Levantou-se
de manhã um pouco estranha para o que era habitual. Não conseguiu perceber a
razão, mas não ficou preocupada. Levantou-se, esperançada de que algo de bom
lhe iria acontecer. Vestiu o belo vestido garrido feito com linhas do arco-íris
da adolescência, espantosamente suave e leve. Em seguida buscou o colar de
pérolas, pérolas feitas da amargura da sua vida. Colocou-as em redor do pescoço
e sentiu algum frio, frio não desagradável, apenas um frio contido a querer
testemunhar a transformação do sofrimento num belo enfeite que lhe apetecia
ostentar nesse dia. Abriu as janelas de par em par, e uma lufada de ar fresco,
a querer adivinhar o nascimento de um dia quente, acariciou o seu rosto
tranquilo e o colo que se debatia enigmaticamente com o temperamento do colar.
O vestido esvoaçou de contente querendo imitar o arco-íris do qual tinha
nascido. Foi então que um suave e silencioso nevoeiro começou a surgir perante
os seus olhos como se o mesmo libertasse minúsculas e quentes gotículas,
resultantes do confronto entre o calor do seu corpo e o da atmosfera. O
nevoeiro volitava de asinha sem saber o que fazer e para onde ir, até que,
subitamente, se agigantou numa dança voluptuosa e desconcertante. Não teve
receio, uma deliciosa atração inundou-a completamente, obrigando-a a seguir a
bela nuvem, suave, doce e serena. Não sabe bem se foi atrás dela ou se foi com
ela, afinal era a sua alma a libertar-se. Deixou de sentir frio, deixou de
sentir medo, deixou de sentir angústia, deixou de sentir, apenas vivia a
alegria da liberdade. E foi atrás dela ou foi com ela. Eu tentei agarrá-la, mas
não consegui, porque ninguém pode agarrar uma alma transformada em nevoeiro.
Resta-me olhar e recordar...
3 comentários:
Delicioso post!
Um lindíssimo pedaço de prosa, caro Professor!
Permita-me que o felicite, mais uma vez, pela beleza literária que consegue criar!
Um poema belissimo.
Enviar um comentário