1. Recuperando uma nobre tradição aparentemente esquecida há mais de um ano, a Itália parece de novo lançada numa crise política, desta vez com a iniciativa do PDL, força política ainda liderada por Silvio Berlusconi, de retirar o apoio ao governo de Mario Monti.
2. Foi em Novembro de 2011 que a Itália, à beira de uma crise financeira de proporções difíceis de imaginar (e de gerir) para a zona Euro, assistiu à queda voluntária do governo Berlusconi, dando lugar a um governo tecnocrático, não eleito, chefiado pelo ex-comissário europeu Monti, que de imediato lançou um programa de reduções da despesa pública e de agravamento de alguns impostos (nomeadamente sobre a propriedade), visando reduzir o défice público e, sobretudo, travar o crescimento da dívida pública que se aproximava de 130% do PIB.
3. A política do governo de Monti teve o condão de convencer os mercados, do que resultou uma redução, superior a 200 pontos base, das taxas de juro implícitas na cotação da dívida pública italiana desde que o governo iniciou funções, o que permitiu que a Itália se passasse a financiar no mercado sem dificuldades de maior, a taxas de juro bem mais favoráveis, sobretudo a partir do momento em que o BCE anunciou o seu novo programa de compras de dívida pública (ainda não activado, é certo).
4. É claro que as medidas restritivas arrefeceram a actividade económica, tendo a economia italiana entrado em recessão, não muito profunda é certo mas em qq caso geradora de alguma contestação social para um País habituado a uma certa “dolce vita”, maxime no que respeita aos hábitos de despesa de um magnífico sector público.
5. Todavia, o governo Monti nunca deixou de ter apoio parlamentar, das principais forças políticas tanto de centro-direita como de centro-esquerda, para as medidas razoavelmente impopulares que pretendeu adoptar ao longo deste período de pouco mais de 1 ano.
6. A contestação à política de Monti, considerado demasiadamente macio em relação às orientações restritivas da zona Euro em matéria orçamental, teve agora um episódio “inesperado”, com o anúncio da retirada do apoio do partido de Berlusconi, o que levou Monti a anunciar a sua saída logo após a (esperada) aprovação do Orçamento para 2013, o que quer dizer que a Itália terá de ir a eleições lá para Fevereiro.
7. Berlusconi entende (agora) que a Itália não se deve conformar com a política de austeridade que Monti tem protagonizado, sendo necessário adoptar políticas amigas do crescimento e, se necessário, bater o pé à Alemanha – ou seja o primado do Crescimentismo (crescimento sem dinheiro, para os que não conhecem a expressão).
8. Claro que a reacção dos mercados não se fez esperar e hoje as taxas de juro da dívida italiana e não só estão de novo a subir; veremos quanto e até quando, bem como os danos colaterais em Espanha e em Portugal (a Grécia não precisa), a procissão ainda vai no adro...
9. Limito-me, por agora, a registar este excelente reforço, de Silvio Berlusconi, para o “dream team” do Crescimentismo...sabendo-se do enorme prestígio que Berlusconi goza junto dos Crescimentistas lusos, nomeadamente dos que se situam mais à esquerda, creio que terão motivos para festejar ruidosamente este reforço!
19 comentários:
O grande Silvio Berlusconi goza de um grande prestígio em todo lado. Se alguém quer ser um governante trafulha que o seja com Silvio Berlusconi. Os resultados são catastróficos como em qualquer lado mas ele mostra como é bom ser primeiro-ministro.
Quanto à aliança entre crescimentistas, espero com ansiedade o encontro entre Berlusconi e a parte feminina e poética da coordenação do Bloco. Seria uma encontro histórico.
Esperava-se, depois dos valores de recessão (-3,5% do PIB) divulgados pelo INE, que o ilustre TM, depois das previsões que fez (há seis dias apenas)no seu post que transcrevo “poderemos estar defrontados com um impressionante virar de página no desempenho da economia nacional e com o que se poderá então chamar o "triunfo" do Programa de Ajustamento...” viesse justificar o colossal erro das suas previsõs (que só vêm confirmar o total alheamento, da realidade económica do país em que vivem os opinadores seguidores das políticas do governo). Mas não. Opina-se agora sobre a situação da Itália e de como o prevísivel não alinhamento de Berlusconi ao pensamento único,pode causar de nefasto à Itália, com essa nova divindade do credo neoliberal, os mercados, a anunciá-lo desde já.
Dessa só o Tonibler se lembraria!Dará chispa, com toda a certeza!...
Caro Carlos Sério:
Sem pretender substituir-me ao Dr. Tavares Moreira, e porque acabei de ouvir na rádio, o Relatório da OCDE prevê hoje que o PIB português recomeçará a crescer nos próximos 6 a 9 meses.
Acho, quero querer que todos achamos, uma excelente notícia (excepto para os que só gostam dop pior)que confirma as estimativas do governo português e da Troyca.
Caro Pinho Cardão,
compreendo a sua solidariedade para com o TM.
Contudo o que o que afirma em nada invalida o meu comentário.
A OCDE lá fará as suas contas mas infelizmente estou muito céptico em relação a elas.
Caro Tonibler,
Os encontros de Alto Nível que sugere serão à porta fechada? Julgo fundamental esse esclarecimento, nomeadamente por razões de tranquilidade pública...
Caro Carlos Sério,
Porque se mostra tão marfado (expressão tipicamente algarvia)comigo pelo facto de Berlusconi ter resolvido associar-se ao (Dream) Team dos Crescimentistas?
Não me parece justo da sua parte, posso garantir-lhe que não contribuí em nada para que o fogoso e talentoso político italiano tivesse tomado esta ousada mas esclarecida decisão!
Acho até que o Senhor, se é na verdade um zeloso Crescimentista (se não for diga-me que corrijo), deveria rejubilar com o facto e não mostrar-se tão indignado!
Quanto às previsões que menciona, rubicundo, não se esforce tanto em desmentir-me porque não vale a pena: as previsões são do BdeP, não são minhas!
Como certamente reparou - se já se esqueceu também não lhe levo a mal - eu tive o cuidado de referir que se tratava de previsões do BdeP, eu não sou "forecaster".
Caro Pinho Cradão,
Bem lembrada essa referência aos indicadores avançados da OCDE, tanto mais que os Crescimentistas lusos costumam atribuir enorme merecimento às previsões da OCDE...
Ou talvez deva dizer "costumavam", em vez de "costumam", na medida em que a OCDE tinha sido até agora mais pessimista...
É provável que a partir de agora também comecem a estigmatizar as previsões da OCDE (vidé a reacção bem pouco amistosa do nosso muito estimado Carlos Sério) se passarem a ser menos pessimistas...
Não há dúvida que até por aqui há os "profissionais" do derrotismo "assegurado"!
Dr. Tavares Moreira
O Senhor Berlusconi já foi eleito, se a memória não me falha, por três vezes. A próxima campanha eleitoral será um teste ao realismo dos eleitores italianos...
Caro Tavares Moreira,
à porta fechada, pelo critério Berlusconi de porta fechada...
Caro Tavares Moreira,
Eu ainda gostava de perceber como se pode pagar uma divida publica de 130% do PIB sem Crescimentismo ?
Talvez conseguir que todos os paises exportem ?
Estamos a entrar no terceiro ano de Austerismo na U.E. e os resultado são muito maus !
A experiência de Monti, e a desgraça do bloco central refinado pelo socialista Sócrates, ainda há dias me fazia lembrar a do PM Nobre da Costa.
Onde é que isto já vai, tentar governar libertos da bovinidade partidária.
Se a previsão da OCDE se verificar, o Exmo PR bem poderia pensar em condecorar os nossos rapazes do TribunalC. Era bem feito.
Um Berlusconi lá, um Seguro cá, quem sabe não teremos uma UniãoE
brevemente Crescimentista.
A bem do Regime.
Cara Margarida,
Muito bem observado, sim senhor, mas como sabe há quem nunca seja capaz de aprender, por muito repetida que seja a lição...
Caro Tonibler,
Esclarecido, mas não menos preocupado...
Caro Paulo Pereira,
Exactamente por isso é que Berlusconi se rebelou contra a política de Monti/Merkel, importa mostrar despreocupação em relação
ao crescimento da dívida pública, o importante é reconhecer o primado do outro Crescimento!
Não me diga que não está do lado de Berlusconi, que não posso acreditar!
E porque não prefere citar o Austeritarismo em vez do Austerismo? É bem mais sonoro e sugestivo!
Caro BMonteiro,
Depois desse comentário, só falta mesmo tocar o Hino!
Caro Tavares Moreira,
O problema deve ser meu mas não entendo como se pode sair de uma crise económica deste calibre com Austerimos .
Sobre o valor da divida publica italiana ou de outro pais, nada que não se resolva reduzindo os juros da divida para 1% ou menos e um crescimento do PIB de 2% ou mais.
Caro Paulo Pereira,
E coimo se faz isso? Será por decreto-lei, implementado por um luzido grupo de burocratas? Ou, mais plausivelmente, nomeando Ministro da Economia o Senhor Luís de Matos?
Qual das soluções partilha - não excluo que haja uma terceira via, como em tudo, mas confesso que a desconheço
O problema é mesmo meu, não nego (e nisso dou-lhe razão), mas o ilustre Comentador poderia dar-me ao menos uma pista...seria uma gentileza pela qual lhe ficaria muito grato.
Caro Tavares Moreira,
Como sabe o PIB = G + C + I + X - M
Para aumentar o PIB é preciso aumentar o G, ou o C ou o I sem aumentar o M.
Eu aconselharia o governo Italiano a aumentar o I com uma descida em 50% do IRC e da TSU nas empresas que criassem empregos liquidos.
Se não resultasse desceria esse IRC e TSU em 70%, e assim sucessivamente até zero.
Depois desceria o IRS sobre rendimentos de juros e dividendos para 10% para quem mantivesse o capital durante 4 anos na Italia.
Caro Paulo Pereira,
Já deu para entender razoavelmente como emncara e se propõe resolver o problema económico português: é "pegar" na fórmula de calculo do PIB e começar a mexer nas variáveis, no conforto de um sofá...e tudo aparece solucionado!
Como eu dizia: fácil, simples e barato, nesse Universo ideal!
Um privilégio, pena que reservado em exclusivo para pessoas simpáticas e bem informadas como o ilustre Comentador!
Caro Tavares Moreira,
O problema económico português e italiano só se resolve com crescimento económico, como sempre foi.
O crescimento económico, ou seja o crescimento do PIB consegue-se com mais investimento , mais consumo, mais exportações como sempre foi.
Insistir na ideia Austerista é ilógico.
Caro Paulo Pereira,
Mas o Senhor, ao dizer isso, que merece todo o meu aplauso devo confessar, limita-se a exprimir uma tautologia...o problema não é dizer isso, o problema é como fazer isso!
Qualquer cidadão é capaz de dizer a mesma coisa, isso não está nem esteve em causa, o que está em causa é saber que condições temos de preencher para conseguir fazer a economia crescer.
Acha, por exemplo, que seria possível continuar a crescer com a economia totalmente desequilibrada - ou seja em processo contínuo de endividamento ao exterior - sem termos ninguém disponível para nos financiar?
Não lhe parece um tanto "louco" tal cenário?
A mim, sinceramente, parece-me, por isso não o subscrevo e muito menos o recomendo...
Caro Tavares Moreira,
a) sem primeiro assumir que é o crescimento económico e não a quebra do PIB que vai tirar Portugal e Itália da crise não é possivel chegar às politicas económicas correctas.
É um erro crasso prosseguir com o rumo actual.
b)o crescimento económico, ou seja o aumento do PIB, faz-se "puxando" pelo Investimento, pelo Consumo e pelas Exportações e pela substituição das Importações
c) Não existindo politica cambial , resta a politica fiscal , politicas de incentivos adequadas, politicas de crédito "bonificado", politicas de investigação e inovação e politicas de compras preferenciais.
d) Estas politicas têm de ser de uma dimensão tal que compensam a quebra do Investimento e do Consumo .
e) Este governo é uma lástima no que respeita a este tipo de politicas.
f) Os erros dos governos passados não podem ser desculpa para a inércia e para a teimosia ilógica.
g) Reduzir impostos sobre as empresas e reduzir impostos sobre as aplicações de médio prazo de capitais são indispensáveis.
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