Há desejos que só são satisfeitos ao fim de muitos anos,
décadas por vezes. Passei imensas vezes por aquele local, um velho solar, cheio
de encanto e de mistérios. Atraiu-me desde que o vi pela primeira vez, foi há
tanto tempo que já me esqueci. Gostava de ver o seu interior, mesmo que
abandonado, decerto encontraria paredes mortas, cheias de vida e ricas de
histórias, e tetos em decadência, pintados, ornamentados noutras épocas por
mãos criativas e espíritos doces, épocas em que o tempo corria de maneira
diferente, no silêncio dos encantos da natureza.
Num pequeno jardim, outrora bem cuidado, convidativo ao
descanso e à meditação, vi ao canto uma fonte, descuidada, triste e seca de
águas. Aproximei-me e imaginei o fantasma da água a correr, suave, timbrada,
fresca e sensual. No frontispício um pequeno painel de azulejos chamava-me
ansiosamente. Ouvi dizer, vem cá, lê-me e mata a minha sede. Li em voz baixa e
depois em voz alta. Consegui prometer-lhe que em breve irá ressuscitar para
cantar, tranquilizar, embelezar, matar a sede do corpo e a fome da alma.
Ficou feliz.
2 comentários:
Há quem chore de alegria.
Apesar de belas, penso que as duas quadras, ao referir-se à fonte, estariam talvez mais em harmonia com "cantar" no lugar de chorar.
No entanto, com a substituição, manter-se-ia a rima e, o sentido lógico não seria perdido, dado que, é perfeitamente possível orar-se cantando, e da mesma forma, cantando, podemos penetrar nos grandes mistérios, da vida das fontes.
;))
As fontes despertam sentimentos...gostava de os descrever assim.
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