
O que se vai passar com a Grécia é essencial a todos os níveis; explorar a credibilidade de uns, ou salientar o ratio do endividamento externo de outros, apenas contribui para tornas a discussão mais confusa e obnubilar o essencial: o euro encontra-se numa encruzilhada fundamental e, neste ano e meio joga-se a arquitectura futura da moeda e, correlativamente, da própria união.
A Grécia pode seguir a via da Argentina na década de 90 (do séc passado), ou da Califórnia, em qualquer dos casos, começa a ficar claro que, estes, terão de escolher uma das vias ou ajustam-se sózinhos, ou são ajustados.
Como nos andamos a esqueçer do essencial, deixámos de ter o enquadramento: a Irlanda está a realizar um violento ajustamento, qualquer complacência para com casos semelhantes, cria um problema político na Irlanda e um descrédito do euro...
Acho que se pode já, afirmar com algum grau de segurança, que os gregos vão ter se "amanhar" sózinhos e, qualquer ajuda/apoio será sempre a troco de um custo elevado da soberania e autonomia da Grécia...
Não sei se os gregos estarão dispostos a suportar esse risco, o que eu tenho quase a certeza é que os alemães não querem duplicar o subsídio que dão à ex RDA, nem a prazo, nem sem prazo...
Por isso, estamos no meio de tempos muito interessantes....
Cumprimentos
joão
Caro André,
Quanto aos "opinion-makers", estamos entendidos...
Quanto às questões levantadas, parece prematuro avançar respostas, a Grécia é um "case-study" em andamento, os próximos episódios permitirão ver melhor que tipo de solução pode ser encontrada...
Pela minha parte tenho as maiores dúvidas que a solução definitiva possa dispensar uma intervenção do FMI "à la carte" conjugada com algum apoio, também condicional, da UE...Veremos.
Caro João,
Registo o seu bem elaborado comentário.
Na linha da minha resposta a André, sou de opinião de que, dada a novidade do assunto, a solução para a Grécia está em fase experimental sendo nesta altura difícil antecipar como poderá acabar.
Na sua versão radical, Lachman prevê a implosão da Grécia no Euro devido à incapacidade de aplicar as medidas requeridas para inverter a situação.
Mas essa não é uma conclusão forçosa, por muito que se afigure possível...
Entre nós não se vislumbram, por enquanto, sinais de uma inversão de política capaz de alterar os cenários de "terror" avançados pelo BdeP.
As indicações que vão chegando das mesas (parecem ser várias) de negociação para aprovação do OE/2010 dão-nos conta apenas e tão somente de umas "mezinhas" que não chegam para nada...
Haverá algo de mais importante na "manga"? Não me quer parecer...
Mas o melhor será mesmo mantermos o ecrã aberto, registando todos os passos desta novela...
Caro Tavares Moreira
Sobre o que se passará em Portugal, estou consigo: vamos ter a cosmética e será essa que vai ser enviada para Bruxelas. Vai ser um misto de ópera bufa italiana em versão revisteira...
Arriscando um prognóstico,( ainda sem saber o conteúdo do que se enviará), Bruxelas vai recusar e, nessa altura teremos uma versão do séc XXI da nossa reacção ao Ultimato de finais do séc XIX.
Pode ser que essa "nega" permita que alguns nós górdios sejam desatados, sempre seria um (bom)pretexto....
Vamos ao mais importante:
A Grécia é, como disse o retrato do que poderemos ser, mas (curiosamente) é o retrato do que poderíamos ter (também) sido.
Na Grécia as Forças Armadas (FA) são intocáveis, ao contrário do nosso saudoso CR (Conselho da Revolução) os coroneis, perpetuaram-se no poder desde 1973...discutir e analisar a instituição é como por em causa a veracidade de Fátima, com a diferença que estão armados.
Como 90% dos equipamentos estão em leasing, o exército grego é uma enorme EPE; calcula-se que represente hoje algo em torno dos 8% do PIB grego: são umas Estradas de Portugal com licença de porte de arma.
Perguntar a um grego porque é que tem um exercito de +/- 300.000 homens, serviço militar obrigatório por um período de 2 anos, 1600 tanques, 420 aviões de combate e oito, repito oito, submarinos; isto para se defender de um país que até é membro da mesma aliança militar é como perguntar a um português, porque construímos seis estádios de futebol para o euro, ou porque temos tantas rotundas....
Ah! Com o detalhe não despeciendo: o exército grego não saí do Mediterrâneo há mais de 300 anos...
Por isso é que não vai ser fácil, aos cérebros, quer da comissão, quer do FMI, tentar explicar aos nativos que, talvez, fosse interessante, "enxugar" o exército em 80 %....como compreende, não será nunca fácil explicar aos nossos nativos que devem implodir úma parte dos estádios e arrasar as rotundas e os respectivos fontanários....ou os comboios que aproximam as praias do Tejo de Madrid....
Por outro lado, e apenas como subsídio para a sua análise futura do que poderá suceder à Grécia, os serviços da Comissão já encomendaram um estudo que permita "expulsar" a Grécia. O argumento( em versão resumida e recebida por via oral) é que, desde a adesão à União, que os gregos alienaram parcelas de soberania cada vez maiores. Nesse sentido,a autonomia dos gregos está limitada pelo que, deverão acatar as "recomendações" da Comissão, ou teria de ser expulso....não tenho dúvida que os autores foram educados em algum dos bons colégios jesuítas europeus...
Cumprimentos
joão
Caro João,
Muito interessante sua digressão analítica em torno da tragédia grega dos nossos dias.
O comunicado de hoje do ECOFIN, que creio terá lido, sugere que a tragédia terá de ser resolvida pelos helénicos sem contarem com especiais ajudas da UE...
Isto sugere tb, na minha análise, que o FMI vai ser chamado a um papel bem mais activo, decisivo proventura...
Não esqueçamos todavia que as receitas do FMI não são necessariamente infalíveis - a insolvência externa da Argentina há 12 anos aconteceu apesar do esforço do FMI.
Esperemos que o FMI consiga ser mais bem sucedido na península helénica...
Caro Tavares Moreira
Como diz um antigo acessor de Margaret Thatcher, Lord Monckton, a arte da política reside em colocar as perguntas certas/correctas e responder de acordo.
No caso da Grécia e, por continuação lógica, para os restantes PIIGS a pergunta correcta (na minha opinião) é a seguinte (peço desculpa por estar em inglês) who's going to foot the bill?
(Mais ou menos, quem vai pagar/suportar todos os custos?)
Um processo de eliminação acaba nos mesmos: Alemanha, Holanda e os próprios visados.
A Alemanha, como já disse, não quer uma situação semelhante à da ex-RDA: subsidiar sem fim à vista;
Para um holandês amizade e cooperação é convidar para almoçar, ou jantar, a conta é sempre repartida.
O montante da conta é grande (temos de adicionar as dívidas de todos), os recursos do FMI limitados, como limitada será sempre a ajuda aos países, dado que tem um conhecimento menos amplo do que se passa na "casa" de cada um, do que os serviços da Comissão.
Por outro lado, a Comissão e as outras instâncias da união, acompanham, sempre, o substantivo medida, do adjectivo, repito sempre: efectivo/concreto/real. Ora, pelo que afirmei acima, o FMI está menos apetrechado do que a comissão para monitorar a execução das medidas.
Por tudo isto, vamos ter o ECOFIN a gerir um fundo financiado por emissão de dívida europeia, emissão essa realizada pelo BCE.
Qualquer outra solução pode ser inexequível, por não alcançar os objectivos pretendidos. Mas isso, fica para outro comentário
Cumprimentos
joão
Não me atreveria a considera-lo tão optimista, caro João.
Será do dia ter hoje aparecido mais sorridente (para quem reside na reigião de Lisboa)?
Essa hipótese da emissão dos eurobonds - com a agravante de ser efectuada pelo BCE - não lhe parece um cenário algo longínquo, eventualmente só depois de resolvida, doutra forma, a tragédia grega (e outras tragédias similares)?
Exactamente para prevenir o factor "moral hazard"?
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