Senti-me envergonhada. Perguntei-me como é que ainda é possível que se autorize a prestação de um serviço público naquelas condições. Mas quem será que permite este estado de coisas, pensei cá para mim. Mas quem é o alguém? Provavelmente uma mão de “alguéns” que mandam em tudo e não mandam em nada.
Dirijo-me à praça de táxis com a pressa que a hora marcada de uma reunião me impõe para não chegar atrasada. Olho, como já tenho o hábito, para ver se o carro me inspira o conforto necessário de um dia de calor a pedir um pouco de recolhimento no fresco do ar condicionado. Na praça, um táxi e o seu motorista esperam pela próxima vítima. Vítima, sim. Já vou contar…
Ainda espero uns minutos, na esperança de chegarem mais um táxi e mais um cliente para apanhar o táxi que aguardava em primeiro lugar a vez de fazer o serviço. Com sorte, iria num carro mais moderno. Mas nada, nem táxi nem cliente. Olho para o relógio e acto imediato tomo a decisão de não esperar mais.
Pergunto ao motorista, um homem que dava pelos seus 60 anos, se “está livre?”. Claro que estava. Entro e indico a morada de destino.
Já dentro do carro, o motorista liga a telefonia bem alto, impedindo qualquer outra coisa que não fosse aguentar a vibração de gritos e apitos vindos de um aparelho tão velho como o carro, para lá de 20 ou 25 anos, seguramente. Lembrei-me daqueles condutores que de vez em quando atravessam as ruas de Lisboa a alta velocidade com a telefonia aos berros para toda a gente perceber que são gente, têm carro e telefonia.
Não bastando o batuque insuportável, as quatro janelas ficaram bem abertas, fazendo deslocar o ar abafado de um lado para o outro, mais parecendo um tornado. Fiquei com a cabeça feita num ninho!
O cheiro entranhado a transpiração acumulada assentava que nem uma luva naquele ambiente a rasar o inconcebível nos tempos que correm.
Mas há mais. O motorista, num traje absolutamente impróprio para quem presta um serviço público com um mínimo de dignidade e qualidade, seguia com os pés pregados nos pedais bem a fundo, alternadamente, ora no acelerador ora no travão, conduzindo o carro e o cliente num verdadeiro sobressalto. Não houve sinal laranja que não o desafiasse. Senti uma má disposição terrível, que nem o ar em turbilhão dentro do carro foi capaz de me ajudar.
Ainda puxei do telemóvel, claro que a fingir porque naquela loucura não seria possível falar fosse o que fosse, mas em vão. O motorista ficou absolutamente insensível ao gesto, não tendo qualquer intenção de ver interrompido o seu ambiente de trabalho.
Ao descer a Praça da Alegria olhei, inconscientemente, à minha direita para ver a esquadra da polícia, talvez pensando que o caso merecia um tratamento especial. Mas não chegou a fazer caminho essa ideia, é que tive tempo para ler o aviso que dava conta que a esquadra tinha encerrado.
Estive para fazer o que há muitos anos fiz, quando me dei conta que o motorista conduzia bêbado. Ordenei que parasse o carro no meio da Avenida da Liberdade e saí, sem ter tempo para pagar porque a coisa inverteu-se e acabei expulsa do táxi no meio de um furacão de palavrões que não seria capaz de repetir.
Como em todas as actividades e profissões há gente boa e gente má, competente e incompetente. Os taxistas não são, naturalmente, excepção. Mas incomoda vermos que continuamos a ter portugueses que não aprenderam nada ao longo das últimas décadas, porque não quiseram ou porque ninguém se lembrou de os ajudar a ser cidadãos do mundo. Negar sermos apreciados positivamente aos olhos dos outros, desconhecer o bem que é o reconhecimento, a consideração e o gosto pela atenção que os outros nos podem conceder é qualquer coisa que não deveria acontecer...
Dirijo-me à praça de táxis com a pressa que a hora marcada de uma reunião me impõe para não chegar atrasada. Olho, como já tenho o hábito, para ver se o carro me inspira o conforto necessário de um dia de calor a pedir um pouco de recolhimento no fresco do ar condicionado. Na praça, um táxi e o seu motorista esperam pela próxima vítima. Vítima, sim. Já vou contar…
Ainda espero uns minutos, na esperança de chegarem mais um táxi e mais um cliente para apanhar o táxi que aguardava em primeiro lugar a vez de fazer o serviço. Com sorte, iria num carro mais moderno. Mas nada, nem táxi nem cliente. Olho para o relógio e acto imediato tomo a decisão de não esperar mais.
Pergunto ao motorista, um homem que dava pelos seus 60 anos, se “está livre?”. Claro que estava. Entro e indico a morada de destino.
Já dentro do carro, o motorista liga a telefonia bem alto, impedindo qualquer outra coisa que não fosse aguentar a vibração de gritos e apitos vindos de um aparelho tão velho como o carro, para lá de 20 ou 25 anos, seguramente. Lembrei-me daqueles condutores que de vez em quando atravessam as ruas de Lisboa a alta velocidade com a telefonia aos berros para toda a gente perceber que são gente, têm carro e telefonia.
Não bastando o batuque insuportável, as quatro janelas ficaram bem abertas, fazendo deslocar o ar abafado de um lado para o outro, mais parecendo um tornado. Fiquei com a cabeça feita num ninho!
O cheiro entranhado a transpiração acumulada assentava que nem uma luva naquele ambiente a rasar o inconcebível nos tempos que correm.
Mas há mais. O motorista, num traje absolutamente impróprio para quem presta um serviço público com um mínimo de dignidade e qualidade, seguia com os pés pregados nos pedais bem a fundo, alternadamente, ora no acelerador ora no travão, conduzindo o carro e o cliente num verdadeiro sobressalto. Não houve sinal laranja que não o desafiasse. Senti uma má disposição terrível, que nem o ar em turbilhão dentro do carro foi capaz de me ajudar.
Ainda puxei do telemóvel, claro que a fingir porque naquela loucura não seria possível falar fosse o que fosse, mas em vão. O motorista ficou absolutamente insensível ao gesto, não tendo qualquer intenção de ver interrompido o seu ambiente de trabalho.
Ao descer a Praça da Alegria olhei, inconscientemente, à minha direita para ver a esquadra da polícia, talvez pensando que o caso merecia um tratamento especial. Mas não chegou a fazer caminho essa ideia, é que tive tempo para ler o aviso que dava conta que a esquadra tinha encerrado.
Estive para fazer o que há muitos anos fiz, quando me dei conta que o motorista conduzia bêbado. Ordenei que parasse o carro no meio da Avenida da Liberdade e saí, sem ter tempo para pagar porque a coisa inverteu-se e acabei expulsa do táxi no meio de um furacão de palavrões que não seria capaz de repetir.
Como em todas as actividades e profissões há gente boa e gente má, competente e incompetente. Os taxistas não são, naturalmente, excepção. Mas incomoda vermos que continuamos a ter portugueses que não aprenderam nada ao longo das últimas décadas, porque não quiseram ou porque ninguém se lembrou de os ajudar a ser cidadãos do mundo. Negar sermos apreciados positivamente aos olhos dos outros, desconhecer o bem que é o reconhecimento, a consideração e o gosto pela atenção que os outros nos podem conceder é qualquer coisa que não deveria acontecer...
8 comentários:
Ahhh, cara Margarida, isso é falta de prática. Em Lisboa, e ao contrário de em qualquer outra capital da Europa Ocidental - mesmo Paris... -, apanhar um carro de praça é uma aventura que requer a sua preparação. Eu tenho cá umas quantas regrazinhas, na dúvida, na dúvida...
Por exemplo, apanhar carros em andamento? Nem pensar e à noite então, jamais. E não pense que apanhar carros é algo que pode ser feito em todas as praças, longe disso. Escolha as dos bons hoteis. Tendem a ser mais bem frequentadas. Depois há mais algumas pela cidade onde se pode tomar um carro mas já se requer alguma cautela mais. Na dúvida e sendo uma senhora, se não tiver nenhum hotel de 4 ou 5 estrelas por perto onde possa tomar um carro, chame a uma central que é mais seguro. E, enfim, pode sempre pedir ao motorista de praça que ande mais devagar, conduza com termos, baixe a telefonia e apague o cigarro. Estando debaixo duma central e sabendo que o cliente se não for obedecido pode reclamar com todos os dados do motorista tendem a ser mais acomodatícios. Normalmente obedecerão. Poderão fazer má cara ou resmungar qualquer coisa entre dentes. Mas isso não é problema do passageiro. Quem toma um carro de praça, toma-o para ser transportado de A a B, comodamente e sem sobressaltos. Não pela cara ou pelo humor do motorista.
Desejo-lhe melhores viagens nos carros de praça de Lisboa!
Cara Dra. Margarida Aguiar:
Sei muito bem, também por experiência própria, do que está a falar e dos nervos que lhe deve ter causado essa viagem…
De facto não se percebe como é que num país que tem serviços de fiscalização de toda a ordem e feitio (às vezes até pecam por excesso), não haja uma entidade que fiscalize e normalize esta actividade. A meu ver, é um sector que carece urgentemente de medidas que imponham algumas regras de civismo, incluindo o modo e maneira como se apresentam. Quem atende público tem de agir e estar de forma a não ferir quaisquer susceptibilidades.
Ainda há dias ao regressar de um concerto do pavilhão atlântico (supertramp 70-10), o percurso até Belém (onde tinha deixado carro), foi um autêntico sobressalto, por virtude de uma condução perigosíssima que me levou a chamar a atenção do “artista”. Contrafeito, aguentou-se, mas com maus modos, claro!.
O facto é que terminada a viagem, e fora do táxi, pensei que tinha tido muita sorte em não ter acontecido nada!
Caro Zuricher
Obrigada pelos avisados conselhos. Fala quem sabe!
Confesso que a experiência não é muita, mas tenho alguma e algumas histórias bem incríveis para contar.
Mas ainda assim não me ocorre que em pleno dia apanhar um qualquer "carro de praça" tenha que ser uma aventura bastante desagradável.
Caro jotaC
Teve sorte em o "artista" retirar o pé do acelerador. Ainda por cima à noite!
O serviço de táxi está longe de ter qualidade. A imagem é, em geral, negativa. Num País que precisa do turismo, esta actividade devia ser tratada com "pinças". Um táxi é um "cartão-de-visita"!
Cara Margarida, más experiências, muita experiencia a andar em carros de praça de Lisboa, aquele velho ditado do gato escaldado... Enfim, tudo isso tornou-me mais cauteloso! :)
Mas que má aventura, Margarida, mas graças a ela também aproveitei dos conselhos do caro zuricher, mesmo arriscando a que os motoristas de táxi que aguardam à porta dos bons hotéis não fiquem nada contentes por serem desviados dos seus clientes "naturais".
Tirando a parte do rádio em altos berros, que acredito tenha sido uma cortesia que o taxista decidiu adiccionar ao serviço, a sua viágem foi uma aventura de fazer o Indiana John's encolher-se a um canto envergonhado, cara Drª Margarida.
Mas deixe lá, mesmo com os cabelos em desalinho, devido aos solavancos e à ventania, acredito que a sua beleza e simpatia pessoal, arrasaram os restantes participantes na reunião.
Que peripécia!
Estou pronta para ouvir outra estória!
Se fosse eu nesse táxi nunca permitiria janelas abertas. Estragar o penteado é que não! : )
Cara Catarina
Conhece aquelas situações em que nada se aproveita? Se estivesse uma janela aberta, como tantas vezes acontece, teria pedido ao motorista para a fechar. Mas estavam as quatro abertas! E depois pensei no cheiro enjoativo e o que seria se as janelas fossem fechadas. Não havia ponta por onde se lhe pegasse!
Caro Bartolomeu
Simpatia sua! Ainda tive tempo de dar uma boa penteadela no meu cabelo, pois corria o risco de não me reconhecerem. Só lhe digo que a reunião estava a andar e de vez em quando tinha que me conter para não rir, só de me lembrar da minha figura metida naquele táxi!
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