Afinal o Governo não vende a TAP ao senhor Germán Efromovich. Invocou como razão não se encontrar suficientementemente demonstrado que o grupo interessado obteria as garantias financeiras correspondentes aos fundos propostos mobilizar para toda a operação (encaixe líquido para o vendedor, cobertura dos passivos e reforços do capital social). Sabe-se que a efetividade das garantias só era exigida no momento da formal vinculação a um enredo contratual, regra que, na maioria dos casos - diz-me a experiência, que é alguma - deixaria confortável o Governo se outras razões, porventura de maior peso, não existissem recomendando o exercício do direito não vender o que se anunciou. A meu ver foi uma decisão sensata. Outro desfecho correria o sério risco de se transformar num caso muito desconfortável para o Governo e um novo fator de desestabilização política num momento em que continua a ser crucial que o Executivo conserve pelo menos níveis mínimos de solidez. O facto de não haver verdadeira competição, os boatos que foram postos a circular sobre conversas prévias entre governantes e o interessado, a informação prestada pelo Tribunal de Contas de que não procedeu ao acompanhamento do procedimento e a pouca clareza da informação que deliberadamente ou não foi sendo veiculada pelos media, contaminaram o processo e lançariam uma terrível dúvida sobre a sua lisura caso a decisão tivesse sido outra. As constantes entrevistas do senhor Efromovich ajudaram a adensar a sensação de desconforto, e por isso sinto que o Governo andou bem deliberando o que deliberou, suspendendo o processo e prometendo rever o método. E a revisão do método é essencial, não só para este processo de privatização como para outros onde as mesmas dúvidas se vão instalando.
Curiosa - ou não... - foi a reação dos que um dia antes antecipavam o escândalo e exigiam que o Governo recuasse na intenção de vender a TAP a quem apareceu a comprá-la. Tendo o Governo cedido à "exigência", apareceram, tristonhos e de sobrolho franzido, a dizer que a coisa trazia água no bico. Haja paciência!
12 comentários:
...tudo razões para se empandeirar aquilo com urgência! Pelo menos poupava-nos ao discurso da trapalhada vindo de quem nunca mexeu uma palha na meretriz da vida. Só isso já deve valer bem uns quantos Airbus...
Por acaso fiquei confuso com a explicação que o Sec. Estado deu para a não efectivação do negócio.
Se o problema era a falta de apresentação das garantias naquele preciso dia, o conhecimento que eu tenho é de que as mesmas costumam ser apresentadas com a aceitação da minuta do contrato e, ao que parece, ontem não era para tratar isso...
Ora toda a gente sabe que uma garantia custa muito dinheiro e ela nunca poderá ser feita antes da minuta do contrato...
Também pode ter a ver com o interesse atrasado de um concorrente adicional que andou pela TAP a recolher informação DEPOIS do a desistência de alguns interessados e cujo nome até é parecido com o da TAP. E que o PCP não será contra!
"Invocou como razão não se encontrar suficientementemente demonstrado que o grupo interessado obteria as garantias financeiras correspondentes aos fundos propostos mobilizar para toda a operação"
Mas essa insuficiência era conhecida antes do agendamento da decisão. Não se tornou evidente apenas em reunião de conselho de ministros.
Por que foi agendada, criando à sua volta uma expectativa antecipadamente abortada?
O mais provável é que tenham dado pela falta de outra peça no momento do takeoff.
Penso eu, mas não sou piloto.
Talvez por aí, caro Rui Fonseca...
Meus caros, qualquer que tenha sido a razão real, parece-me prudente a decisão. Volto a dizer, a venda, atento o acumulado de perturbações, essa sim iria gerar mais uma enorme trapalhada.
Por outro lado parece-me também que o Governo terá aprendido algo com este processo, e esse conhecimento pode muito bem ser importante para que outros processos de privaização - e mesmo o da TAP quando for considerado oportuno retomá-lo - não sofram com o ambiente de boataria e com a histeria que se gera ao redor destas decisões, ambiente que bada tem que ver com a defesa do interesse público, mas com o interesse de grupos em disputa. Estou sim a pensar na RTP...
Completamente de acordo com o post e com este último comentário, caro Ferreira de Almeida.
Quanto ao resto, bom, é-se sempre preso por ter cão ou por não ter cão.
É a vida!
Caro JMFA,
A defesa do interesse público faz-se poupando dinheiro ao público. Esta decisão é manhosa, vai-me custar mais um balúrdio e vai dar em porcaria com M grande como todos os processos anteriores em que se esperou para ver. Deviam ter vendido aquilo logo, até porque dado também não era assim tão mau.
José Mário
Uma pergunta fica por responder. Porque só apareceu um comprador? Partindo do princípio de que era efectivamente um potencial comprador, há quem diga que não.
Há um aspecto que é incontornável: vender o que quer que seja com a corda na garganta não pode acabar bem. Sem tempo, sem margem de manobra de gestão, sem capacidade de negociação e sem compradores em concorrência a missão era (e é) difícil.
Prudente prudente,
parece ser a forma como o Gov, este Gov, estudou, preparou e lançou tal venda.
Parece terem falhado or grandes escritórios de advogados do regime.
Aliás e á semelhança do caso RTP, a táctica promete.
Parece estarem a seguir o Sporting.
Não se acerta uma.
Mas afinal,quem privatiza o quê?
O Borges das privatizações? O Relvas da presidência? O Álvaro da economia?
Força Gaspar.
Se tivessem aceite a proposta e se soubesse que as garantias bancárias não foram entregues (pelos vistos as mesmas eram um documento de habilitação), hoje teríamos um escândalo por não se terem cumprido as regras, seria um "favorecimento escandaloso", que bem se dizia que o Sr. da América do Sul era "amigo do Relvas", etc.... não há pachorra para este País e a forma como os assuntos são tratados mediaticamente.
http://jornalismoassim.blogspot.pt/2012/12/isabel-jonet-um-dano-colateral-na.html
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