1. Como aqui temos comentado, por fadiga social e política entre outros factores chegamos a um tempo de dificuldades excepcionais na actividade governativa: a tarefa é gigantesca (para não lhe chamar ciclópica), o caminho é muitíssimo estreito (embora não falte quem se proponha alarga-lo, recorrendo a artes misteriosas), os recursos são muitíssimo limitados (para alguns são ilimitados, não lhes compete obte-los), os titulares de lugares cativos na Mesa do Orçamento, singulares e colectivos, defendem com “unhas e dentes” a sua posição...
2. As notícias dão-nos conta de um cenário orçamental quase dantesco para 2013/2014: ao tremendo desafio da Reforma da Despesa Pública - objecto de um debate recente, por parte das melhores cabeças pensantes, extremamente esclarecedor mas deixando tudo mais confuso - veio adicionar-se, qual cereja (armadilhada) em cima do bolo, a equitativíssima e patriótica jurisprudência do TC, acrescentando € 1,3 mil milhões ao buraco financeiro...
3. Sem qualquer exagero a situação com que estamos deparados é visivelmente dramática, exigindo nervos de aço e uma PERSISTÊNCIA inquebrantável por parte de quem tem a incumbência de tomar decisões...
4. Ocorre por isso citar um formidável, embora entre nós muito pouco conhecido, elogio à PERSISTÊNCIA, que li há um bom par de anos e que é atribuído ao 30º Presidente dos EUA (1923-1929), Calvin Coolidge...a citação, que a seguir apresento, tem de ser feita na língua do autor, pois traduzida não tem 10% do impacto...
5. “Nothing in this world can take the place of persistence.
Talent will not – nothing is more common than unsuccessful men with talent
Genius will not – unrewarded genius is almost a proverb.
Education will not – the world is full of educated derelicts.
Persistence and determination alone are omnipotent.
The slogan “press on” has solved and always will solve the problems of the human race”
6. Oxalá esta mesma PERSISTÊNCIA, que o "Guia do Politicamente Correcto" obviamente anatematiza - a cedência perante qualquer dificuldade, em quaisquer circunstâncias, é sempre a atitude politicamente mais correcta - possa ser usada como tema de bandeira para superar os obstáculos quase inenarráveis que hoje se colocam à governação em Portugal. Qualquer que seja a solução política.
16 comentários:
Caro Amigo
persistência é justamente o que a larga maioria dos portugueses não têm, a começar pela esquerda que vive à custa dos contribuintes.
em França usa-se o eufemismo rigor em vez de austeridade
admiro a paciência da Troica para aturar tanto imbecil
Persistencia ?
Então o que temos:
2 anos de persistencia Gaspariana = Divida em 127% do PIB.
Será que a REALIDADE DOS NUMEROS ainda não é suficientemente explicita, para que entendam que PERSISTIR neste caminho, só pode levar a resultados (127%) cada vez mais PERSISTENTES.
(...a ver pelos 127%, são resultados que teem muito pouco de positivo.)
PERSISTENCIA no erro (vide Excel do RR) não é ser audaz, é apenas ser louco.
Por mais bonitas e poeticas que sejam os textos e PowerPoints que embrulhem a realidade, já era altura de alguma clarividencia e frontalidade, para aceitar os numeros e reconhecer que este caminho leva apenas e só aos "127% do PIB" (com tendencia a aumentar mais e mais).
Mais que PERSISTENCIA precisamos de CLARIVIDENCIA e HUMILDADE, para reconhecer os erros e rectificar o caminho e as opções.
O caminho certo pode ser ainda desconhecido....mas caminhos errados que só levam a mais miséria, esses estão bem identificados:
- o "caminho dos 127%" é persistentemente um caminho errado.
Caro Floribundus,
Exactamente poruqe a Persistência é um atributo indispensável mas raro - estou de acordo consigo nesse ponto - é que me pareceu oportuno citar C. Coolidge!
Caro Pedro, O Senhor nem é capaz de ver que nesse agregado de dívida se encontram valores que há 2 pu 3 anos nem faziam parte da dívida pública (entidades empresariais reclassificadas, por exemplo) que representam talvez ums 10% do PIB?
Que é feito da sua famosa perspicácia?
E que tem a dívida a ver com a persistência?
E acha que a dívida se reduz aumentando-a, ou alargando prazos de pagamento, por exemplo?
No fim de contas, qual a sua receita para a redução da dívida: O repúdio, "habilmente negociado" e "controlado"?
Caro Tavares Moreira,
assim como eu percebo facilmente que há valores no agregado da divida que há 2 ou 3 anos não eram contabilizados...e percebo que este montante da divida tem naturalmente origem em decadas de desvario e desmando...
...tambem me parece obvio, e facilmente perceptivel pela sue perspicacia, que os objectivos e metas e numeros que "a politica actual" (chamemos-lhe assim) se propos atingir são unica e esclusivamente da autoria da "politica actual" - e são metas e objectivos que não adveem do passado.
Ora desmistificando isto : o legado do passado vem do passado e é pesado. Mas as propostas definidas, os sacrficios pedidos e os subsequentes resultados prometidos, mas não atingidos, depende apenas da "actual politica".
O "buraco" é gigante e veio de passado. A "actual politica" foi definida e posta em pratica nos ultimos 2 anos, e não deu nem de perto nem de longe os "resultados que se propunha" e que foram "apresentados".
Não é necessario muito para diferenciar estes dois factores.
É neste ponto que a PERSISTENCIA entra. Porque o PASSADO foi mau, mas está fechado. O Presente e a "actual politica" é que se pode construir e alterar. Ora se no Presente, os resultados prometidos pela "actual politica" recorrentemente teimam em não aparecer, vamos PERSISTIR num caminho que persistentemente se mostra errado ?
Ou seja, a PERISTENTICA será em si mesma boa ou má, consoante a forma como for aplicada.
Se PERSISTIRMOS no erro..só pode ser mau.
Se PERSISTIRMOS na solução...só pode ser boa.
Mais que PERSISTIR, é preciso acima de tudo ter um rumo certo, e uma orientação positiva, para nela persistir.
Parece-me simples e linear.
Mas ainda assim se lhe for dificil aceitar o meu ponto, deixo-lhe um argumento que tou certo lhe demonstrará "ad nauseam" os perigos da persistencia :
- É ou não a PERSISTENCIA feroz, uma das principais caracteristicas de Jose Socrates ?
(sim, pode até ser um excepção, mas é por si só o melhor exemplo dos perigos da persistencia e obstinação)
Caro Pedro,
Tendo em conta o exemplo com que me desafia, eu direi que se torna necessário distinguir entre Persistência e Estupidez...
Esta última pode ser persistente, certamente, mas não perde por esse facto a sua mais importante característica que é a capacidade de destruição de valor.
Ora a Persistência só tem mérito, constituindo mesmo uma virtude primordial, enquanto ao serviço da criação de valor - e foi exactamente esse o sentido que Calvin Coolidge nela quis distinguir.
Ao contrário do que afirma - embora respeite muito a sua opinião, quero deixar bem vincado -esta política económica mais recente, que tem certamente muitas falhas - vide esse dramático episódio da desastrada condução do dossier dos ENVC por exemplo - permitiu (atenção que uso a expressão permitiu, apenas, não digo promoveu) que os desequilíbrios da economia, nos seus aspectos mais fundamentais, fossem repostos (vidé o Boletim Estatístico do BdeP ontem publicado).
E isso, embora não seja tudo, é evidente, assume uma importância extrema - que os media e a generalidade dos comentadores,absolutamente vergados ao politicamente correcto,não são capazes de entender e muito menos valorizar. O resto - a tão almejada retoma da economia - terá que ser "feito" de seguida, é ferozmente impossível fazer tudo ao mesmo tempo...
Caro Tavares Moreira,
O saldo deste governo é muito mau :
a) não reformou o estado não social, burocrático e supérfulo
b) não implementou politicas "industriais" para colmatar a moeda forte, o que se traduz em exportações a crescer pouco.
c) aumentou os impostos de forma irracional, provocando uma colossal recessão interna que destroi capital, promove o desemprego e aumenta a despesa e reduz a receita.
Manter este rumo é um erro de enormes proporções.
Pois é, parece que o objectivo de aniquilamento do estado social se está a tornar difícil. Os tempos não correm, na verdade, a favor do governo.
Apertado pela Troika, Passos Coelho viu-se obrigado a mudar de discurso. Do “custe o que custar”, do “vai ou racha”, do “contra tudo e contra todos”, passou-se aos apelos do “consenso”.
A Troika compreendeu que Passos Coelho já não tem força suficiente para apertar mais o garrote aos portugueses com projectado corte dos 4.000 milhões de euros nas funções sociais do Estado.
Para pôr em prática a política neoliberal de aniquilamento do estado social, que não tem outro objectivo senão colocar as grandes áreas de negócio como a saúde, educação e segurança social (as seguradoras e bancos não se conformam que um tal volume de capital permaneça na gestão do Estado) nas mãos dos mercados, precisam, senão do apoio, pelo menos da anuência do PS.
Daí, este repentino e cómico frenesim de apelos ao “consenso” vindos dos meios e dos habituais figurantes apoiantes do governo.
Caro Tavares Moreira,
tema certeza que não se perdeu nada na tradução? Acho que o que o homem queria dizer era PACHORRA. É que persistência existe sempre, agora pachorra para aturar esta gente...."política neoliberal de aniquilamento do estado social"????? Chiça!
Repor a verdade.
A Comissão (Eurostat) recebe das autoridades estatísticas portuguesas informações sobre a dívida global bruta do sector da administração pública, que inclui a dívida da administração central, regional e local e da segurança social. O Eurostat recebe também das autoridades estatísticas portuguesas informações anuais regulares sobre as parcerias público-privadas classificadas no sector da administração pública. No entanto, não estão disponíveis informações sobre as parcerias público-privadas classificadas como elementos extrapatrimoniais da administração pública. A Comissão (Eurostat) não dispõe de informações completas sobre a dívida das empresas públicas (detidas pela administração pública, central ou local).
A Comissão (Eurostat) entende a expressão «dívida pública indirecta» como a dívida das empresas públicas. Embora a Comissão tenha conhecimento da existência desses dados e acolha favoravelmente a sua publicação, tais dados não são, por agora, recolhidos nem validados pela Comissão. No futuro, e impreterivelmente a partir de Janeiro de 2015, a Comissão (Eurostat) estará em condições de publicar a dívida de empresas públicas (bem como as garantias governamentais e as parcerias público-privadas extrapatrimoniais) por força da Directiva 2011/85/UE sobre requisitos aplicáveis aos quadros orçamentais dos Estados-Membros.
Não é verdade portanto, o que se afirma por aí. A dívida pública subiu de 30% de 2010 a 2012, situando-se hoje nos 126% do PIB, sem nela estar considerada a dívida pública das empresas públicas e das parcerias público privadas (PPP), ao que se chama dívida pública indirecta e que em 2012 correspondia a cerca de 15% do PIB. Contudo, se contarmos com o endividamento garantido pelo Estado em nome dos bancos (passivos contingenciais) o endividamento indirecto ascende a 30% do PIB. Uma autêntica bomba-relógio no parecer da Standard & Poor's.
Caro Paulo Pereira,
Devo confessar-lhe que me interessa em primeiríssimo discutir as questões fundamentais da economia, ou seja (i) de como foi capaz (quase heroicamente) de superar os desequilíbrios que a afectavam e impossibilitavam qualquer ideia de crescimento, e (ii) de como agora, sem por em causa esse equilíbrio recuperado "de fresco" poderá iniciar uma via ("path") de retoma.
Interessa-me muito mais isso do que discutir o balanço pior ou melhor deste governo...que, tendo cometido alguns erros de palmatória, em matéria de erros fica a uma distância PLANETÁRIA do governo que o antecedeu (com excepção do pavoroso tratamento do dossier ENVC)...
E isto, por uma razão bem simples: governos podemos ter muitos; mas economia, só temos uma...
Caro Tonibler,
Curiosamente, esse tiro de polvora seca que refere, não acerta nem mesmo na parte mais exterior do alvo: nem a política é neo-liberal nem o Estado Social fica destruído (a menos que se considerem dentro do perímetro do ES certas fundações...).
Pela boca morre o peixe.
Passos Coelho sabia bem o que queria quando há meses falava em refundação do Estado, e não em reforma do Estado. Refundar é alterar, mudar o modelo, a estrutura interna do Estado, enquanto reformar é melhorar essa estrutura conservando o seu modelo. E o que o governo deseja é na verdade alterar profundamente o modelo social.
Passos Coelho e Victor Gaspar, têm consciência de que o Estado de bem-estar e as suas políticas sociais, não são apenas uma “administração”, mas um modelo civilizacional. O propósito é alcançar o empobrecimento generalizado da população, o chamado “ajustamento” num projecto que deve ser aplicado o mais rapidamente possível, de uma só vez, “custe o que custar”, projecto impassível à destruição económica e social do país que se agrava dia a dia. Numa nova repartição dos rendimentos em que a redução das funções sociais do Estado se torne permanente e consolidada. Porque, ao reduziram-se e tornarem-se mais dispendiosas para as famílias as funções sociais do Estado, isso significará uma efectiva redução dos seus rendimentos.
O anunciado corte de 4.000 milhões de euros nas funções sociais do Estado, tendo como principais vitimas, os sectores da Educação, da Saúde e da Protecção Social, é o meio ardiloso que o governo engendrou para aniquilar de modo rápido e eficaz o que resta do estado social, depois de todos os cortes que nele têm sido infligidos ao longo deste último ano e meio.
O que querem Passos e Gaspar?
Os cortes provocados pela política de austeridade imposta pela troika estão a levar a uma grave deterioração da saúde pública na Grécia, segundo um novo estudo publicado pelo American Journal of Public Health. Explosão de suicídios e homicídios, aumento do número de casos de doenças mentais, de abuso de droga e de doenças infecciosas, nomeadamente VIH/Sida, são alguns dados referidos pelo estudo.
O que é bom para mim, não é necessariamente para os outros:
O governo holandês, que tem sido um dos mais extremados defensores da política de austeridade, decidiu esta semana suspender um novo plano de cortes nas despesas sociais, no montante de 4.300 milhões de euros. Esta suspensão deve-se ao facto da Holanda ter entrado em recessão pelo segundo ano consecutivo.
Não sem um sorriso nos lábios que estou para aqui a ler o Expresso de hoje e constato que o Governo se tornou "crescimentista", palavra com que o nosso comentador Tavares Moreira desdenha aqueles que COMO O GOVERNO acham que deve haver: alargamento do ensino dual (seja lá o que isso for, mas é a mesma treta que se fala há anos do ensino técnico), criação de um banco de fomento (!! esperem mas o PS é que está no governo??), incentivos fiscais e financeiros para as pequenas empresas, baixar o IRC (insanos!!), redução do custo da energia (parece que os tachistas residentes das grandes empresas perderam a mão no assunto), dedução à colecta de IRC a empresas que invistam blá blá, "um sistema de start up para portugal criando um ecossistema de empreendedorismo"!!!! tudinho na página 04 do Expresso.
O Borges não tem falado muito, pelo que concluo que deve ter sido avisado, agora... esqueceram-se de avisar o nosso comentador deste ilustre blogue!!
Dr. Tavares Moreira, agora o Gaspar é "crescimentista"!!!!
Aquele abraço fraterno, socialista e de esquerda aqui deste seu atento leitor!
Caro Carlos Monteiro,
sempre quero ver como é que o nosso comentador e postador Tavares Moreira vai descalçar esta bota.
Caro Stoudemire,
Essa dissertação acerca dos problemas de saúde pública da Grécia merece algumas reservas...quasi as fontes utilizadas para tais conclusões tão apocalípticas?
Quanto à Holanda, julgo que sabe que à dívida pública desse país ainda é atribuído rating AAA...o que quer dizer que se financiam sem quaisquer dificuldades e a preço muito baixo - basta referir que a taxa dejuro implícita na dívida holandesa a 10 anos é...1,64% nesta altura.
Quer estabelecer algum paralelo com Portugal? Sonhar não custa, mas também não basta!
Caro Carlos Monteiro,
Em primeiro lugar, a retribuição do seu amável cumprimento.
Em segundo lugar, quero dizer-lhe que o acompanho nesse voto de congratulação pela vitória do Crescimentismo, ou não fosse eu um dedicado praticante do fair-play!
Constato assim que o Governo se rendeu à evidência - de que o Crescimentismo é que está a dar - não tinha nesta altura dos acontecimentos outra possibilidade, depois do abnadono do barco pelo Austerista M. Relvas...
E digo-lhe mesmo que não me espantaria ver, um dia destes, o PM, de braço dado com o líder do PS, presidindo a sessões de esclarecimento, pelo País fora, sobre a estratégia conjunta e patriótica de Crescimento...
Entretanto e segundo consegui saber, parece que a dita estratégia de crescimento vai implicar profundas alterações no Código Civil, designadamente em sede do Direito das Obrigações e muito em particular na regulação do contrato de Mútuo (artigo 1142 e seguintes)!
Espero poder abordar este ponto em próximo Post (quando tiver mais informação), por agora reitero as minhas felicitações aos Crescimentistas da nossa praça, a começar pelo ilustre Comentador!
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