O principal título da edição de ontem, dia 1 de Maio, do Diário de Notícias era o seguinte: “Portugal campeão das falências na Europa”.
Depois, em subtítulo, dizia: “Em 2004, Portugal registou 3123 empresas falidas, quase 6 vezes mais que em Espanha”.
O tema era desenvolvido nas páginas interiores, nomeadamente na terceira.
Nesta, o título já era substancialmente diferente: “Portugal é campeão do aumento de falências”.
No artigo, dizia-se:”…apesar do aumento acentuado, Portugal apresenta, em termos absolutos, um número relativamente baixo de falências, quando comparado com outros países de dimensão semelhante. Países como a Bélgica, com 8000 falências, ou a Áustria ou a Holanda, que superaram as 6000 falências, apresentam um desempenho mais negativo…”
Mais adiante, depois de referir que as falências baixaram em Espanha em 2004, o artigo diz: “…Mas em 2002, quando as falências em Portugal cresciam apenas 9%, os espanhóis enfrentaram um agravamento gigantesco de 89%”.
E mais adiante: ”…Já no primeiro trimestre deste ano…os dados indicam que houve menos 140 falências do que no ano anterior…mas foram apresentadas à falência 60 empresas, mais 53 do que no primeiro trimestre do ano anterior...”
Em síntese:
1. Quem lesse só o título da 1ª página entendia que Portugal era o país com mais falências na Europa.
2. Quem lesse só o título da terceira página, entendia que Portugal era o país onde as falências mais aumentaram em 2004.
3. Quem lesse só os títulos da primeira e da terceira página entendia que Portugal era o país com mais falências na Europa e o país onde o número de falências mais cresceu.
4. Quem lesse o artigo da 3ª página, concluía que “Portugal apresenta um número relativamente baixo de falências, quando comparado com outros países de dimensão semelhante”, situação que cotraria o título da 1ª página.
5. Quem lesse o título da 1ª página e um subtítulo da 3ª página concluía que em 2004 o número de falências foi quase 6 vezes maior do que em Espanha e ficava alarmado.
6. Quem lesse o artigo da 3ª página concluía também que, em 2002, as falências em Espanha cresceram 9 vezes mais do que em Portugal e ficava descansado.
7. Quem ficasse apalermado com o que leu, apanharia um choque vitamínico, ao ler que no primeiro trimestre de 2004 houve, em Portugal, menos falências do que em idêntico período do ano anterior e ficaria logo recomposto, ao ler que, em 2004, foram apresentadas à falência 60 empresas, mais 53 do que no primeiro trimestre do ano anterior.
O que significa que nesse trimestre se apresentou à falência o número astronómico de… 7 empresas!...
8. Depois de reler os títulos, que nos chamavam de campeões, o leitor interrogava-se se, mais uma vez, não seríamos campeões de coisa nenhuma.
9. Parabéns à Direcção, à Direcção Adjunta, à Subdirecção e à Redacção do Diário de Notícias por prosa tão conseguida, tão criteriosa e rigorosa e tão pouco sensacionalista.
1 comentário:
Meu Caro Pinho Cardão, o exemplo que podia encontrar réplicas várias no 'Expresso' do último fim-de-semana.
Razão tem o Carlos Magno quando a propósito desta presidência aberta sobre a sinistralidade rodoviária, opina que o Chefe do Estado deveria terminar o seu mandato com chave de ouro realizando a sua última iniciativa deste género subordinada ao tema da sinistralidade mediática...
Enviar um comentário