Foi recentemente noticiado que os militares da GNR e os agentes da PSP consomem bebidas alcoólicas. A forma como a notícia foi apresentada originou fortes reacções por parte das autoridades governamentais, assim como de muitos cidadãos. É compreensível, já que os nomes das duas prestigiadas instituições acabaram por serem postas em causa, arrastando consigo, injustamente, a grande maioria dos seus agentes. De qualquer modo teve o condão de despertar o debate sobre o consumo de bebidas alcoólicas, nomeadamente o consumo excessivo que, infelizmente entre nós, continua a ser uma das mais graves pragas com todas as consequências sociais, económicas e médicas.
Atendendo ao papel especifico e à elevada responsabilidade atribuídos aos responsáveis pela segurança dos portugueses, importa questionar a legitimidade ou a normalidade de acesso, nos seus locais de trabalho, a bebidas alcoólicas, propiciando, em determinadas circunstâncias, alguns excessos que poderão repercutir-se na eficiência do seu trabalho, além de legitimar comportamentos que devem ser precavidos para bem de todos e, especialmente, dos mais vulneráveis.
O consumo de álcool, mesmo em doses moderadas, é susceptível de alterações e reacções comportamentais a vários níveis. Não discuto o seu papel "protector" em termos cardiovasculares ou outros, mas sou de opinião de que não devemos consumir álcool quando temos que trabalhar. É comum, hoje em dia, nas reuniões internacionais da área médica não ser servido álcool durante os almoços de trabalho. Boa e saudável prática que, penso, ninguém põe em causa. Claro que na parte social das mesmas as bebidas alcoólicas são servidas, saboreadas, apreciadas, comentadas e alvo de comparações, contribuindo para a socialização e alegria das reuniões. Importa difundir esta prática nos diversos contextos profissionais, evitando uma disponibilidade excessiva ou mesmo a sua oferta. Não faz qualquer sentido a existência de cantinas nos locais de trabalho disponibilizando álcool de uma forma quase semelhante à água, inclusive até no preço.
Obviamente que medidas legislativas de carácter proibitivo desencadeariam reacções de protesto de vários sectores, sobretudo do forte e poderoso lóbi do álcool, o qual já mostrou a sua força quando conseguiu que o Governo de Durão Barroso alterasse a lei, repondo os valores de alcoolemia no limite dos 0,5 g/l. E, mesmo assim queixam-se de que o negócio não vai bem! Mas medidas regulamentares internas poderão dar um contributo positivo.
A problemática do consumo excessivo do álcool abrange muitas outras áreas. Destaco a venda de bebidas alcoólicas nas estações de serviço das auto-estradas. Em muitos países é proibida. Nalguns países, famosos por serem produtores de vinho, como é o caso da Espanha, a proibição é ou vai ser muito em breve uma realidade, traduzindo elevado nível de maturidade. Desconfio que entre nós não vai ser nos tempos mais próximos. A proibição de venda nas vias mais importantes tem, como é óbvio, um efeito imediato sobre os condutores, mas também em todos os que circulam ao facilitar a interiorização de uma melhor conduta nas vias rodoviárias. No fundo, a tripla aliança, proibição, formação e fiscalização, poderá contribuir para a melhoria dos graves problemas associados com o consumo do álcool.
Em Portugal, os riscos de virmos a sofrer as consequências do consumo excessivo do álcool, quer de forma indirecta ou directa, são muito elevados.
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