1. Em entrevista a um canal de TV italiana, ontem à noite, o fogoso líder do PDL e ex-PM italiano acusou Monti de ter levado a Itália para a recessão ao seguir a política ditada pela Alemanha. Acrescentou que “esta política foi planeada para beneficiar a Alemanha e permitir a este País, liderado por Angela Merkel, reduzir os custos do seu endividamento à custa de outros países”...
2. Disse ainda Berlusconi que o governo de Monti seguiu a política alemã que a Europa trata de impor a outros estados e criou uma situação “muito pior que quando estávamos no governo” (referindo-se a si próprio, certamente)...
3. Ao ouvirmos Berlusconi usar este novo discurso anti-austeridade, sentimo-nos tentados a perguntar: onde é que eu já ouvi isto? Até parece que estamos em Portugal, escutando as conhecidas teses Crescimentistas - em registo radical - que abominam a austeridade e zurzem os seus mentores internos e externos, ao mesmo tempo que sustentam a necessidade de se adoptarem (misteriosas) políticas de crescimento sem mobilização de recursos...
4. É caso para dizer que os Crescimentistas lusos têm boas razões para se sentirem confortados com a descoberta deste tão importante quanto inesperado aliado...e podemos mesmo antecipar (?) a presença do fogoso político italiano como estrela de um dos próximos comícios Bloquista ou Rosáceo, invectivando a austeridade e os seus mentores e promovendo a mensagem do Crescimento, recolhendo justos e frenéticos aplausos de audiências ao rubro...
5. Curiosamente, Berlusconi omite que, quando em Novembro de 2011 renunciou ao governo para ser substituído por Monti, a Itália se encontrava à beira de uma grave crise financeira, com o acesso ao financiamento na iminência de ser suspenso, e que foram as medidas implementadas por Monti que permitiram desanuviar a situação e repor condições de financiamento no mercado hoje quase normais...
6. Também já se não recorda, provavelmente, que o BCE, na era Draghi, resolveu iniciar um programa de compra de dívida italiana no mercado secundário, tendo por contrapartida um compromisso escrito do governo Berlusconi de implementar um conjunto de reformas...
7. ...compromisso que Berlusconi rapidamente esqueceu a partir do momento em que o BCE cumpriu a sua parte, o que levou Draghi a suspender por sua vez a dita compra de dívida, colocando a Itália à beira da já referida crise financeira...
8. Mas este não é o tempo de lembrar as desditas de Berlusconi, mas antes e em primeiro lugar de felicitar os Crescimentistas de todo o Mundo, lusos muito em especial, por tão notável reforço!
17 comentários:
"Crescimentistas de todo o Mundo, uni-vos"
Na ocidental praia lusitana, sede do mais antigo estado europeu, em breve por vias crescimentistas (do 7º dia), veremos o nascer do 5º Império.
A não ser que ultrapassados por Berlusconi o Magnífico.
À falta de uma 4ª República,
a música, mesmo sem o Titanic, continua.
Caro Tavares Moreira,
O facto de existirem crescimentistas incompetentes não é razão para apoiar austeristas incompetentes.
Se a Itália mantiver o rumo da austeridade como está a fazer vai acabar mal.
O berluscão é cainiano. Depois queixem-se da porca miseria ladra...
Ladrando o e ao contribuinte, eis o presente contínuo, o perpetuum mobile dos cainianos...
Caro Tavares Moreira, o Berlusconi não se lembrar nem sequer é grave e nem sequer surpreendente. Os eleitores por ventura não se lembrarem poderá se-lo... mas, claro, sendo esse o caso pagarão as custas da falta de memória.
Bela profecia, caro BMonteiro, cheia de candura e de vigor literário! Vamos pois ter esperança, o Crescimentismo há-de vingar, nem que seja numa manhã de nevoeiro...
Caro Paulo Pereira,
Está então do lado de Berlusconi contra Monti? Faço-lhe esta pergunta sem nenhuma intenção especial, meio escondida ou algo parecido, é apenas para clarificação de posições, pois percebo que está contra a política de Monti...
Caro Zuricher,
Tenho uma certa noção de que desta vez os eleitores (italianos, claro) não vão ser facilmente iludidos...a linguagem crescimentista de Berlusconi não os deverá convencer, soa a falsete...
Tudo se resume a que os “mercados” determinam o acesso de financiamento dos países. E o que motiva os “mercados” para tornar mais fácil ou difícil ou mesmo impossível esse acesso?
Serão as necessidades do desenvolvimento ou as da sociedade que comandam esse processo? Seguramente que não. O que motiva na verdade os mercados é apenas a obtenção de maiores lucros. Será assim lícito, admissível ou racional, que o desenvolvimento económico e social dos países e dos seus povos se encontre subjugado aos maiores lucros obtidos no mercado?
Se estivesse no mercado dos media também seria "crescimentista". Aos poucos vão cair que nem tordos sem as "publicidades institucionais" que os sustentavam. É compreensível a posição do Berlusconi, como é a do Balsemão cá em Portugal. Têm a minha compreensão, mas o dinheiro que o vão buscar a outro lado.
Curiosa é a forma como arrastam as pessoas que nem sequer já se questionam sobre o fenómeno.
Caro Carlos Sério,
Conhece algum mercado, nem que seja o das sementes de agrião, em que os agentes não se movimentem em função da obtenção de ganhos (ou de lucros, como lhes chama)?
Acho admiráveis essas divagações, como se fossem descobertas, em torno da perversa motivação dos mercados!
Caro Tonibler,
Constato que está num processo de humanização acelerado, quando oferece a sua generosa compreensão aos "mogul" dos media!
Ou será da época natalícia que atravessamos, em que todos os corações se abrem mais à compreensão do próximo?
O mais curioso é que o Crescimentismo de Berlusconi (o outro que refere desconheço) é de geração recentíssima e reveste tons de arrependimento súbito, pois Berlusconi apoiou, até data recentíssima, as medidas do governo de Monti...
Caro Tavares Moreira,
O Monti parece não entender que com uma divida de 130% do PIB e um PIB a decrescer não vai lá.
A equação é simples :
a) Crescimento nominal do PIB tem de ser maior que o crescimento da divida publica.
b) Num sistema capitalista com credito não é possivel reduzir a divida em valor absoluto a menos que o saldo da balança corrente seja muito elevado.
c) A campanha do Berlusconi pode ser util para obrigar a Italia e a UE a raciocinar.
Caro Paulo Pereira,
Mas o meu amigo acha que na UE não sabem raciocinar?
É óbvio que se espera que com as medidas recessivas e reformas estruturais o país cresça no futuro de modo a pagar a dívida. No presente tal será impossível evidentemente.
As medidas recessivas e reformas estruturais implicam que largos sectores protegidos da sociedade, sectores que tiveram e têm acesso ilegítimo a riqueza, percam esses "direitos".
Isto já para não falar de outras ilegitimidades, como a corrupção, comummente aceites.
Cumprimentos, IMdR
Caro Paulo Pereira,
Coma ressalva da quase sistemática referência a erros crassos - como se do seu lado estivesse o dom da infalibilidade e do outro lado uns pobres ignorantes para não lhes chamar malfeitores - até considero as suas reflexões sobre estes temas muito interessantes e joviais, dá gosto discutir assim...
Todavia, das achegas que vai aportando para vislumbrar uma saída do difícil beco em que nos encontramos, torna-se cada vez mais claro que a sua visão é mesmo a de um universo extremamente simplificado, em que as melhores decisões são não só óbvias como de comando quase automático.
Sem ter de abandonar o sofá - terreno ideal para as decisões infalíveis - o ilustre comentador mune-se da régua e do esquadro, do apontador e mais algum "stuff" e desata a tomar decisões brilhantes - só nos devendo espantar que os decisores de serviço as ignorem...
De facto, se está mesmo convencido da bondade desse método, e não ouso por em causa a sua honestidade de propósitos, então estamos realmente conversados...
Caro Tavares Moreira,
Não entendi qual o método que o Sr. aponta para analisar as questões que se nos deparam na economia , que o método para apontar soluções para os problemas.
O método terá de ser na cadeira ou sofá, analisar os numeros, verificar modelos e sintetizar propostas.
Claro que os governos têm os seus constrangimentos práticos, mas isso é um problema de uma ordem diferente.
Básicamente temos em curso na U.E. , ao contrário dos EUA e do Japão e do RU, uma "ideologia" Austerista que se baseia numa "crença" de que num futuro proximo o PIB voltará a crescer , sem se importar com os custos sociais do desemprego e da pobreza.
No caso dos EUA essa "ideologia" não é aplicada e o PIB cresce e o desemprego desce e no caso do Japão e do RU , o PIB estagna mas o desemprego não sobe .
As decisões na U.E. são baseadas numa crença à priori, que não é fundamentada num raciocinio logico.
Se a U.E. continuar no caminho austerista , logicamente o desemprego vai continuar a aumentar e os racios de divida / pib vai aumentar, o que levará á continuação das politicas de austeridade, mantendo o ciclo vicioso.
Sinceramente não consigo vislumbrar onde está o erro do meu raciocionio.
Caro Tavares Moreira,
"Têm a minha compreensão, mas o dinheiro que o vão buscar a outro lado."
Caro TM, não respondeu à questão:
Será assim lícito, admissível ou racional, que o desenvolvimento económico e social dos países e dos seus povos se encontre subjugado à especulação financeira, aos maiores lucros obtidos no mercado financeiro?
Será assim lícito, admissível ou racional, que o desenvolvimento económico e social dos países,
que as democracias estejam a ser controladas,subordinadas, geridas pelos "mercados"?
Se quer reduzir a dimensão desta questão ao "mercado dos agriões", pois bem, é uma opção sua, que não deixa no entanto de demonstrar a sua grande elevação intelectual.
Caro Tonibler,
Tem também toda a minha compreensão e, no seu caso, nem sinto necessidade de acrescentar a prudente ressalva que colocou para os "media mogul"...
Caro Paulo Pereira,
O que o Senhor diz é inatacável, está perfeito, não esteja preocupado. O problema todavia não está em dizer, como já terá reparado...e como já terá reparado tb, os media estão coalhados de salvadores da Pátria, com soluções para todos os problemas que nos afligem...
Caro Carlos Sério,
Já deu para perceber que o Senhor não sabe perder, porque isso lhe faz perder tb as "estribeiras"...é pena, assim não é possível continuar um dialogo que até poderia ser interessante. Full stop.
Caro TM,
Não fuja às questões e esclareça-nos a sua posição.
Quem deve assumir afinal o comando do desenvolvimento e do destino dos países e dos povos?
Os mercados?
Quanto ao resto peço desculpa se lhe causei tanto melindre.
Carlos Sério,
Full stop é mesmo "full stop".
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