O desenvolvimento científico, e as crescentes capacidades tecnológicas, permitem resolver muitos problemas de saúde, mas, como seria de esperar, também são fontes de problemas que importa equacionar e prevenir.
A procriação medicamente assistida reveste-se de um encanto particular, quase que diria mágico, ao permitir a realização de sonhos únicos, suscetíveis de satisfazer um dos maiores desejos humanos, ter filhos e dar continuidade ao projeto da vida, garantindo a perpetuação da espécie. Este desejo, forte, e que faz parte da nossa identidade, não consegue expressar-se em muitos casais. Se é uma das mais poderosas necessidades, então, é compreensível o tamanho da dor nos que estão impossibilitados em manter o fio da vida. As diversas técnicas utilizadas permitem, numa percentagem significativa, corrigir a “má vontade da natureza”.
É conhecida a problemática e a discussão ao redor de algumas destas práticas; caso dos embriões excedentários, que constituem uma séria preocupação para certas correntes de pensamento, já que algumas se opõem frontalmente à sua produção, o uso de gâmetas de terceiros, quando um dos membros do casal é estéril, o “aluguer” de barrigas, a obtenção de células provenientes de embriões excedentários aquando da sua eliminação, entre muitos outros. De qualquer forma, o objetivo é corrigir o defeito da “natureza”.
A infertilidade é uma doença. Assim, de acordo com esta perspetiva, é legítimo curar ou tratar o problema, desde que sejam respeitados princípios éticos. No entanto, a barreira do eticamente aceitável é facilmente transposta, porque os seres humanos são atrevidos e, por vezes, até inconvenientes, ao utilizarem as mesmas técnicas em condições não previstas e nem desejáveis.
A conservação dos gâmetas masculinos é relativamente fácil, o mesmo não acontecia para os óvulos. Presentemente já se consegue a conservação destes através da vitrificação. Em suma, é possível congelar e armazenar quer óvulos, quer espermatozoides. Sendo assim, é muito provável que, no futuro, não seja necessário recorrer ao congelamento dos embriões, porque a transferência se fará de acordo com o sucesso ou não da prática. Em caso de insucesso, em vez de socorrerem dos embriões excedentários, utilizar-se-ão os gâmetas masculinos e femininos, fertilizando-os de acordo com as necessidades.
Abrem-se novas perspetivas muito interessantes. Mas o que dizer da obtenção de óvulos em mulheres jovens que, não sofrendo de qualquer problema de infertilidade, pretendam conservar alguns para o futuro por vários tipos de razões? A resposta que obteria seria uma nova pergunta: - Quais as razões? Se for por motivo de doença ou devido a qualquer terapêutica que ponha em causa a capacidade fertilizadora, então, é perfeitamente legítimo que se proceda à sua conservação. E, se os motivos forem de natureza pessoal, relacionados com projetos académicos ou profissionais, obrigando a adiar a maternidade para idades mais avançadas? Não esquecer que a partir de certa idade, a diminuição da fertilidade natural é uma realidade. Aqui teríamos pano para mangas. Mas o que eu não sabia era da existência de motivos de natureza amorosa, mulheres que ainda não encontraram o “homem certo” e que, com medo, fazem com que os seus óvulos, frescos e jovens, permaneçam, pelo menos durante uma década, à espera de melhor sorte!
Já existem casos de conservação de óvulos de mulheres jovens que têm como objetivo garantir uma espécie de “seguro ovular” que permita a sua fertilização no futuro. Não tarda, e ainda vamos observar o aparecimento de empresas vocacionadas para a vitrificação dos óvulos de mulheres jovens em troca de mensagens do género: “Não quer que guardemos os seus óvulos? E se adoecer no futuro de forma a por em causa a sua fertilidade?”; “Guardamos os seus óvulos pelo prazo de uma década até que encontre os espermatozoides dos seus sonhos”; “Não hesite, venha por os seus óvulos na nossa empresa, e a sua fertilidade no futuro está mais do que garantida”. Claro que tudo isto tem um preço, e não é nada barato. Passar mensagens de ansiedade quanto ao futuro de uma pessoa é a coisa mais fácil do mundo, e como não faltam crédulos, antes pelo contrário, é o que mais existe por aí, já estou a ver os industriais do congelamento de células a explorar um novo mercado, e a esfregar as mãos de contente... Pudera!
A procriação medicamente assistida reveste-se de um encanto particular, quase que diria mágico, ao permitir a realização de sonhos únicos, suscetíveis de satisfazer um dos maiores desejos humanos, ter filhos e dar continuidade ao projeto da vida, garantindo a perpetuação da espécie. Este desejo, forte, e que faz parte da nossa identidade, não consegue expressar-se em muitos casais. Se é uma das mais poderosas necessidades, então, é compreensível o tamanho da dor nos que estão impossibilitados em manter o fio da vida. As diversas técnicas utilizadas permitem, numa percentagem significativa, corrigir a “má vontade da natureza”.
É conhecida a problemática e a discussão ao redor de algumas destas práticas; caso dos embriões excedentários, que constituem uma séria preocupação para certas correntes de pensamento, já que algumas se opõem frontalmente à sua produção, o uso de gâmetas de terceiros, quando um dos membros do casal é estéril, o “aluguer” de barrigas, a obtenção de células provenientes de embriões excedentários aquando da sua eliminação, entre muitos outros. De qualquer forma, o objetivo é corrigir o defeito da “natureza”.
A infertilidade é uma doença. Assim, de acordo com esta perspetiva, é legítimo curar ou tratar o problema, desde que sejam respeitados princípios éticos. No entanto, a barreira do eticamente aceitável é facilmente transposta, porque os seres humanos são atrevidos e, por vezes, até inconvenientes, ao utilizarem as mesmas técnicas em condições não previstas e nem desejáveis.
A conservação dos gâmetas masculinos é relativamente fácil, o mesmo não acontecia para os óvulos. Presentemente já se consegue a conservação destes através da vitrificação. Em suma, é possível congelar e armazenar quer óvulos, quer espermatozoides. Sendo assim, é muito provável que, no futuro, não seja necessário recorrer ao congelamento dos embriões, porque a transferência se fará de acordo com o sucesso ou não da prática. Em caso de insucesso, em vez de socorrerem dos embriões excedentários, utilizar-se-ão os gâmetas masculinos e femininos, fertilizando-os de acordo com as necessidades.
Abrem-se novas perspetivas muito interessantes. Mas o que dizer da obtenção de óvulos em mulheres jovens que, não sofrendo de qualquer problema de infertilidade, pretendam conservar alguns para o futuro por vários tipos de razões? A resposta que obteria seria uma nova pergunta: - Quais as razões? Se for por motivo de doença ou devido a qualquer terapêutica que ponha em causa a capacidade fertilizadora, então, é perfeitamente legítimo que se proceda à sua conservação. E, se os motivos forem de natureza pessoal, relacionados com projetos académicos ou profissionais, obrigando a adiar a maternidade para idades mais avançadas? Não esquecer que a partir de certa idade, a diminuição da fertilidade natural é uma realidade. Aqui teríamos pano para mangas. Mas o que eu não sabia era da existência de motivos de natureza amorosa, mulheres que ainda não encontraram o “homem certo” e que, com medo, fazem com que os seus óvulos, frescos e jovens, permaneçam, pelo menos durante uma década, à espera de melhor sorte!
Já existem casos de conservação de óvulos de mulheres jovens que têm como objetivo garantir uma espécie de “seguro ovular” que permita a sua fertilização no futuro. Não tarda, e ainda vamos observar o aparecimento de empresas vocacionadas para a vitrificação dos óvulos de mulheres jovens em troca de mensagens do género: “Não quer que guardemos os seus óvulos? E se adoecer no futuro de forma a por em causa a sua fertilidade?”; “Guardamos os seus óvulos pelo prazo de uma década até que encontre os espermatozoides dos seus sonhos”; “Não hesite, venha por os seus óvulos na nossa empresa, e a sua fertilidade no futuro está mais do que garantida”. Claro que tudo isto tem um preço, e não é nada barato. Passar mensagens de ansiedade quanto ao futuro de uma pessoa é a coisa mais fácil do mundo, e como não faltam crédulos, antes pelo contrário, é o que mais existe por aí, já estou a ver os industriais do congelamento de células a explorar um novo mercado, e a esfregar as mãos de contente... Pudera!
9 comentários:
O dia chegará em que os pais poderão fazer a encomenda dos seus bebés. Louro, olhos azuis .....
Será que se avança para uma qualquer forma de ultra-humano?
O homem está ainda imperfeito e incompleto mas, é nessa mesma incompletude que se geram as leis de condensação de energia criadora que permitem alimentar o cosmos, o qual, por sua vez mantem, através da indução de um sentimento que consideramos humano e identificamos como "esperança", a actividade humana.
Que seria da humanidade se a esperança fosse perdida?
De nada lhe valeria possuir uma reserva monumental de ovolos e de espermatozoides.
Bom... uma vez que não ha quem se atreva a comentar o post do Professor, ou... e, o comentário do Bart. vamos lá colocar mais um "desafio"... uma "provocação"... um... sobressalto.
Imaginemos que a humanidade foi "atacada" por um virus letal.
Hmmm?!
Ah, sim... convem definir espaços e tempos.
;))))))))
Malvados! Apanham-me sempre desprevenido...
Ok! Então vamos lá...
Digamos que, ha dez milhões de anos, surgiu um virus marado que colocaou em risco a existência da raça humana. Tome-se como "raça" o modelo que define homem e mulher.
Nesse "tempo", foi dito ao homem que se refugiasse num "mundo", que funcionaria como "casulo", onde permaneceria em "quarentena" até que surgissem as condições necessárias à sua subsistência num outro mundo, ou seja, numa dimensão temporal, perfeitamente interactiva co as dimensões espirituais e... intemporal.
;))))
Ah pois é!
E o intemporal?
Todods temos a "tendência" para a valorização de uma intrepertação temporal, esquecendo-nos de a quilo que não tem tempo, aquilo que nos aparece em frente às beiças sem que demos por ela, e que, pela incapacidade de a perceber, decidimos ignora-la.
Tenho que ler, de novo, o comentário ali acima ; foi um pouco confuso à primeira leitura! Isto hoje está um pouco lento por aqui... : )
;)
Open your mind... and your heart... I'll wait.
;)
Daqui a umas centenas de anos cada elemento da humanidade (não sei se ainda com algumas características de hoje) vai ser escolhido a dedo, ou melhor, vai ser concebido de acordo com uma selecção muito específica de óvulos e espermatozoides congelados de forma a atingir o ser perfeito. Quando se chegar a essa altura, a esse estado de quase perfeição, os métodos tradicionais para a prócriação da espécie humana não serão mais do que “meros” passatempos que terão todos os objectivos em vista... menos o da reprodução . Outros problemas surgirão e a luta pela perfeição (cujos parâmetros estarão mais alargados) continuará até ao fim dos tempos. Esta congelação de espermatozoides e óvulos não constituirá esse “casulo” à espera de melhores dias ou de outras oportunidades de uma maneira menos emocional e destituida do pleno calor humano?
Acabei de ler no Oxford Journals um artigo sobre a reprodução humana: Ética da recolha de espermatozoides postmortem. Muito interessante e igualmente controverso. Tantas questões que se levantam. É uma forma directa ou indirecta de procriar? Existe ou não uma certa forma de participação no processo? Tem que haver prévia autorização escrita? E quantos filhos teria o casal pensado em ter? Tudo isto no leva a repensar sobre a concretização de oportunidades impensáveis até há relativamente pouco tempo e os problemas ou as dificuldades que essa prática pode causar. Nem todos os países autorizam esta prática e talvez só daqui a muitos anos haja um consenso.
Ora , ora Catarina... isso não são mais que amendoíns, pense grande, pense ao nível do cosmos. Eu sei que é capaz, se estiver disposta a fazer um pequeno esforço de concentração... quer tentar?
Deixo-lhe mais um pequeno desafio; lembra-se da época em que foram lançadas expedições à conquista do Graal?
Essa sociedade falhou por pouco o superior destino da humanidade, seguidamente, Hitler esteve também a uma "unha negra" de conseguir essa conquista e hoje... Tcharammmm!
Pense Catarina, pense abrangentemente, o mais possível...
O cosmos está para além da minha capacidade de concentração para um domingo à tarde/noite, caro Bartolomeu. A procura da perfeição não tomou a via científica nos últimos tempos através da qual a Mulher e o Homem tentam superar Deus? Ou ainda se traduz pela procura do Cálice Sagrado que Michael Baigent, Henry Lincoln e Richard Leigh nos fizeram recordar, ler, pesquisar, com o seu livro “O Sagrado Graal e a Linhagem Sagrada”?
“... nos últimos tempos...” é uma força de expressão...: )
Enviar um comentário