1. Conheço apenas pelos relatos da comunicação social as possíveis razões para a demissão voluntária do Doutor Nogueira Leite das funções que exerceu até agora no CA da CGD: nuns casos fala-se em divergência quanto à estratégia de negócios; noutros, de dificuldades com a Tutela; noutros ainda, de problemas de gestão interna relacionados com a denúncia de práticas irregulares nunca devidamente esclarecidas.
2. Seja qual for a razão, considero digna de especial registo a atitude assumida pelo Doutor Nogueira Leite, pelo simples facto de ser bastante rara: hoje em dia as pessoas que ocupam lugares deste tipo quase nunca saem pelo seu pé, pelo contrário resistem até onde podem para manter o lugar, movendo todas as influências possíveis para o efeito.
3. Recordo-me de que há cerca de 20/25 anos a situação era bem diferente, este tipo de atitudes era bem mais frequente: as pessoas que exerciam funções de alta responsabilidade em instituições públicas, nomeadamente no sector financeiro, eram capazes de deixar os seus lugares quando entendiam que as orientações não eram as que lhes pareciam mais adequadas ou quando se sentiam pessoalmente menos bem tratadas.
4. Hoje em dia assiste-se a uma atitude generalizada de grande conservadorismo no desempenho destes lugares, está instalado um tipo de carreirismo em que tudo se suporta em nome da preservação do lugar e quase ninguém arrisca uma atitude de independência e desprendimento como esta que agora testemunhamos.
5. Não deixa de ser curioso que este conformismo se estende ao conjunto da sociedade que se organiza em torno do poder, em diferentes níveis como os anéis de Saturno: repare-se no reduzidíssimo eco que a atitude do Doutor Nogueira Leite acabou por ter, já ninguém fala na sua saída por muito importantes que tenham sido as razões que a determinaram...
6. E a própria comunicação social, que neste tempo e com tanta frequência gosta de se mostrar crítica acérrima das orientações da política económica – normalmente sem fundamento, valha a verdade - neste tipo de assuntos opta por uma grande discrição, vestindo o uniforme cinzento da grande maioria...
7. Por tudo isto considero que a atitude de Nogueira Leite, sem curar agora de avaliar as razões que a determinaram até por não as conhecer suficientemente, é merecedora de uma nota especial de apreço, pelo desprendimento e pela independência de espírito que revela, contrastando com o conservadorismo e apego ao lugar que se tornaram apanágio da grande maioria neste nível de responsabilidade do sector empresarial do Estado.
18 comentários:
LOL
E quando é que o homem vai abandonar o país, como prometeu?
Sem me importar com as razões - em tempos as que NG invocou chocaram-me - subscrevo inteiramente o post na parte em que sublinha a raridade de situações como estas. São do meu conhecimento pessoal casos de personalidades que permanecem no lugar, dando execução a estratégias e seguindo diretivas e orientações de que frontalmente discordam, assumindo a responsabilidade por elas apesar de não se coibirem de publicitar a discordância. Estranha forma de estar, ou mesmo estranha forma de ser.
Não me impressiona...
Dr. Tavares Moreira
Subscrevo o realce à atitude de António Nogueira Leite.
A independência de espírito é uma característica pouco apreciada, muitas pessoas não são escolhidas ou seleccionadas para ocupar cargos de gestão pública por causa justamente da sua independência.
Concordo inteiramente com a opinião do caro Dr. Tavares Moreira. Esse grande valor que é a independência, reflecte a integridade de carácter e não se coaduna com subjugações a "ideologias" que colidem com valores de ética e de moral.
Se esta postura fosse de uma form mais generalista e assidua, observada, defendida e estimulada, melhor andaríamos em muitos sectores desde a economia à política, passando pela finança.
Nao conheco a pessoa. Nao imagino as razoes. Sei das razoes pelas quais o prof Nogueira Leite foi para vice da CGD: É do PSD. A demissão deve ser elogiada tal como a nomeacao deve set encarada como estranha, numa altura em que se entende qie à conta deste ripo de nomeacao o banco deve conter um buraco muito respeitavel. Que, curiosamente, nao foi apontado como uma possivel causa ds demoissao e que me parece a mais provavel.
Nao conheco a pessoa. Nao imagino as razoes. Sei das razoes pelas quais o prof Nogueira Leite foi para vice da CGD: É do PSD. A demissão deve ser elogiada tal como a nomeacao deve set encarada como estranha, numa altura em que se entende qie à conta deste ripo de nomeacao o banco deve conter um buraco muito respeitavel. Que, curiosamente, nao foi apontado como uma possivel causa ds demoissao e que me parece a mais provavel.
Caro Ferreira de Almeida,
Inteiramente de acordo, julgo que se pode mesmo falar de um déficit muito acentuado de coluna vertebral no que respeita a uma significativa maioria de pessoal das altas instâncias e esse será um dos grandes males do País...
Uma generalizada complacência perante desvios graves de política que comprometeram seriamente o futuro do País, facilitou enormemente a tarefa de destruição...
Caro Carlos Monteiro,
Está no seu pleníssimo direito de não se deixar impressionar, este Post também não foi escrito para impressionar ninguém, é apenas e tão somente um testemunho de apreço...
Cara Margarida,
Ora aí tem outra face desta triste realidade...creio que desde há um bom par de anos passou a ser regra nestas escolhas um exame prévio à coluna, ficando quase sempre mal classificados os que mostram uma estrutura demasiadamente vertical...
Caro Bartolomeu,
Ora finalmente estamos de acordo, tinha de acontecer antes do final do ano e aconteceu mesmo!
Caro Tavares Moreira, é o outro que não me impressiona. Com o post fico sempre impressionadíssimo. Subscrevo aí as palavras do camarada Toni.
Caros Tonibler e Carlos Monteiro,
O formulário que aduzem até merece ser ponderado, em condições normais, tanto no que se refere a nomeações para cargos de responsabilidade empresarial (pública) como para aprestação de serviços ao Estado (em sentido amplo).
Acontece que, na singularidade deste caso, até esse factor parece favorecer a pessoa em causa e valorizar a atitude: a independência de pensamento e de interesses, falou mais alto que a conveniência ou fidelidade partidária...
Sim, parece que agora sim.
O Post refere-se explicitamente ao agora, não ao antes, caro Tonibler...sendo assim...
Se a razão foi aquela que suspeito ter sido, então alguém que foi nomeado politicamente não pode sair sem dizer as razoes. O accionista do banco sou eu, não é o Gaspar. É a mim que a lealdade é devida, não é ao PSD, não é ao governo. É a mim. Para ter um bandeira no Parlamento a ser interrogado sobre o BPN e responder " sobre a caixa ninguém diz mal de mim" a indicar que andou a parquear divida manhosa da caixa na Parvalorem, é porque a demissão envolve algo muito mais grave que ter um político a ganhar um ordenadaço. Anda por lá um buracão, o homem saiu para não ser envolvido naquilo mas calou-se. Se fosse um profissional da banca, nomeado por causa do currículo, era o menos. Sendo de nomeação política, ser nomeado pelo accionista que sou eu e defender os interesses do governo ou dos funcionários da caixa, isso já não tem nada de nobre.
A nobreza da atitude não é independente das razoes. Quando as nomeações eram feiras entre profissionais do mercado, sim, poderia-se dar o caso. Assim não.
Nomeações no mercado deve ser um conceito novo...
Não é um conceito novo. Já viste aalguma nomeação para a administração de um banco de alguém que não perceb nada de finanças? Alias, não podes nomear qualquer pessoa para a administração de um banco, como sabes, de acordo com o banco de Portugal ... Logo esses...
Caro Tonibler,
Não lhe nego a qualidade de accionista da CGD, mas por favor não se esqueça da minha parte alíquota!
Também tenho ajudado para este peditório, involuntariamente, dividendos nem vê-los, uma trituradora de fundos públicos não faria melhor!
E quando por lá andei, já lá vai um bom par de anos, a CGD era um dos principais fornecedores de dividendos para o Estado; e nunca pedindo, que me recorde, qq reforço de capital...
Outros tempos, alguns dirão que eramos parvos...
Então, caro Tavares Moreira, deverá estar mais assustado que eu com esta demissão e, principalmente, com o silencio a ela associado.
Nesse capítulo crei poder dizer-se que estamos perfeitamente solidários, caro Tonibler...fiscalmente solidários, deverei acrescentar...
Enviar um comentário