Ontem, num dos jornais da manhã, a RTP dedicou-se a focar a indignação do povo perante o aumento dos preços dos transportes. Para a demonstrar, a apresentadora ligou para o camarada jornalista José Manuel Levy, enviado especial a uma estação de comboios de Lisboa. Segundo o jornalista, lavrava por aí uma enorme indignação. Dirigindo-se ao primeiro suposto indignado que encontrou, este recusou-se liminarmente a expressá-la e, a avaliar pela surpresa do repórter, a resposta não terá sido lá muito agradável. Mas, logo ali à mão, estava a dona de um café da estação. A senhora também está também indignada com o aumento do preço dos transportes? A resposta foi evasiva e "indignou" ainda mais o já indignado repórter. De modo que, cada vez mais "indignado", voltou à carga uma segunda, uma terceira e uma quarta vez, até que a senhora lá admitiu que sim, que havia lugar a alguma indignação. Épico, o dito jornalista encerrou a reportagem de modo triunfal, salientando a grandiosa indignação do povo que aquela voz bem ilustrava.
Posto isto, confrange-me a incompetência da RTP e dos seus jornalistas de serviço. Se pretendiam demonstrar a tese tão pomposamente anunciada pela apresentadora e pelo repórter da indignação geral, não era tão fácil contratar de véspera com um qualquer sindicato dos transportes a presença de meia dúzia de povo indignado para fazer um boneco a sério? Pelo menos, apresentavam obra asseada.
Posto isto, confrange-me a incompetência da RTP e dos seus jornalistas de serviço. Se pretendiam demonstrar a tese tão pomposamente anunciada pela apresentadora e pelo repórter da indignação geral, não era tão fácil contratar de véspera com um qualquer sindicato dos transportes a presença de meia dúzia de povo indignado para fazer um boneco a sério? Pelo menos, apresentavam obra asseada.
3 comentários:
Esqueceram-se de entrevistar o pessoal do famoso Bloco, que tb estava lá para alimentar os ânimos!
Falha imperdoável, a revelar desatenção muito pouco profissional!
Lembro-me na minha adolescência ser apanhado numa revolta popular e consequente carga policial, devido ao serviço nojento da CP devido a uma greve dos serviços de manutenção em Oeiras e ter chegado um jornalista da TSF. O jornalista sai do carro e entrevista a D. Maria de Jesus, membro de longa data do PCP e minha vizinha, que afirmou qq coisa como "Isto é o sinal de 48 anos de longa noite fascista". Acto contínuo, o jornalista afirma para o estúdio "a população presente é unânime, a carga policial é injustificada"...
Nunca se deixa que a verdade estrague uma boa história.
Caro Tavares Moreira:
De facto, aquilo é gente pouco profissional: meia bola e força, que o pagode não merece mais...pensam eles.
Caro Tonibler:
Claro, o que interessa é a história, que a verdade, essa afeiçoa-se ou violenta-se.
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