Não gosto de ver as pessoas em filas intermináveis à porta dos serviços públicos para tratarem da sua vida e muito menos por razões de necessidade. O facto de serem pessoas desempregadas, pessoas idosas ou pessoas carenciadas não pode ser motivo para que esperem horas e dias para serem atendidas. É um espectáculo pouco digno, a lembrar um país do terceiro mundo. A sua condição económica e social merece todo o respeito.
Para situações extraordinárias impõem-se soluções igualmente extraordinárias, sem perder de vista que muitas destas pessoas já eram, antes de se tornarem beneficiários da Segurança Social, infoexcluídos. Os balcões de atendimento continuarão, também por isso, a constituir uma via preferencial.
Até final de Outubro cerca de um milhão de pessoas terão que fazer prova de rendimentos para poderem continuar a receber os apoios sociais a que têm direito. Ao ritmo de "passo de caracol" duvido muito que todos os beneficiários o consigam fazer sem que o prazo não tenha que ser alargado...
12 comentários:
Confesso, cara Amiga, deixou-me com as ideias baralhadas...
Então... mas afinal... já não somos um país do terceiro mundo?
Não me diga que já fazemos parte do quarto mundo e eu ainda estou convencido que somos do terceiro...
Esta minha mania das grandezas...
A lacuna social continua a alargar-se. Estas filas são mais um exemplo apenas...
Os alicerces, a base sólida (nas suas várias formas) de uma sociedade estão a ser descurados no tão chamado cantinho luso.
Os caracolinhos da imagem lá vão à sua vida... devagar mas lá chegarão. Outros “bicharocos” andarão às voltas e mais voltas sem rumo certo e acabarão, eventualmente, por ficar no mesmo sítio e perder a oportunidade de vislumbrar e experimentar horizontes mais abrangentes.
: ) Os caracolitos (hoje deu-me para diminutivos, característica do lugar onde nasci) fazem-me recordar uma anedota que provavelmente todos devem conhecer, mas não resisto de a contar:
Um “senhor de uma determinada província” saiu de casa e disse à mulher:
- Maria, vou ao campo arranjar caracóis para o nosso almoço.
- Tá bem! - disse a mulher.
O homem foi ao campo e passadas duas horas volta com um caracol na mão e diz-lhe a mulher:
- Então homem?! Isso é o nosso almoço?
- Olha Maria, ao longe avistei dois; cacei um; o outro escapou-se-me!...
Caro Bartolomeu
Fazemos parte daquela categoria que eu gosto de designar de "novos ricos"! Muito evoluídos numas coisas, mas subdesenvolvidos em muitas outras, em particular naquelas que determinam o nível de desenvolvimento humano.
Cara Catarina
Não sei se os caracolinhos conseguirão chegar onde querem. São muito frágeis e pequenos e as ameaças são grandes.
Ainda não conhecia a anedota do caracol. É óptima!
Cara Drª. Margarida;
Talvez devido à nossa situação geográfica e ao nosso passado de colonizadores-escravizadores, nunca cheguemos a atingir o nível de desenvolvimento humano, desejável, ou pelo menos aproximado ao dos países do continente onde nos inserimos.
Na verdade, as classes consideradas mais ecléticas e "nobres", por exemplo, a política, não constituem exemplo para o resto da sociedade. Os escândalos que quase diáriamente, chegam ao conhecimento do público, desmontam qualquer género de intenção pedagógica que surja da parte dos sectores da sociedade.
Somos um país "sem rei, nem roque" onde cada um tenta fugir às obrigações sociais e comunitárias.
Caro Bartolomeu
Acompanho as suas preocupações. Está de facto instalado um clima de desconsideração pela pessoa, enquanto ser humano e cidadão.
E, como diz, o mau exemplo vem de cima, não apenas em relação às políticas em si e às prioridades estabelecidas, mas em actos concretos do dia a dia, no modo de fazer as coisas.
Mas continuamos a ter gente boa. E é nesta gente que temos que depositar confiança e esperança.
É sem dúvida essa a atitude correcta e saudável que devemos adoptar, cara Drª Margarida.
Contudo e a propósito de "preocupações", tenho notado com uma frequência preocupante, o uso da palavra "desmotivação".
Nos serviços públicos, começa a adquirir forma de pandemia.
E não me parece que esta desmotivação, geral e permanente, seja causada únicamente pela falta de bons exemplos, mas que para ela concorram a abundância de maus exemplos.
Caro Bartolomeu
Penso que a desmotivação das pessoas que trabalham na administração pública tem muito que ver com o massacre a que tem sido sujeita a administração pública, para o qual os próprios sindicatos também contribuem. Anunciam-se reformas sobre reformas, fazem-se promessas disto e daquilo e depois volta-se atrás ou passa-se à frente, falta preparação a muitos dirigentes e os modelos de organização e gestão estão ultrapassados, apenas para dar alguns exemplos. Tudo isto tem desgastado os funcionários públicos e desprestigiado a administração pública.
Há excelentes quadros técnicos e trabalhadores dedicadíssimos na administração pública. Conheci muitos e reconheci o que de bom têm para dar, como aliás acontece com a maioria das pessoas, que quando estão motivadas e sentem que o seu desempenho é reconhecido e recompensado são excelentes trabalhadores. Muitas vezes não está em causa dinheiro. Cansados e sem esperança decidem por se ir embora.
Tenho aprendido que não devemos fazer generalizações porque são perigosas, mas no caso da administração pública penso que não é perigoso dizer que a desmotivação é grande.
Caro Bartolomeu, temos aqui "pano para mangas", quero dizer para um post.
É bem verdade, cara Drª. Margarida, sobretudo se considerarmos que (quase) em cada família portuguesa, existe pelo menos um membro, trabalhador na administração pública, poderemos calcular o impacto que esta desorientação e desmotivação estará a causar no tecido social, em geral.
Coloco ainda uma questão que até poderá parecer que não comporta qualquer significado: e que repercussão poderá vir a ter este desânimo, esta desmotivação, na sanidade relacional do núcleo familiar e ainda no comportamento e motivação futuros dos filhos destas famílias?
Caro Bartolomeu
A questão que coloca comporta muito significado, mas a resposta é sempre complexa. Mas uma coisa parece ser certa, é que a formação dos mais novos é moldada pelos núcleos sociais em que crescem, a família, a escola, as comunidades locais, a sociedade em geral.
Exactamente, cara Drª. Margarida, estou em total acordo com o sentido das suas palavras, o que me leva a considerar que a sociedade portuguesa se encontra perante uma ameaçã pandémica, de grau superior ao do "flop" do virus H1N1, pelo que deveria ser encarado como calamidade nacional.
No meu ponto de vista, estamos perante um grave caso de saúde pública, difícil de combater e que, irá certamente causar num futuro próximo, profundas feridas e até amputações. Quando tudo serenar, a população portuguesa, exibirá profundas cicatrizes nas quais várias gerações subsequentes, não gostarão nada de se rever.
E tudo por inércia, inépcia e mesquinhez.
Caro Bartolomeu
Coleccionar crises nunca foi coisa boa! As crises ensinam muitas coisas, mas teimar em não aprender é um sinal de que estamos muito doentes.
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