O Orçamento de Estado para 2006, hoje apresentado, contém um quadro com um título particularmente feliz: a dinâmica da dívida pública!...
Então o dinanismo da nossa dívida é o seguinte: em 2003, representava 57,7% do PIB; em 2005, representará 65,1% do PIB; em 2006, estima o Orçamento que represente 68% do PIB!...
Em valor absoluto, a dívida pública passa de 91 mil milhões de euros, em 2004, para 103 mil milhões, em 2005 (cerca de 9 meses do total do produção nacional de um ano, ou 10.300 euros por português, incluindo os recém-nascidos, que não sabem o que os espera, ao virem ao mundo já tão endividados)! …
Já começaram as escaramuças políticas sobre a mataria, mas vejamos a a preciosidade literária seguinte:
“…Trocadas as descomposturas preliminares, sobre a questão da fazenda, decide-se que é indispensável, ainda mais uma vez, recorrer ao crédito, e faz-se novo empréstimo. No dia seguinte averigua-se, por cálculos cheios de engenho aritmético que para pagar os encargos do empréstimo do ano anterior não há outro remédio senão recorrer ainda mais uma vez ao país e cria-se um novo imposto.
Fazem-se empréstimos para suprir o imposto, criam-se impostos para pagar os empréstimos, tornam-se a fazer empréstimos para atalhar os desvios do imposto para o pagamento dos juros, e neste interessante círculo vicioso, mas ingénuo, o deficit - por uma estranha birra, admissível num ser teimoso, mas inexplicável num mero saldo negativo, em uma não-existência - aumenta sempre através das contribuições intermitentes com que se destinam a extingui-lo, já o empréstimo contraído, já o imposto cobrado…
Pela parte que lhe respeita, o país espera. O quê? O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se colecte, porque está colectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.
…O feliz enciclopedismo das inaptidões do Estado proporciona-nos a facilidade de poder comprovar a sua incapacidade com um só facto qualquer, demonstrando que no país colocado sob o patrocínio de um tal Governo, não pode dar-se senão uma espécie de coesão política: a liga dos governados para o desprezo convicto dos que governam...”
Ramalho Ortigão- Farpas-1882
Então o dinanismo da nossa dívida é o seguinte: em 2003, representava 57,7% do PIB; em 2005, representará 65,1% do PIB; em 2006, estima o Orçamento que represente 68% do PIB!...
Em valor absoluto, a dívida pública passa de 91 mil milhões de euros, em 2004, para 103 mil milhões, em 2005 (cerca de 9 meses do total do produção nacional de um ano, ou 10.300 euros por português, incluindo os recém-nascidos, que não sabem o que os espera, ao virem ao mundo já tão endividados)! …
Já começaram as escaramuças políticas sobre a mataria, mas vejamos a a preciosidade literária seguinte:
“…Trocadas as descomposturas preliminares, sobre a questão da fazenda, decide-se que é indispensável, ainda mais uma vez, recorrer ao crédito, e faz-se novo empréstimo. No dia seguinte averigua-se, por cálculos cheios de engenho aritmético que para pagar os encargos do empréstimo do ano anterior não há outro remédio senão recorrer ainda mais uma vez ao país e cria-se um novo imposto.
Fazem-se empréstimos para suprir o imposto, criam-se impostos para pagar os empréstimos, tornam-se a fazer empréstimos para atalhar os desvios do imposto para o pagamento dos juros, e neste interessante círculo vicioso, mas ingénuo, o deficit - por uma estranha birra, admissível num ser teimoso, mas inexplicável num mero saldo negativo, em uma não-existência - aumenta sempre através das contribuições intermitentes com que se destinam a extingui-lo, já o empréstimo contraído, já o imposto cobrado…
Pela parte que lhe respeita, o país espera. O quê? O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se colecte, porque está colectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.
…O feliz enciclopedismo das inaptidões do Estado proporciona-nos a facilidade de poder comprovar a sua incapacidade com um só facto qualquer, demonstrando que no país colocado sob o patrocínio de um tal Governo, não pode dar-se senão uma espécie de coesão política: a liga dos governados para o desprezo convicto dos que governam...”
Ramalho Ortigão- Farpas-1882
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