Num balcão dos correios em Lisboa.
- Boa tarde, venho buscar os títulos dos certificados de aforro, telefonaram há dias a dizer que já tinham chegado.
- Tem o talão comprovativo consigo e o BI?
- Sim, aqui estão.
A senhora desapareceu atrás do balcão e perdeu-se nos fundos da repartição durante um bom quarto de hora.
- Já cá não estão, devia ter vindo logo levantá-los, deixou passar o prazo..
- Não sabia que havia um prazo.Não estão? Então onde estão?
- Nos serviços financeiros, eles agora são muito rigorosos, passado uns dias sem os virem buscar temos que os devolver. Temos que pedir que os mandem de novo.
Nova saída para os fundos, mais um quarto de hora, não encontrava o impresso para pedir que os títulos voltassem para aquela estação dos correios. Uma colega veio em socorro dela, afinal o impresso era outro, estava ali num monte, ela é que não sabia que tinham mudado os impressos. Afinal não era só a devolução, era preciso pedir uma 2ª via.
- Uma 2ª via porquê, o que é que aconteceu aos primeiros?
- Eles destroem-nos logo, por causa das falsificações.
Amavelmente preencheu o impresso, confirmou o nome e o BI, tudo em ordem, é só por aqui uma assinatura, daqui uns dias já pode vir buscar. Quer deixar-me o número de telefone, para avisar?
- Sim, já aí está, a prova é que me ligaram, mas deixo o do meu telemóvel.
- Ah, mas este não é seu?
- É do titular, mas eu é que movimento os certificados, conforme está nos títulos, venho sempre aqui, de resto.
- Ah, isso é que não, se não é o titular não pode pedir 2ª via, o titular tem que cá vir pessoalmente.
- Como? Mas há anos que sou só eu que trato disso.O titular é inválido e de muita idade, não pode deslocar-se, mas se eu posso vir cá buscar os títulos porque é que não posso pedir 2ª via dos mesmos títulos?
- É por causa das falsificações, isto agora mudou e eles têm medo das falsificações.
- Eles quem? Qual falsificação se foram vocês próprios que destruíram os títulos?
- Pois é, mas se for o titular a pedir temos a certeza de que os primeiros deixaram de existir.
- Mas se aqui os destruíram…!
- Aqui não, foi nos financeiros.
- E se eu for lá?
- Eles não atendem o público, o Instituto de Crédito acabou, agora passa-se tudo nos correios, nós não somos um balcão on line, os pedidos têm que ir à central, é tudo muito complicado.
- Bem, o melhor é levantar os certificados todos e acabar com isto de vez.
- Pois, mas não pode levantar nada sem os títulos, e eles foram destruídos, agora só com a 2ª via, mas venha logo porque senão voltam para trás. E leve o papel para pedir a assinatura do titular…
- Boa tarde, venho buscar os títulos dos certificados de aforro, telefonaram há dias a dizer que já tinham chegado.
- Tem o talão comprovativo consigo e o BI?
- Sim, aqui estão.
A senhora desapareceu atrás do balcão e perdeu-se nos fundos da repartição durante um bom quarto de hora.
- Já cá não estão, devia ter vindo logo levantá-los, deixou passar o prazo..
- Não sabia que havia um prazo.Não estão? Então onde estão?
- Nos serviços financeiros, eles agora são muito rigorosos, passado uns dias sem os virem buscar temos que os devolver. Temos que pedir que os mandem de novo.
Nova saída para os fundos, mais um quarto de hora, não encontrava o impresso para pedir que os títulos voltassem para aquela estação dos correios. Uma colega veio em socorro dela, afinal o impresso era outro, estava ali num monte, ela é que não sabia que tinham mudado os impressos. Afinal não era só a devolução, era preciso pedir uma 2ª via.
- Uma 2ª via porquê, o que é que aconteceu aos primeiros?
- Eles destroem-nos logo, por causa das falsificações.
Amavelmente preencheu o impresso, confirmou o nome e o BI, tudo em ordem, é só por aqui uma assinatura, daqui uns dias já pode vir buscar. Quer deixar-me o número de telefone, para avisar?
- Sim, já aí está, a prova é que me ligaram, mas deixo o do meu telemóvel.
- Ah, mas este não é seu?
- É do titular, mas eu é que movimento os certificados, conforme está nos títulos, venho sempre aqui, de resto.
- Ah, isso é que não, se não é o titular não pode pedir 2ª via, o titular tem que cá vir pessoalmente.
- Como? Mas há anos que sou só eu que trato disso.O titular é inválido e de muita idade, não pode deslocar-se, mas se eu posso vir cá buscar os títulos porque é que não posso pedir 2ª via dos mesmos títulos?
- É por causa das falsificações, isto agora mudou e eles têm medo das falsificações.
- Eles quem? Qual falsificação se foram vocês próprios que destruíram os títulos?
- Pois é, mas se for o titular a pedir temos a certeza de que os primeiros deixaram de existir.
- Mas se aqui os destruíram…!
- Aqui não, foi nos financeiros.
- E se eu for lá?
- Eles não atendem o público, o Instituto de Crédito acabou, agora passa-se tudo nos correios, nós não somos um balcão on line, os pedidos têm que ir à central, é tudo muito complicado.
- Bem, o melhor é levantar os certificados todos e acabar com isto de vez.
- Pois, mas não pode levantar nada sem os títulos, e eles foram destruídos, agora só com a 2ª via, mas venha logo porque senão voltam para trás. E leve o papel para pedir a assinatura do titular…
Ao todo, 50 minutos. Mas, para usar a expressão que agora está na moda, é tudo muito complicado.
11 comentários:
É mesmo muito complicado e inexplicável! E porque será que nestes casos muitos de nós se dão por vencidos assumindo de antemão que qualquer tentativa esbarra em regulamentos e procedimentos incongruentes…
Ainda há pouco tempo ao dar uma volta nos papéis reparei que a data de validade de licença de uso e porte de arma tinha expirado. Da arma já nem me lembrava, e menos ainda em qual dos caixotes da arrecadação estava.
Dirigi-me aos serviços competentes a relatar o fato, e acrescentei que não pretendia a renovação, entregava a arma, pois os motivos profissionais que em tempos atrás justificaram a posse, agora não prevaleciam.
-Sim senhor, mas acho que faz mal -disse-me o polícia de serviço ao balcão; não digo que ande a passear a arma por aí, é sempre uma tentação, mas põe-na em casa, da maneira que isto está faz sempre jeito!…
-Não, não, já não preciso, retorqui eu, e é como diz - é sempre uma tentação!..
-Está bem, o senhor é que sabe, deixe-me só ligar para os serviços especializados a saber quais os “papéis” necessários para a entrega a favor do estado. Faça o favor, disse eu…
Passaram uns minutos, o polícia disse:
-Afinal isto não é assim tão simples, tenho de o constituir arguido por posse ilegal de arma!?...
-Quê!?...isso não pode ser!, a arma é legal, a licença comprova isso!. Uma coisa é dizer que estou em infracção, outra é dizer que a arma é ilegal, como se eu a tivesse comprado ali no bairro da buraca!. Tenha paciência, há aí qualquer coisa que não bate certo!, é como a licença de condução, o facto de não estar dentro da validade não significa que ela seja ilegal!.
-Pois, disseram-me que era assim, é a nova lei das armas…
É o famoso SIMPLEX em todo o seu esplendor, cara Suzana.
Refiro-me ao SIMPEX real, não ao dos laudatórios discursos oficiais, claro está...
Regra Tonibler nº1 quando se dirige a um serviço público: A culpa não pode sair de detrás do balcão, cara Suzana... Devia ter insinuado que foi a senhora que levou os títulos para casa, que estavam a querer roubá-la, que queria falar com o director,.. mas nunca dizer que não sabia que havia um prazo...
Cara Suzana:
Pois se o nosso Governo obtém dinheiro pagando 6,02% a investidores estrangeiros, para quê ter que pagar 1% ou menos nos Certificados de Aforro a nacionais?
Claro que deve dificultar a tarefa a quem ainda se apresenta a subscrevê-los. E a demover que o façam. Por todos os meios ao dispor da mais acbada burocracia.
Estava aqui a pensar no prazo... é que a questão do prazo é muito importante e deverá estar escrito no talãozito, caso contrário é como as facturas do Hospital de Santa Maria que se recebem em casa, para proceder ao pagamento através de multibanco.
Tem as referências todas menos a indicação do prazo limite. Logo, presume-se que podemos pagar quando quisermos porque nunca estamos em atraso.
E ainda há quem queira emprestar o seu dinheiro ao Estado?!!!?
Caro jotac, a sua história é surrealista, às vezes a realidade ultrapassa a ficção!
Pois é, caro Tavares Moreira, mas apesar de todos os esforços SIMPLEX há uma tentação superior que, lamentavelmente, vence sempre, e essa é a de o Estado se substituir à vontade de quem devia poder dispôr da sua vida privada. No caso dos certificados de aforro, há um titular que decide escolher outra pessoa que possa também movimentar livremente a conta aforro. sempre que se movimenta os títulos são substituidos por outros com o novo montante de títulos. Só na posse de tais títulos se pode movimentar a conta ou seja, é condição para o movimentador poder mexer na conta. Ora o Estado arroga-se o direito de "proteger" o titular das "falsificações" de que possa ser vítima por parte de quem autorizou a movimentar a sua conta e zás, põe barreiras absurdas como a que descrevi. Quando é que o Estado deixa de tratar os contribuintes como débeis mentais?
Caro Tonibler, aqui estou eu a dar amão à palmatória, tem toda a razão mas o que quer?, ainda acredito nos serviços públicos que, na verdade, acabam por ser a "cara" das orientações absurdas.
caro Pinho Cardão, o que acontece é que agora, sem os tais títulos, a conta fica "congelada", ninguém pode levantar as poupanças, acho que as barreiras são para reter, o que faz sentido.
Caro Anthrax, os prazos deviam ter alguma lógica o que nesse caso fazia sentido se houvesse organização para pagar juros, só que nem sequer há organização para cobrar a dívida, quanto mais para multar pelo incumprimento do prazo, suponho eu pelo que vou ouvindo.
Caro Ricardo, há cada vez menos e o que existe é mais por inércia...
Pois ultrapassa a realidade, cara Dra.Suzana Toscano!. É o país em que vivemos. Só que esta "legalidade!?", além de €350,00 que tive de doar a uma institução de caridade, causou-me o dissabor de ser constituído arguido num processo patético que a meu ver apenas serve para engordar as estatísticas do faz de conta que o sistema funciona!. Como é que alguém pode ser condenado por ter um objecto legal e cuja mesma legalidade é atestada por documento policial, o livrete!?
Admitiria com certeza uma multa por deixar passar a data da revalidação do documento, mas nunca um processo como de um criminoso se tratasse! Ainda para mais a arma estava guardada e fui eu que me dirigi aos serviços a dizer que a licença precisava de ser renovada!!!.
Com esta experiência cheguei à conclusão que há-de haver muito inocente na prisão...
Processo: 1280/09.1PBAMD.
Extraordinário, caro jotac, então sempre foi constituido arguido? E pagou uma multa por ter ido voluntariamente legalizar a situação? essa merecia ser publicada no Jornal do Incrível!
A propósito ou a despropósito, ouvi há dias uma frase que se pode aqui aplicar:
“Os ingleses adoram ser ingleses mas odeiam a Inglaterra. Os portugueses odeiam ser portugueses mas adoram Portugal”.
Não sei se é totalmente verdade, mas cada povo tem o país que merece.
...Faz algum sentido, sim senhor!...
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