Gustav Klimt, Hygeia Detail from "Medicine", 1907
Oil on canvas - 430 x 300 cm
Destroyed by fire at Immendorf Palace, 1945
ACORDA-ME, FALA-ME
« - Por que me escreves? Que inspiração alheia
te suja os dedos de versos, se os teu lábios
não pronunciaram nunca as palavras que esperei,
quando, em tardes de vento, te olhava em
silêncio? Por que interrompes a estrofe no meu nome,
a flor obscura de uma primavera que não
chegou? Deixa-me!, entre
as copas geométricas de um ritmo vegetal,
respirando na efémera duração de vozes que não ouço;
e sob um breve bater de folhas nos arbustos
perenes que o fumo da madrugada escurece: sombra
separada da própria sombra, e eco já vago
de um canto de pássaro morto! E não deixes que
a minha queixa se dissipe num rumor de águas
estagnadas - charcos da chuva sedentária do outono,
lagoas baças de um choro matinal...» Desperdícios
de vida num fundo amargo de memória.
Nuno Júdice in «Poesia Reunida» 1967-2000, prefácio de Teresa Almeida, D. Quixote
O quadro de Klimt simboliza a deusa Hygeia uma das filhas de Esculápio. Encerra em si, a beleza, a vida e a saúde. Curioso o casamento entre a deusa da higiene e o poema de Nuno Júdice “Acorda-me, fala-me”. Que Hygeia nos acorde e se possível que fale, fale, fale…
Posted by Hello
1 comentário:
Espectacular :)
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