Ouvindo o discurso de arranque da pré-campanha de Manuel Alegre, fico convencido: ele é mesmo o candidato certo das forças que o apoiam. O proclamatório-vazio, a insistência em habitar num edifício que ameaça ruir a cada momento, são as marcas de uma esquerda incapaz de perceber que este modelo social é insustentável, que este Estado absorve quase toda a energia da sociedade, consome boa parte da pouca riqueza criada, é incapaz de perceber que quem sofre mais com o retardamento das reformas necessárias são exactamente os mais desfavorecidos, os descamisados que Alegre, BE e uma parte do PS se dizem representantes.
No fundo, ninguém melhor do que Alegre corporiza o estado dessa esquerda tão palavrosa como vaidosa. Que teme a mudança e é por isso conservadora. Profundamente conservadora.
13 comentários:
Pois, pois, caro Ferreira de Almeida. Percebe-se a estratégia dos apoiantes do candidato, que não o sendo formalmente, anda em campanha há demasiado tempo. E a estratégia é colar Alegre ao BE e, em último recurso, ao PS. Porque não o colam também ao Partido Democrático do Atlântico? Ou à Refundação comunista, ou, ainda, ao MIC - Movimentdo de Intervenção e Cidadania? Percebe-se.
Mas muita água vai passar por debaixo das pontes.
Esperemos pelo tiro de partida do locatário de Belém, um homem cheio de convicções e inteiramente alheio à crise que nos assola. Sempre, sempre disponível para a cooperação estratégica.
Ninguém duvida que o presidente quer fugir ao debate e marcar as presidencias lá mais para diante. Mas não pode fugir...
Bem dito, caro Ferreira de Almeida.
A candidatura de Alegre é um conjunto vazio de ideias para o presente e o futuro. Ao contrário, cheio das ideias velhas que levaram à actual situação.
Só por ironia, caro Pinho Cardão! Quais são as ideias do candidato escondido nas vestes de PR, que assistiu passivamente à deterioração da situação económica e finaceira do País? ZERO!
Foram as ideias dele, Alegre, que levaram à actual situação? Dito deste modo, sem qualquer fundamentação, não passa de um palpite! Ou de uma questão de fé ou de crença...
Ó meu caro Fartinho do Silva, e eu que pensei que o post merecia a concordância de todos os fartinhos do silva!
Então dizer que a escolha das forças que apoiam Alegre é coerente, e mais do que coerente, é consequente, não merece a sua concordância?
Estratégia de colar Alegre ao BE? Estratégia de quem? Só se for do próprio Alegre e do BE que desde sempre se "colaram" nas atitudes políticas mas sobretudo no discurso.
O meu caro não deve ter escutado Alegre na intervenção a que me refiro. Nem certamente tem ouvido as prédicas de Louçã destes últimos dias- Se tivesse escutado um e outro, certamente concordaria comigo que a coincidência de pontos de vista, sobretudo quanto à conservação do que mais negativo temos no sistema, torna inquestionável o acerto da escolha.
Pode o meu caro discordar desta leitura no que respeita à escolha do PS, sem margem para deixar de apoiar o candidato que cedo soube condicionar o partido. Mas neste caso, meu caro, este PS e Alegre coincidem no quadro de ilusões. Ambos pensam que nada mudando, tudo acabará por mudar. Que os pobres deixarão de ser pobres, que o deficite desaparecerá, que as empresas públicas serão produtivas, que os serviços públicos serão eficazes, as exportações crescerão, a riqueza nacional disparará e despertaremos de repente do pesadelo do desemprego. Tudo isto à custa dos impostos e do aumento da despesa, isto é, as receitas recorrentes da governação PS.
Por isso também se me afigura ajustada a aposta do PS, apesar do amargo de boca dos seus principais dirigentes.
Quanto ao putativo candidato de que o meu caro está fartíssimo, cá estaremos para ver que responsabilidades o povo lhe vai atribuir na crise que, como bem diz, nos assola. Mas suspeito que o meu caro vai ter que mudar de nick daqui as uns tempos para qualquer coisa como hipersuperfartodosilva, ou coisa que se lhe equivalha ;)
Meu caro Ferreira de Almeida
A candidatura de Alegre, como é suposto com a generalidade das candidaturas presidenciais, surge por vontade e iniciativa do candidato.
Alegre não pediu licença a ninguém para se candidatar: apresentou-se.
Se foi apoiada pelo BE, pelo PS, pelo PDA, pela Renovação Comunista, pelo MIC, por voluntários independentes não pertenecentes a qualquer partido político, isso só prova que a candidatura é transversal. Não falo já de alguns monárquicos que a apoiam.
Sendo transversal, a candidatura de Alegre não é neutra, tem conteúdo ideológico. E este conteúdo ideológico radica no socialismo democrático (se preferir, na social democracia). Ele defende a escola pública, o Estado social, o SNS e a Constituição da República. É sempre pouco avisado deitar os foguetes antes da festa.
Oh Fartíssimo do Silva, fiquei sem palavras!...
Este blogue está a especializar-se na superior arte da ironia. Esta de considerar que Alegre, BE, PDA, MIC, comunistas renovados, monárquicos e independentes estão unidos pela causa da social-democracia é ironia do mais fino que por aqui tenho lido. Parabéns, caro Fartinho. Uma autêntica lição.
JM Ferreira de Almeida fez de conta que não entendeu. É lá com ele. Deixo-lhe apenas uma pergunta: como foi possível a vitória de Soares em 1986?
Todos entendemos, caro Fartinho.
Quanto a 1986 tenho a minha leitura. Mario Soares, se não o fez, deve agradecer a vitória a António de Almeida Santos que se sacrificou para atrair sobre si as consequências da impopularidade da governação candidatando-se a 1o ministro e assim fazendo esquecer quem tinha sido o responsável pelo IX governo constitucional. Não foi certamente em nome da social-democracia ou do socialismo democrático que Soares venceu essas eleições pois, se se recorda, meses antes tinha declarado solenemente que o arrumara numa gaveta.
Eu nunca disse que Sores ganhara em nome da social democracia nem que Alegre, se ganhar, seja também em nome do socialismo democrático. Que esta é a matriz ideológica do seu pensamento (Alegre), tenho isso como indiscutível. O que quis dizer - e julgo que fui claro - é que várias correntes de pensamento que não se identificam com o socialismo democrático/social democracia convergem ou podem convergir em um apoio (votos) do candidato em questão (como foi o caso de Soares). Por outros palavras: o voto pressupõe uma escolha racional. Se a opção for entre um candidato que é suposto ser portador de um perfil conservador e outro candidato de perfil menos conservador, que defenda o Estado Social, o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública e a Constituição da República, além da dimensão cultural que separa de forma abissal os dois candidatos em condições de disputar a vitória, é perfeitamente lógico que diversas correntes de pensamento, que não só a social democracia/socialismo democrático, convirjam nessa candidatura como forma de escolher, entre ambas, aquela que lhes ofereça maior grau de fiabilidade.
Caro Fartísimo do Silva:
O que é preciso é defender que todos tenham o mesmo direito à educação e que a escola não seja discriminatória. Logo, o direito à livre escolha. Pobre ou rico deve ter livre escolha da escola. Assim, defender escola pública é um anacronismo nos nossos dias.
Caro Pinho Cardão
Defender a escola pública não é anacronismo nenhum. Anacronismo seria, por exemplo, proibir a escola privada. Estudei sempre em escolas públicas e não estou arrependido disso. Vou terminar pois está a falar na SIC N o Senhor da Causa Monárquica, aposentado aos quarenta e poucos anos com 37.500 dele, mensais.
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